Capítulo 2

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A primeira coisa que senti ao pisar fora da estação foi o cheiro dos limões. O ar de Esperança tinha uma mistura única de frescor cítrico e terra molhada. Logo à frente, entre a estação e os campos que se estendiam até o horizonte, avistei um homem esperando com uma expressão tranquila. Ele segurava um cartaz discreto com meu nome: "Marcus".

— Marcus? — perguntou ele, sua voz grave e acolhedora. O sotaque português adicionava um toque suave às palavras.

— Sim, sou eu — respondi, ainda um pouco surpreso pela figura à minha frente.

— Sou Gabriel. Vou te levar até a fazenda. — Ele sorriu de leve, o suficiente para deixar transparecer uma simpatia genuína, sem exageros. O calor de seu sorriso contrastava com a frieza da rotina que eu havia deixado para trás em Lisboa.

Era alto, com cerca de 1,90m, e seu porte físico magro, mas com músculos definidos, indicava o esforço de quem trabalhava ao ar livre, debaixo do sol. Ele tinha uma barba rala que desenhava o contorno do rosto de forma impecável, conferindo-lhe um ar levemente desleixado, mas charmoso. Seus olhos azuis brilhavam à luz dourada do fim de tarde, e os cabelos escuros, ondulados, estavam desalinhados de maneira casual.

Ele vestia uma camisa de linho branca, levemente aberta no peito, com as mangas arregaçadas até os cotovelos, revelando antebraços fortes. A calça cáqui de tecido leve e as botas de couro gastas completavam o visual de alguém que estava em sintonia com a terra, mas sem perder um certo estilo despretensioso.

Havia algo em Gabriel que imediatamente me deixou à vontade. Não era apenas sua aparência — que, diga-se de passagem, era impressionante —, mas a maneira calma como ele se portava, como se o tempo corresse de uma forma diferente ali em Esperança.

— Prazer, Gabriel — falei, estendendo a mão. O aperto dele foi firme, mas sem pressa. — É um lugar incrível aqui, pelo que já vi.

— Você ainda não viu nada — disse ele, os lábios curvando-se em um sorriso discreto enquanto ele pegava minha mala e a colocava na caçamba,  ao lado de algumas caixas de limões, de uma caminhonete antiga, porém bem conservada. — Vamos? A casa onde você vai ficar é no meio da plantação de limões. Um pouco isolada, mas acho que é exatamente o que você quer. Porém se importa de darmos uma parada no caminho? Tenho que entregar essas caixas.

— Tudo bem — respondi, entrando no carro.

Meu silêncio era evidente dentro daquela caminhonete. Eu via os ponteiros da minha operadora se esvaziando e com ela a chegada da última mensagem de Kaique: Eu preciso da planilha que você fez, não achei no Drive.

"Enfim, paz!" — Pensei.

Gabriel parou a caminhonete na frente de um comércio e me olhou com um sorriso de canto. Ele era muito bonito e não era inconveniente com perguntas sobre os meus motivos de vinda para cá. Do lado de fora, na calçada, uma senhora sorria e acenava a Gabriel, ela parecia animada ao vê-lo.

— Fique aqui, ta bom? Só vou entregar as caixas e já volto... — Ele pulou da caminhonete e se dirigiu a senhora alí em pé como Dona Marília — Te trouxe a quantidade que pediu, duas caixas cheias.

Enquanto Gabriel conversava com Dona Marília, eu observava a pequena vila em volta. O comércio local parecia ser um ponto de encontro; algumas pessoas estavam do lado de fora, rindo e fofocando. Parecia que todos ali se conheciam há muito tempo, como se a vida fluísse de forma mais devagar e sem as urgências artificiais que eu estava acostumado.

Eu me permiti relaxar um pouco mais no banco da caminhonete, observando Gabriel de longe. Ele se movia com facilidade, o tipo de confiança que vem de alguém que está em paz com sua vida. Ele entregou as caixas à senhora com um sorriso suave, conversando brevemente com ela antes de voltar.

Pausa Para O AmorOnde histórias criam vida. Descubra agora