CAPÍTULO 9 - É ASSIM QUE COMEÇA

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Quando nossos lábios se separaram, senti que algo havia mudado de forma definitiva. Não era mais possível negar o que estava acontecendo entre nós, e ao ver o brilho nos olhos de Flávia, soube que ela sentia o mesmo. Não importava o quanto tentássemos racionalizar, minimizar, ou fingir que aquilo era apenas uma atração passageira. Estávamos conectadas de uma forma que ia além de qualquer explicação simples.

A música continuava a nos embalar, mas agora eu mal conseguia perceber o ambiente ao redor. Tudo que importava era a presença dela, a proximidade dos nossos corpos, a forma como nossas mãos continuavam entrelaçadas, mesmo depois do beijo. Era como se cada toque fosse uma reafirmação silenciosa de que aquilo, de fato, não era só por hoje.

- Letícia… – Flávia começou de novo, dessa vez com mais determinação, mas ainda com aquele ar hesitante que sempre me derretia. – Não posso mais fingir que isso é uma coisa qualquer. Não posso... – Ela fez uma pausa, respirando fundo antes de continuar. – Não quero mais fugir do que estou sentindo.

Aquelas palavras, ditas em voz baixa, carregavam o peso de algo muito maior do que eu havia antecipado. Meu coração disparou, e por um momento, não soube o que dizer. Eu também não queria fugir, mas parte de mim estava apavorada com a intensidade do que estava crescendo entre nós.

- Eu também não quero, Flávia – confessei, minhas mãos agora segurando seu rosto delicadamente, como se eu precisasse garantir que ela não iria desaparecer. – Mas… isso é muito novo. E é assustador. Não sei o que fazer com o que sinto.

Ela sorriu, aquele sorriso tímido, mas que agora carregava uma confiança nova, um tipo de certeza que não havia antes.

- Então não precisamos fazer nada agora. Podemos apenas… viver isso. – Ela mordeu o lábio, nervosa, mas seus olhos nunca desviaram dos meus. – O que você acha?

Eu sorri de volta, sentindo um alívio percorrer meu corpo. Era exatamente o que eu precisava ouvir. Não havia pressa, não precisávamos definir o que aquilo era ou para onde iria. Só sabíamos que não queríamos nos afastar.

- Acho que quero viver tudo com você, Flávia. – Aquelas palavras saíram de mim com uma facilidade que me surpreendeu, mas eram a mais pura verdade.

Ela suspirou, um suspiro de alívio, e se inclinou para me beijar mais uma vez. Dessa vez, o beijo foi mais lento, mais suave, mas tão carregado de emoção quanto os anteriores. Era como se estivéssemos selando um pacto silencioso, um entendimento mútuo de que, aconteça o que acontecer, nós duas estaríamos dispostas a ver onde isso nos levaria.

Quando nos separamos, Rebeca apareceu de novo, agora com um olhar ainda mais curioso.

- Ok, vocês duas estão muito misteriosas para o meu gosto – ela disse, com aquele tom brincalhão, mas com uma curiosidade genuína estampada no rosto. – O que está acontecendo?

Eu e Flávia trocamos um olhar rápido, cúmplices. Não precisávamos dizer nada. Rebeca perceberia com o tempo, mas naquele momento, aquilo era só nosso.

- Nada que você precise se preocupar, Rebeca – disse, rindo, enquanto pegava minha água e dava um longo gole, tentando conter a felicidade que borbulhava dentro de mim.

Rebeca nos olhou com desconfiança, mas logo se rendeu, dando de ombros e pegando sua bebida.

- Certo, certo, eu vou parar de encher. Mas prometo que ainda vou descobrir o que vocês estão aprontando. – Ela sorriu, piscando para nós antes de se afastar de novo.

Flávia riu e voltou seu olhar para mim, os olhos brilhando. Eu sabia que, a partir daquele momento, não importava onde estivéssemos ou o que acontecesse ao nosso redor, nós duas não conseguiríamos mais ficar longe uma da outra. Algo havia sido despertado, algo que não poderíamos mais ignorar.

TE VEJO MAIS TARDE - FLÁVIA SARAIVA Onde histórias criam vida. Descubra agora