Beyond fear-Bill denbrough

00(prólogo)

A casa de Hazzel costumava ser um refúgio. As paredes, que uma vez vibravam com risadas e brincadeiras, agora eram testemunhas silenciosas de uma dor que se acumulava como poeira em um canto esquecido. O sol se punha no horizonte, tingindo o céu de vermelho e dourado, mas para Hazzel, o dia terminava em sombras.

Naquele dia específico, algo estava diferente. A tensão no ar era palpável. Hazzel sabia que seu pai havia chegado mais cedo do trabalho, e isso nunca era um bom sinal. Ele sempre trazia consigo a carga de frustrações acumuladas, prontos para serem despejados sobre ela. Enquanto ela se preparava para o jantar na cozinha, seu coração batia acelerado. Um pressentimento a fazia hesitar a cada movimento.

Quando ele entrou na cozinha, a atmosfera mudou instantaneamente. O olhar dele era frio e penetrante. "Você não fez o que eu pedi", ele disse, a voz baixa e carregada de desapontamento.

"Eu... eu estava ocupada com a escola", Hazzel respondeu, tentando manter a calma. A última coisa que queria era provocar uma explosão.

"Escola? Isso é tudo o que você pensa? Você precisa entender suas prioridades!" Ele levantou a voz, fazendo as panelas tremerem no fogão.

"Eu estou tentando fazer o meu melhor!" Hazzel gritou de volta, sentindo a raiva subir em seu peito. "Você não entende como é difícil! Se pre espera que eu seja perfeita!"

Ele se aproximou dela, sua figura imponente bloqueando a luz da janela. "Perfeita? Não estou pedindo perfeição! Estou pedindo respeito e obediência! Você é uma vergonha para esta família!"

As palavras dele cortaram Hazzel como lâminas afiadas. Ela sentiu as lágrimas ameaçarem escapar de seus olhos, mas não poderia deixá-lo vencer dessa forma. "Eu não sou uma vergonha! Você é quem não consegue ver quem eu realmente sou!"

A briga escalou rapidamente. Ele começou a gritar ainda mais alto, suas palavras se tornando um turbilhão de acusações e insultos. "Você é ingrata! Não sabe o quanto sacrifiquei por você! Eu te dei tudo!"

"Não é tudo! Você me deu medo e dor!" Hazzel respondeu com fervor, sua voz ecoando pela cozinha como um grito de liberdade.

A fúria dele explodiu em um instante. Com um movimento brusco, ele derrubou uma cadeira ao chão, fazendo-a estilhaçar em pedaços. "Cale-se! Você não sabe do que está falando!"

O coração de Hazzel disparou enquanto ela recuava instintivamente, mas algo dentro dela se acendeu — uma chama de coragem que ela nunca soube que tinha. "Chega! Eu não vou mais deixar você me controlar! Não sou sua propriedade!"

Ele ficou parado por um momento, surpreso com sua ousadia. Mas logo seu olhar se transformou em desprezo novamente. "Você vai se arrepender do que disse."

Hazzel respirou fundo, sentindo-se mais forte do que nunca. "Não tenho mais medo de você."

Com isso, ela virou as costas e saiu da cozinha, deixando-o atrás dela em silêncio absoluto — um silêncio carregado de raiva contida e desespero.

Naquela noite, enquanto o vento assobiava lá fora e as estrelas brilhavam no céu escuro, Hazzel percebeu que havia cruzado uma linha invisível. A luta não estava apenas contra seu pai; era uma luta pela sua própria vida e identidade.

Ela sabia que as coisas nunca seriam as mesmas novamente. A partir daquele momento, Hazzel estava determinada a encontrar sua voz e lutar contra os fantasmas do passado — mesmo que isso significasse enfrentar seu maior medo: ele.

E assim começou sua jornada — não apenas para escapar das garras da dor familiar, mas para redescobrir quem realmente era sob as sombras do abuso.