Tarde no celeiro

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Pov João

  Quando sua mão apertou a minha foi como se meu corpo já conhecesse aquele toque, mesmo que minha mente tivesse certeza de nunca havia visto ele antes. O olhar dele cruzou com o meu por alguns segundos, mas foi o suficiente para ver como ele era lindo. Seu cabelo, seus olhos castanhos e brilhantes, seu sorriso carismático.

  Assim que esse momento acaba, percebo ele olhando para todo o interior do celeiro meio surpreso. Talvez seja pela diferença de como ele é por fora e por dentro, mas Pedro não diz nada

  - Você não é daqui né?! - perguntei para ele enquanto ia para um canto do celeiro em que havia várias almofadas e me sento fazendo sinal com a mão para que ele viesse também.

  - Não. - ele responde dando uma risadinha e vindo sentar do meu lado - Está tão na cara assim?

  - Só um pouquinho. - respondi sorrindo e juntando meu polegar com o indicador bem pertinho. - Percebi pelo sotaque e por ter se perdido logo para esse lado.

  - Como assim para esse lado? - ele pergunta curioso.

  - Ninguém gosta desse ponto da cidade. - respondo me jogando para trás. - Não sei bem o motivo, mas nunca ninguém falou daqui.

  Aquele olhar curioso que estava pareceu ficar ainda mais presente depois disso, mas sobre o motivo eu realmente não sabia o por que de nunca virem para, nunca ninguém me contou e nunca ousei perguntar.
  - Você parece curiosa com alguma coisa, quer me contar? - perguntei olhando para ele que parecia estar feliz com o que acabei de dizer

  - Quero! Por que a parte de dentro é tão diferente do lado de fora? - pergunta enquanto movimenta as mãos.

  - Queria um lugar confortável, mas que não chamasse a atenção. Posso até te contar, mas a história é um pouco longa, quer ouvir? - pergunto para ele.

  - Acho que tenho tempo, por que a chuva parece estar longe de acabar. - responde se arrumando nas almofadas para ficar ainda mais confortável enquanto eu conto.

  "Quando eu tinha quinze anos, comecei a ter umas discussões bobas em casa, consequentemente muitas vezes só queria um lugar distante para ficar sozinho e fazer coisas que eu gostassem sem me preocupar. Um dia eu peguei minha bicicleta e sai de casa sem nem olhar para onde ia, quando me dei de conta estava aqui. O celeiro estava acabado, a tinta da parte de fora estava toda descascando, tinha janelas quebradas, a porta estava desgastada e enferrujada, ao redor havia muitos lixos e por dentro estava só o caos também. A escada que levava para a parte de cima do celeiro estava quebrada, tinha alguns lugares do teto quebrado, mais lixos ainda, não tinha iluminação e nada. Contudo, no momento que cheguei aqui vi que tinha potencial para virar algo incrível e um porto seguro para mim.

  Como eu era um adolescente não conseguiria fazer tudo sozinho, mas não tinha ninguém com que eu pudesse pedir ajuda para resolver isso. Então, mesmo com medo de que fosse dar errado, comecei a tentar arrumar aos pouco. Fui na loja do Seu Francisco, que vende e faz de tudo nessa cidade, para comprar tinta para o exterior do celeiro e peguei a mais sem graça que tinha, pois o objetivo era ainda deixá-lo meio apagado para quem o visse de longe. Contudo, acredito que o Seu Francisco achou estranho eu estar indo lá muitas vezes comprar coisas como mais tinta ainda, dobradiças, fios e etc, pois um dia ele me seguiu até o celeiro para saber o que eu estava fazendo. Contei tudo para ele e implorei para que não falasse sobre com meus pais, ele jurou não contar e ainda me ajudou a arrumar tudo aqui, me deixando em carregado só de trazer as coisas para deixar aqui dentro aconchegante. Depois que deixamos esse lugar pronto, eu vivo vindo passar meu tempo aqui para distrair minha cabeça."

  - Foi isso. - termino de contar, mas óbvio que deixei o motivo real das brigas oculto.

  - Nossa, valeu a pena mesmo. Parece incrível passar bastante tempo aqui. - ele fala com um brilho no olhar.

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⏰ Última atualização: Sep 28 ⏰

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