Luiz Otavio:
Haviam se passado 4 dias que estava vivendo na fazenda com a minha mãe. E, ao contrário do que imaginava, esse tempo no campo estava sendo muito bom. Os dias eram tranquilos e leves. O completo oposto de quando vivia na capital, tendo que lidar com inúmeras tarefas e pessoas que me viam como um demônio de gelo.
O Felipe foi o meu guia no primeiro dia, mas logo o Roberto passou a assumir o cargo, me mostrando cada setor da fazenda. Não conversamos muito, apenas o necessário em cada passeio. Sentia que o cowboy às vezes ficava me olhando de canto de olho, um tanto quanto pensativo, o que me irritava um pouco, mas não dava importância, pois, em alguns momentos, meus olhos me traiam e me faziam olhar para sua bunda apertada na calça jeans.
O moreno era realmente gostoso, mas não era o suficiente para me esquecer do terror que me causou na infância. Precisava espairecer a minha mente, não podia ficar remoendo o meu passado traumático. Com isso em mente, acordei inspirado naquela terça feira. Já havia conhecido tudo na fazenda, só me faltava visitar a pousada, e foi nisso que me agarrei para parar de pensar no Roberto. Com a carona do peão — Felipe —, fui para lá.
- Meu-Deus-do-céu - o recepcionista da pousada me olhou admirado, quase como se tivesse visto um fantasma - você é muito gato! Tipo, muito, mas muito lindo mesmo. Você é modelo?
- Não, e obrigado pelo elogio. Você também é muito bonito - o elogiei, rindo daquela situação incomum para mim. Não tinha muitas amizades com outros gays.
- Eu sei, eu sei - me disse convencido. - Você namora?
- Não.
- O que? Mas você é um deus grego. - Falou, inconformado.
- Acontece, eu acho. Não achei um cara interessante ainda - o sorriso do garoto aumentou ainda mais depois que soube que eu era gay. Devíamos ser uma espécie rara ali.
- Que legal, também sou gay, se é que não deu pra perceber. Se quiser alguém para conversar, é só me passar o seu número. - falou com certo charme.
- Claro. Acho que vou precisar conversar com alguém nesses 15 dias que estiver por aqui. Qual o seu nome?
- Elias, e o seu?
- Luiz.
Após a euforia, Elias pareceu lembrar que estava trabalhando, retomando o modo recepcionista de antes. Em um passe de mágica, com elegância e postura, o garoto fingiu que não estava flertando comigo segundos antes.
- Hum, é... o senhor precisa de um quarto? - torci o nariz com o 'senhor', mas não o repreendi. Ele era muito simpático. E, para bem da verdade, devia ser sim mais velho que ele.
- Não. Na verdade vim ver a minha mãe, Marina - os olhos do recepcionista quase saltaram ao saber quem eu era. Foi impossível conter a risada. - Não se preocupe, nosso segredinho - o garoto voltou a respirar, mas ainda um pouco envergonhado pela cena do começo - bom, esse é o meu número, é só mandar mensagem - entreguei um papel que tinha pego no balcão e anotei o meu numero nele.
- Ok, a sua mãe fica no escritório dela no final do corredor, eu te acompanho - disse, guardando o papel com meu número no bolso, e assumindo a frente para me guiar até a sala da sua chefe.
Era a primeira vez que estava saindo da fazenda para conhecer a pousada. O lugar era muito bonito. Rústico por fora, mas moderno no seu interior. A minha mãe sempre foi uma mulher à frente do seu tempo. Por isso não me assustei quando me disse que tinha uma garagem com bateria para carros elétricos na pousada.
Apesar de moderna, o lugar era uma extensão da fazenda principal. A pousada Mirassol era conhecida Brasil afora, recebia clientes o ano todo, sempre agendado, pois muitas vezes não tinha vagas. As confraternizações da empresa do meu tio Carlos eram sempre feitas aqui, mas, como de costume, não me importava em participar, preferia ficar no meu apartamento como uma mobília na sala. Sabia que muitos dos funcionários prefeririam que não participasse, era uma pedra no sapato para eles.
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Meu cowboy - Gelo e Fogo
RomanceApós anos afastado, Luiz Otávio retorna para a fazenda onde foi criado. A sua vontade era de esquecer aquele fim de mundo no Mato Grosso, mas sua mãe teve que apelar para o seu lado emocional. Mesmo que a muito tempo seu coração esteja duro e frio c...