Laços de Sangue

capítulo 26

"Ele está com um resfriado terrível", Meistre Hunnimore declarou melancolicamente quando terminou de examinar Lucerys. "Ele ficou na tempestade por muito tempo. Eu sei de um remédio herbal que pode ajudar... mas, sinceramente, o que o Príncipe Lucerys precisa é de muito calor e muito sono. Só o tempo pode curá-lo."

"Não é veneno? Tem certeza?" Aemond disse. Ele estava empoleirado na ponta da cama deles - a cama em que Lucerys estava agora cuidadosamente enfiada, sob uma pilha de cobertores. Lá fora, a chuva maldita açoitava o vidro grosso da janela estreita. O dia estava tão escuro que, apesar de ser apenas o fim da tarde, velas tinham sido acesas no quarto para enxergar. O clima era sombrio e triste, e não apenas por causa da escuridão.

"Tenho certeza", afirmou Hunnimore. As narinas do homem se dilataram, e ele discretamente tirou um pequeno pote de pomada dos bolsos de sua túnica de meistre e esfregou-o sob o nariz. O ar no quarto estava pesado com o cheiro de Lucerys - mas estava azedo, como a doçura do leite quando era deixado ao sol por muito tempo. Isso estava deixando Aemond ansioso e inquieto. Ele tinha uma das mãos de Luke - a pele anormalmente fria e úmida - firmemente agarrada na sua. Ele não conseguiria se soltar nem por todo o ouro nos cofres da Casa Lannister.

Veneno era o que ele temia desde o momento em que entrou em seus apartamentos e encontrou sua companheira caída em uma cadeira diante do fogo, mal conseguindo manter os olhos abertos e incapaz de falar uma única palavra coerente. Afinal, foi por isso que Lucerys correu para Porto Real com tanta pressa. Porque algum vilão tentou envenenar Rhaenyra. Talvez, onde falharam com a irmã de Aemond, tiveram sucesso com seu marido. Talvez alguém tenha colocado algo na xícara de Luke durante sua curta estadia na Fortaleza Vermelha. Talvez ele só tenha sucumbido ao veneno quando fez a longa viagem de volta em Arrax, voando de volta para Pedra do Dragão.

Aemond estava completamente despreparado para o quanto sentiu medo quando não conseguiu acordar o marido. O quanto ainda sentia medo agora. Ele não era tolo. Ele sabia que a doença de Luke era séria. Hunnimore pode não ter dito isso em voz alta... mas ele não precisou. Seu rosto preocupado e irritado disse isso claramente o suficiente para ele. O tempo pode curar Luke, mas também pode piorá-lo.

"Vou começar a preparar aquele tônico", disse Hunnimore. "Vou dar uma olhada no príncipe novamente antes da oitava hora. Se ele piorar, você deve me convocar imediatamente."

Aemond apenas assentiu em silêncio.

"Você ficará com ele, meu príncipe?" Hunnimore perguntou sem jeito.

"Claro que sim!" Aemond disse bruscamente, deixando um pouco do medo que se agitava em seu estômago explodir em raiva.

As bochechas de Hunnimore coraram, mas ele se manteve firme. "O príncipe Lucerys precisará beber água", ele disse. "Bastante. E ele precisa se manter aquecido."

"Eu vou cuidar disso," Aemond disse brevemente. Ele apertou sua mão em volta da de seu companheiro. Os dedos de Luke pareciam gelo.

"Posso enviar a septã para cuidar do príncipe, ou talvez uma das - "

"Eu disse que cuidaria disso!" Aemond retrucou. "Você é surdo?"

O rubor no rosto redondo de Hunnimore ficou mais profundo. O meistre assentiu e saiu do quarto rapidamente, deixando Aemond sozinho com Lucerys.

Ele sentiu como se devesse convocar outra pessoa. Que deveria haver outra pessoa que assumisse o comando. Que cuidasse de tudo. Contra quem Aemond teria que lutar pelo seu direito de estar na sala. Na Fortaleza Vermelha, teria sido Rhaenyra. Se Baela ou Corlys estivessem em Pedra do Dragão, teriam sido eles. Mas nenhuma dessas pessoas estava aqui. Era apenas Aemond. Ele teria que cuidar de Lucerys. Ele teria que fazer as escolhas sobre quais tratamentos Hunnimore administraria ao seu marido. Caberia a Aemond contar a Aegon e Viserys que seu irmão estava doente. Depois de um ano como prisioneiro, sempre sendo informado sobre onde ir e o que fazer - e o que ele não podia fazer - era perturbador perceber que a responsabilidade aqui era dele. Que a autoridade aqui era dele.