𝐴 𝐵𝑒𝑖𝑟𝑎 𝑑𝑎 𝐴𝑔𝑢𝑎

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Antes que Livan pudesse desaparecer completamente de vista, outra figura surgiu no campo de treinamento. Ele caminhava com uma confiança quase arrogante, o sorriso malicioso já desenhado em seu rosto. Era o Kay, um rosto familiar com um humor ácido que sempre arrancava risadas de todos à sua volta. Ele olhou para o Livan com um ar de deboche.

"Ah, olha só quem está aqui," ele disse, erguendo uma sobrancelha. "Não deveria estar em algum lugar recitando feitiços ou qualquer outra coisa entediante que você chama de talento?"

O silêncio foi quebrado por risadas abafadas dos poucos alunos que estavam no campo. Livan lançou um olhar frio, mas não respondeu. Ele sabia que qualquer coisa que dissesse só alimentaria mais o espetáculo. Com um suspiro de irritação, virou-se e saiu em silêncio, suas flores ainda estavam intactas, mas a humilhação estampada em seu rosto.

O Kay riu mais um pouco, satisfeito com sua pequena vitória. Ele então se virou para mim, e o sorriso desapareceu do seu rosto, sendo substituído por uma expressão de irritação exagerada.

Ele cruzou os braços, me analisando com aquele olhar insolente. "Sabe, até consigo entender por que o cara das flores te acha interessante. Ele gosta de um desafio, e você, bem... você é só isso, não é? Um desafio constante. Uma muralha de pedra que ninguém consegue escalar porque, sei lá, você acha que é difícil e isso faz você parecer mais importante."

Eu respirei fundo, tentando manter a calma. Ele era conhecido por provocar e tentar tirar as pessoas do sério, mas não era nem um pouco fácil lidar com seu jeito insuportável.
Cada palavra dele parecia ser feita para irritar.

"Tem algo a dizer Lílares ou vai ficar me encarando com essa expressão entediada?" ele continuou, com uma careta debochada. "Porque, sinceramente, se eu quisesse ver alguém me ignorar, eu teria ficado em casa com o espelho."

As risadas ecoaram novamente ao nosso redor, e eu percebi que ele adorava o som da própria voz mais do que qualquer outra coisa. Eu o encarei, tentando manter minha compostura.

"Você já terminou ou vai continuar falando mais sobre você mesmo disfarçado de crítica a mim?" respondi com frieza, cruzando os braços, imitando o gesto dele.

Seu sorriso vacilou por um segundo, mas logo ele se recuperou. "Ah, então você fala! Que alívio. Achei que você estava congelada por algum feitiço do seu querido mago."

Mais uma risada ecoou dos que assistiam, mas desta vez eu não me incomodei. De algum jeito, percebi que esse era o jogo dele: provocar até que alguém reagisse, só para que ele pudesse se alimentar do drama.

"Olha, eu vou te poupar de mais palavras," ele continuou, agora com um ar cansado de quem já estava entediado da própria piada. "Só tente não se levar tão a sério, ok? Todo esse papo de ele ser forte é uma cilada. E acredite, ninguém gosta de uma cilada, certo?."

Ele se virou para ir embora, mas não sem lançar um último olhar para mim. As pessoas ao redor continuaram rindo de suas piadas, algumas murmurando comentários entre si, claramente se divertindo com a cena.

Eu fiquei parada, observando-o se afastar, uma mistura de irritação e desprezo fervendo dentro de mim.

Assim que o Kay se afastou, a atmosfera no campo de treino começou a mudar. As provocações e risadas diminuíram, e logo as conversas mudaram de direção. O assunto mais comentado pelos alunos agora era o tão esperado baile para os novatos, e eu não pude deixar de ouvir pedaços de conversas ao meu redor.

"Você já decidiu sua máscara?" uma garota perguntou a outra, com os olhos brilhando de excitação.

"Estou pensando em algo misterioso, talvez com plumas," a outra respondeu animada. "Afinal, o tema é medieval, então preciso de algo que combine!"

Acreditando em algo que nunca aconteceu Onde histórias criam vida. Descubra agora