Novos e antigos conhecidos

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Roberto:

Andressa, a filha do borracheiro da cidade, seu Emanuel, dormia com os braços por cima do meu peito. O cheiro de sexo estava impregnado em nossas peles e no forro da cama. Tinha feito burrada de novo.

Me lembro de flashes da noite anterior. Estávamos os dois embriagados quando no calor do momento acabamos em um canto do bar sozinhos. Um maldito erro que tinha jurado não cometer nunca mais com essa garota, mas que aconteceu, e porra, tinha sido gostoso. Ela sabia como me deixar duro em poucos segundos. Não tinha ser humano no mundo que me tirava de cima daquela garota. 

- Já acordou? Achei que iria ficar um pouco mais dessa vez. Ontem a noite foi tão bom - se espreguiçou na cama. Aproveitei a liberdade para escapar, estava atrasado. A patroa iria me matar se não chegasse logo.

- Tenho que ir - falei, me vestindo o mais rápido que pude. Andressa não ficou feliz em saber que a deixaria sozinha mais uma vez. Ela não tinha aprendido a lição, insistia na ideia de termos uma relação séria. - Sabe onde deixar a chave, né? - joguei o molho de chave ao seu lado da cama.

- Sei - respondeu, revirando o olho. - Nem um beijo de despedida?

- Andressa...

- Esta bom, só sexo e bla bla bla - imitou o meu jeito de falar, engrossando o máximo que podia do seu tom de voz.

Aos tropeços, sai de casa e fui até minha caminhonete que estava embaixo de um pé de manga. A chave estava na ignição, um segundo erro daquela noite de luxúria. Maldito Fabricio que me convidou para ir naquele bar.

- To chegando, patroa - fiz a promessa antes de engatar a primeira e pisar no acelerador, jogando poeira para o alto e sumindo no estradão de terra. A minha sorte era que a fazenda não ficava muito longe, uns 20 minutos.

No caminho da fazenda, pensei no quanto a patroa devia estar ansiosa. O seu filho havia retornado — Luiz Otavio —, o garoto gordinho e esquisito que tanto os garotos zoavam na escola. Que tipo de filho deixa uma mãe sozinha por tanto tempo assim? Ainda mais Dona Marina que era uma pessoa incrível. Ela e o marido foram os meus guias nos momentos mais difíceis da vida, era grato por tudo que fizeram e ainda fazem por mim. Bom, acredito que o Sr. José ainda cuida dos meus passos lá do céu. O patrão morreu desejando a presença do filho no leito do hospital, o que nunca aconteceu, pois Luiz Otávio nunca veio e nem retornou as diversas ligações que fizeram na época. Ele era um verdadeiro de um filho da puta. Tinha que colocar em minha cabeça que estava ajudando a patroa, e não ele, do contrário, não teria paciência com um garoto fresco e sem amor da cidade grande.

Estacionei meu carro e corri para a varanda da casa principal. Um carro cheio de frescuras estava estacionado na frente da casa, devia ser elétrico, pois era todo moderninho e de uma marca que nunca havia visto. A S10 que comprei do velho Chico era mil vezes melhor que aquela bateria ambulante que Luiz Otávio chamava de carro. Pelo jeito até nisso ele era um bosta. Esses 15 dias seriam difíceis...

- Ele já chegou, Dona Benta? - perguntei ao passar pela porta da cozinha. Tinha rodeado a casa, não queria atrapalhar o momento de mãe e filho.

- Faz uns 10 minutos, castanha. A Marina está com ele na sala, vai lá garoto! - Dona benta bateu o pano de prato na minha direção. Ela sempre andava com um desses trapos no ombro.

- Ta bom, Ta bom, calma! - sai da cozinha e segui pelo corredor que dava acesso a sala. Ao final do corredor consegui ouvir a voz emocionada da patroa, parecia muito feliz com o retorno do filho. Esses últimos anos foram puxados para todos nós, principalmente para a Marina que teve que lidar com o luto e os negócios da família. Esse Luiz Otavio merecia um soco por ter deixado a mãe tanto tempo sozinha. A pousada e a fazenda demandam muita energia, a patroa não tinha mais o mesmo pique de anos atrás.

Meu cowboy - Gelo e FogoOnde histórias criam vida. Descubra agora