ERA MANHÃ e o sol brilhava lá fora, meus olhos vagavam pelo cômodo simples do hotel. Estiquei meu corpo na cama de solteiro, os olhos se fechando e um gemido estrangulado saiu de mim. Acordar e espreguiçar era um dos meus prazeres na vida. O corpo estralando e o alívio imediato. Não havia nada melhor, além de tomar um bom chocolate quente.
Abri os olhos mais uma vez para constatar que meus dois companheiros de quarto já haviam levantado. Alessandro e Thomaz não pareciam incomodados em compartilhar uma cama ontem, apesar de que Thomaz estava revezando com os outros rapazes, como Nico, na vigília noturna. Eu não me incomodei, pelo contrário, parecia certo estar com eles novamente, a segurança de dormir próximos a eles era algo que não sentia há anos. Não posso dizer por eles, afinal, entre nós três, eu mudei muito.
Meus pés tocaram o piso gelado, um arrepio percorreu meu corpo, um que não era muito bom. Saltei sobre os pés em direção ao banheiro, empurrando a porta semiaberta com o quadril, minhas mãos tatearam dentro do box até encontrar o que procurava, liguei o chuveiro, a água caiu rapidamente contra os azulejos e a fumaça subiu me fazendo tirar a roupa com excitação. Um banho quente para começar o dia, e foda-se que Brasília já era quente, eu não me importava com aquilo, eu amava tomar um bom banho quente.
Hoje se encerrava um ciclo e começava outro. Finalmente iria sair de um trabalho que lutei para amar, que era estressante, mas rendia um bom salário. Não valeu a pena, olhando para trás, eu nunca deveria ter cedido as minhas vontades para minha mãe.
Ri comigo mesma. Inclinei a cabeça, a água escorreu por meus cabelos, os dedos massagearam o couro cabeludo e eu estava sorrindo como um boba por tomar um banho decente. Os jatos eram intensos, reconfortantes e incríveis. Eu gostaria de um chuveiro assim em minha casa.
Bufei, eu não tinha mais uma casa.
Shampoo, máscara para cabelo e condicionador para encerrar os cuidados em meus cachos. Era engraçado toda vez que me olhava no espelho quando lavava o meu cabelo. Ele seco possuía um volume bonito e cachos abertos, mas ele molhado me fazia parecer um rato, como um lulu da pomerania.
Eu não gostava de usar difusores, as pontas sempre ficavam secas e quebravam com facilidade. Estremi com a lembrança. Então, mesmo que minhas camisas e vestidos ficassem encharcados com o meu cabelo, era muito melhor vê-lo secar naturalmente do que seco e quebradiço com um secador e difusor.
Ossos do ofício, eu diria. Fiz uma careta enquanto me enrolava na toalha e encarava meu rosto, apesar do tapa bem dado de minha mãe, não ficaria marcado, mesmo que eu estivesse olhando para uma pequena linha em minha bochecha.
Segurei o creme de pentear para cachos, e calmamente, como se tivesse todo o tempo do mundo, separei meu cabelo por partes e mecha por mecha passei o creme e o finalizei com o dedo. Os cachos bonitos eram feitos, naturalmente não existiam. Ele era uma bagunça ondulada, se eu o deixasse sem um bom creme, coisa que eu não gostaria de mostrar a ninguém.
Não era uma questão de vergonha, mas eu amava fazer os meus cachos, era como separar um tempo para cuidar de mim.
Com os cachos prontos e molhados, segui para fora do quarto, congelando ao encontrar Thomaz jogado de qualquer jeito na cama grande. Um braço estava dobrado acima da cabeça, enquanto o outro pendia para fora da cama, as pernas bem abertas e a ponta dos pés para fora. Eu não esperava que ele retornasse, se eu tivesse a mínima noção não teria deixado minhas roupas dentro da mala ou espalhada em algum canto do caralho.
Thomaz estava com os olhos fechados, a boca levemente aberta e um som suave saindo de seus lábios, ou seja, roncando como um filho da puta. Deveria agradecer por não ouvi-lo a noite, mas devo considerar que seu turno nos vigiando havia sido extenso e ele está apenas cansado o suficiente para se comportar dessa maneira.
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Em Nome da Família
RomancePENSEI QUE seria capaz de fugir da minha família, acreditei que se desaparecesse eles iriam se esquecer de mim e não seria afetada pela realidade irreal das coisas. Bom, meu avô conseguiu me arrastar de volta através do sangue. Recebi uma carta escr...