Eva

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"Minha pequena Eva (Eva)
O nosso amor na última astronave (Eva)
Além do infinito eu vou voar
Sozinho com você
E voando bem alto (Eva)
Me abraça pelo espaço de um instante (Eva)
Me envolve com teu corpo e me dá
A força pra viver"

Eva – Rádio Táxi

Eva era uma das suas canções favoritas, ainda me lembro de você dançando e cantando na sala de casa durante as tardes de sábado. E hoje, lembrar de você ouvindo essa e tantas outras músicas, me faz tão bem, mesmo que eu derrame lágrimas, só consigo lembrar de tudo que fui proporcionada por viver ao seu lado.

E no momento em que soube que nunca mais teria você, que não teríamos mais nossas tardes, eu desabei.

Naquele instante ainda não sabia, mas sentia no fundo que tudo seria diferente, lógico que seria, e por isso eu desmoronei.

Ali na nossa cozinha, a que você tanto desejou ter, eu chorei incontrolavelmente por um longo tempo, abraçando o pai.

Eu estava alegre naquele dia, era uma sexta-feira e eu havia passado no mercado, comprado vários doces para passar o final de semana em casa com o meu namorado.

No caminho de casa, notando meu atraso por ter passado no mercado, o pai me ligou perguntando onde eu estava, ah mãe, eu não fazia ideia alguma do que me esperava.
Avisei a ele que já estava chegando e que estava com meu namorado e, brigando um pouco por eu não ter avisado antes, já que aquilo havia se tornado um hábito nosso, o pai só me pediu para ir logo para casa.

Eu queria ter notado em seu tom de voz alguma mudança, fragilidade, qualquer coisa, porém não notei e você sabe como ele é bom em esconder as emoções.

Ao abrir a porta de casa, ele já estava me esperando, e não foi preciso que dissesse muita coisa, apenas me olhou e falou aquilo que eu desejei desesperadamente não ouvir:

— A mãe, ela não... – e balançou a cabeça para os lados, negando. E então eu chorei, gritei, cai no chão, esperneei, eu berrei mãe, eu sentia muita dor e quando vi as crianças – naquela época com 10 e 13 anos – andarem até mim chorando baixinho e se abraçando, ali naquele momento, tudo acabou, foi o fim. Aquelas palavras nunca mais saíram de mim.

Chorei nos braços do pai junto com ele, que já não lutava para ser forte. Meu peito doía e meu pranto era alto, quase que uma súplica para que tudo aquilo fosse só mentira, mas infelizmente eu sabia que não era.

Por mais que eu estivesse ainda desacreditada de tudo ao redor e que só me dei por vencida quando desceram seu caixão por aquele buraco, eu estava com esperanças de que você fosse melhorar quando estava no hospital, porque ninguém me contou o quanto era grave tudo aquilo, eles me protegeram da verdade, e em parte eu agradeço, mas por outra, fico frustrada de não ter reconhecido e me disposto a aproveitar seus últimos momentos, mesmo que você não pudesse ao menos me ver ou me ouvir.

Cartas Para ElaOnde histórias criam vida. Descubra agora