MORTE DIÁRIA

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DANNA PAOLA MADERO

Passei muitos dias naquele lugar. Nua e acorrentada ao chão. 

A novidade era que aquela velha maldita trouxe pelo menos um colchão para que o desconforto e o frio fossem menores. Ingênua, ainda pensei que sentisse um pouco de compaixão por mim, mas ela o fez apenas por que o chefe dela precisava de um lugar mais confortável para satisfazer seus desejos masculinos. 

Eu era usada todas as noites pelo mesmo homem. E quando ele me tocava, um pedacinho de mim morria. Todas as vezes que a porta era aberta e Paul passava por ela, minha esperança de ser resgatada também morria.

E tudo o que eu queria era morrer de vez, o sofrimento não tinha fim, pelo contrário, se renovava a cada dia.

Meu corpo estava imundo, havia mudado para algo quase irreconhecível, alguns ossos mais a mostra por debaixo da pele fina e pálida denunciavam a magreza. A comida era escassa, recebia apenas uma refeição por dia e um litro de água.

Ele havia destruído tudo de bom que havia em mim, minha pureza, beleza e meu psicológico agora era totalmente fodido.

Eu continuava lá, definhando em cima daquele colchão nojento que fedia a mofo e sangue. Duas vezes ao dia a velha vinha me levar ao banheiro para que eu pudesse fazer minhas necessidades, se eu quisesse fazer antes disso, teria que ser ali mesmo deitada.

Perto do anoitecer, uma mulher de mais ou menos 40 anos, aparecia para me levar ao banheiro para tomar banho, “o chefe não quer comer algo imundo”, eram as palavras dela.

— Olá minha bonequinha. Estava pensando em mim?

Me assustei com a voz tão próxima. Como não o ouvi entrar? Minha mente andava meio lenta ultimamente.

Fechei os olhos para não o olhar. Me recusava a isso. Sentia tanto asco dele, seu perfume me fazia sentir vontade de vomitar.

— Ah vamos lá. Anime-se. Tenho uma boa notícia para você. — Senti as mãos dele passando pelas minhas pernas e seios, se demorando mais ali.

— Nada que venga de ti es algo bueno. (Nada vindo de você é coisa boa) — proferi em tom contido.

O ouvi rir.

Demônio.

—Não seja respondona boneca. — Se agachou próximo a mim e segurou meu queixo com força.

— Essa é a segunda e última vez que proíbo você de falar nessa merda de idioma. Na próxima, arranco seus dentes.

— Odeio você seu desgraçado. — Rosnei sentindo dor.

Durante esses dias eu mudei muito, não só fisicamente, mas também no meu modo de ser, antes eu odiava qualquer tipo de xingamento, sempre achava desnecessário quando meu pai e meu irmão faziam isso, ainda mais quando era um com o outro. Mas todos os xingamentos existentes no mundo, esse homem merece.

Ele riu novamente dando tapinhas no meu rosto. O sangue chegava a ferver de raiva.

Ia xingar de novo quando o mesmo se levantou e começou a tirar o cinto e abrir o zíper da calça social preta que usava.

— Vamos limpar a boquinha, sim?

Um bolor começou a se formar na minha garganta. Eu sabia bem o que ele queria fazer. Quase sempre eu vomitava e em seguida apanhava.

— Eu te odeio. — Murmurava diversas vezes como um mantra enquanto ele pegava meus cabelos com força e me fazia erguer a cabeça para ficar mais próximo de seu membro rígido.

Com as mãos e pés presos. Não podia fazer nada além de chorar.

—Abra a boca. Vou ser bonzinho com você hoje.
— Continuei de olhos e boca fechados. — Eu não faço nada com você hoje. Que tal?

Eu sei que não devia ceder. Mas, se eu precisava fazer isso para ele sair de perto, eu faria, é uma questão de sobrevivência.

Abri a boca sentindo vergonha de mim mesma. Esse homem me humilha das piores formas possíveis.

— Isso minha cachorrinha obediente.

Depois que terminou, se afastou vestido suas roupas caras novamente.

— Como prometido, irei embora. Até porque não te comeria imunda como estar agora. — Ouvi seus passos se distanciarem. — Ah, a boa notícia é que amanhã irá sair desse quarto. — Fechou a porta antes que tivesse a oportunidade de dizer algo.

Santa Guadalupe! Será que meu pai me achou e vai me tirar desse inferno?

Um pequeno feixe de luz brilhou no meio da minha escuridão. Apenas uma pequena fagulha de esperança.

Naquela noite, não dormi. O que não era novidade, a insônia era minha fiel companheira, eu ficava em alerta o tempo inteiro, sentia medo que alguém invadisse o quartinho para me fazer mal, não que eu fosse conseguir me defender, estava vulnerável a qualquer coisa.

Minha vida antes era regada de luxo. Estudava na melhor escola, vestia as melhores roupas, sapatos etc, e nunca tive que dormir no chão. No início achei que morreria por isso, mas percebi que era mais forte do que pensava. E no fundo eu não tinha desistido de viver.

Eu não podia deixar que o maldito Paul Linse levasse minha vontade de viver. E era isso que ele queria. Que eu me tornasse oca de sentimentos e emoções assim como ele. E fosse somente um corpo vazio a qual ele poderia usar e abusar.

No dia seguinte, Olívia, apareceu cedo para me levar ao banho. É claro que ela não vinha sozinha, sempre acompanhada de dois marmanjos armados. Nunca teria chances de fugir. Mal aguento de pé.

—Vamos logo. Temos um dia corrido pela frente.
E tivemos.

Amor Sem Fim: Apaixonado Pela Mulher Do ChefeOnde histórias criam vida. Descubra agora