CAPÍTULO 6 - RECONCILIAÇÃO

124 10 0
                                    

- Alô? - a voz do outro lado da linha soou.

- É… sou eu mana. - respondi, tentando controlar o tremor na voz. - Desculpe te incomodar.

- O que aconteceu? Você está bem? - a preocupação era evidente.

Fechei os olhos por um momento, tentando encontrar as palavras certas.

- Conheci alguém  - admiti, minha voz quebrando.

- Isso é bom, não é? - perguntou a mais velha.

- Não, eu já afastei ela de mim. - digo enxugando as lágrimas.

- Ela?

- Sim, ela.

- É tal da Flávia Saraiva?

- Ela mesmo... De qualquer forma eu vou por a cabeça no lugar. - digo fechando os olhos.

- Onde você está Letícia? - disse com um tom preocupada.

- Em Goiás, acabei de fazer um show.

- Quando você vai voltar?

- Hoje mesmo. - digo me levantando.

- Ok, por favor, toma cuidado, quando chegar no Rio de Janeiro me manda mensagem. Te vejo mais tarde.

- Tudo bem, te vejo mais tarde. - digo desligando.

Olhei ao redor, observando o caos. O telefone ainda estava sujo de sangue, e o cheiro metálico no ar parecia sufocar-me.

Larguei o celular na mesa, olhando para o chão novamente. O silêncio que se seguiu parecia pesar mais do que o caos anterior. Sentia um misto de culpa e desespero, mas sabia que não podia ficar ali sozinha. O som da porta se fechando atrás de mim, e a chegada iminente de alguém que me ajudaria, eram os únicos pontos de esperança que restavam.

Eu precisava voltar pro Rio de Janeiro, eu não ia conseguir fugir da Flávia eu teria que ver ela uma hora ou outra.

O telefone continuava a emanar uma sensação de inquietude, como um lembrete cruel do que havia acontecido. As manchas de sangue ainda se destacavam contra o metal escuro do aparelho, e cada vez que eu olhava para ele, a memória do que tinha acontecido se tornava ainda mais vívida.

As horas seguintes foram um borrão. Passei o resto da noite no camarim, esperando que a equipe de limpeza terminasse seu trabalho e preparasse o ambiente para a minha saída. O caos e a dor física se misturavam com uma sensação de impotência que parecia não ter fim.

Quando finalmente fui para o aeroporto, a madrugada já começava a clarear. Meu estado emocional era uma montanha-russa de ansiedade e cansaço. Com o rosto ainda inchado e as mãos cobertas por curativos improvisados, me acomodei no assento do avião, tentando encontrar algum conforto na poltrona.

Durante o voo, tentei me concentrar em algo que não fosse o turbilhão de pensamentos sobre Flávia. Pensei no show que fiz, nas pessoas que estavam lá por mim, e em como eu poderia seguir em frente. Mas a verdade é que a constante presença da sua imagem em minha mente dificultava a concentração em qualquer outra coisa.

Quando finalmente pousei no Rio de Janeiro, o sol já estava alto, e a cidade estava começando a despertar. O calor e a umidade me atingiram de imediato, e eu me senti ainda mais exausta. Liguei para minha irmã assim que peguei o táxi para casa, contando os minutos para vê-la.

Cheguei em casa e fui recebida por sua presença acolhedora. Ela me abraçou forte, sem palavras, como se pudesse entender o peso que eu carregava apenas pelo olhar. Me senti aliviada por ter alguém ali, alguém que não me julga e que estava disposta a ouvir.

TE VEJO MAIS TARDE - FLÁVIA SARAIVA Onde histórias criam vida. Descubra agora