Inverno

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Devastada, Walburga vagou pela Terra, abraçada às velhas flores, levando sua tristeza para todas as cidades e reinos

Plantações inteiras murchavam quando passava e mais, e mais, seres pereciam com a falta de alimento

Mas não lhe era foco

Seu filho fora tirado de si

O queria de volta

Mas não sabia com quem ele estava

Regulus passaria a mesma coisa que ela passou — soluçara de imediato, assustada com tal possibilidade

Sua tristeza tornava-se lágrimas cristalizadas ao caírem na terra, cobrindo o chão e fazendo as folhas das árvores caírem

Buscava seu filho, seu pequeno e precioso Regulus

Vagara por dias e semanas, sem deixar de chorar

Seu descuido resultou no desaparecimento do rapaz

Não poderia se perdoar

Por toda a eternidade estaria ali, se culpando

Sua expressão exausta e culpada estava desgastada, velha e enrugada. Seus poderes murchos como a vida de seu corpo sempre tão esbelto

Incapaz de voltar para o Olimpo e deixar seu filho só nós quatro cantos do mundo, Walburga seguiu por inúmeros reinos

Buscara abrigo em palácios, templos e casas. Conviveu com famílias, sacerdotes e criados

Mas uma coisa estes lugares tinham em comum

Crianças

E doía seu coração ver todos ali felizes com seus filhos. Enquanto ela sofria pela perda do seu

Mas não pararia. Encontraria seu filho

Caiu ajoelhada na neve macia e fria, gritando de dor novamente. Sua culpa e falta doíam tanto em seu coração que, caso não fosse imortal, a deusa sentiria que poderia falecer

Se curvou sobre a neve, soluçando ao apertar as flores contra seu peito

Fora tirada aquilo que mais amava. Seu pequeno pedacinho de alegria. Seu único pedaço de alegria

Ouvira passos na terra, e ergueu o rosto manchado de sua dor — sujos de uma maneira que a deusa jamais deixaria acontecer

A mulher que a encarou de volta tinha cabelos crespos tão armados que ela parecia um dos leões da mãe Reia. Seus grandes olhos curiosos eram enevoados, totalmente brancos, horripilantes

Suas roupas eram simples, que serviam para a aquecer naquele frio intenso — um xale sobre seus ombros magros e curvados, roxo como seu vestido. A coroa de prata decorava seus cabelos armados sob o véu suavemente posto na frente de seu rosto. A coroa possuía três das quatro fases da lua, uma pequena chama brilhando acima da lua cheia, azulada e pálida como a pele da mulher

Walburga abaixou o olhar para os pés da clara deusa, sem forças para parecer orgulhosa naquele momento

A mulher, que carregava uma tocha com a mesma chama azulada, a ofereceu a mão

E a deusa em luto aceitou sua ajuda

A outra deusa a ajudara em seu caminhar cambaleante, a levando para dentro de uma caverna próxima ao local escolhido como ponto de descanso da deusa das plantações, que estava tão exausta de sua tristeza e saudade

E, ao ver a cama simples da outra deusa, Walburga se permitiu descansar

Dormira por três dias exatos, um descanso perturbado, onde fora visitada pela deusa que cuidava dela. A mulher de cabelos cheios sempre cantava baixinho, a mostrando o passado

O deus da primaveraOnde histórias criam vida. Descubra agora