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Faziam dez anos desde a última vez que Wooyoung pisara em solo coreano. Ele estaria mentindo se dissesse que não sentiu falta do tráfego controlado, dos idosos resmungando pelas calçadas e dos estudantes cabulando aula para comer um sanduíche no Subway ou passear no shopping. Ele se sentia nostálgico.
Havia dois dias desde que retornara ao seu país natal, depois de abandonar um emprego estável em uma grande empresa nos Estados Unidos, cancelar seu noivado e levar uma bronca monumental de sua mãe, que o xingou de inútil e egoísta.
E, de fato, ele estava sendo egoísta.
Nos últimos anos, sentira-se exausto. A empresa sugara toda sua energia e, ao descobrir a traição de sua noiva, ele simplesmente desistiu de tudo. Abandonou tudo o que construíra e fugiu do presente. De novo. Mas, desta vez, tentava fugir para o passado.
Voltando de uma caminhada matinal, ouviu no jornal, que passava na televisão de uma loja de conveniência, que uma nova empresa estava contratando após uma grande reforma, logo após o novo presidente assumir o cargo. Wooyoung lembrava-se daquele homem — ou melhor, da versão mais jovem dele —, Park Seonghwa, seu antigo vizinho, que sonhava em abandonar a universidade para se tornar modelo.
— Parece que o tio Park conseguiu te convencer a se formar. — murmurou baixo, rindo consigo mesmo enquanto tomava seu leite de banana, do qual sentira tanta falta.
Mais tarde, naquele mesmo dia, ele decidiu pesquisar mais sobre a empresa de seu antigo vizinho, cogitando se deveria enviar seu currículo. Afinal, precisaria se sustentar em Seul, algo impossível sem um emprego. Nos Estados Unidos, levara uma vida quase luxuosa, mas mudar-se desempregado para Seul drenara uma boa parte de suas economias. Mesmo tentando ser econômico, acabara sendo imprudente ao comprar um apartamento em um bairro nobre e um carro caro. Se não conseguisse um emprego logo, teria de vender tudo novamente para se realocar no país.
Ele não deveria apenas pensar em enviar o currículo; deveria aplicar para todas as vagas que encontrasse.
Com o desespero tomando conta de seu corpo, Wooyoung abandonou a xícara de chá sobre a mesa e passou as horas seguintes enviando seu currículo para toda e qualquer empresa em Seul. Rezava para que alguma o chamasse logo, antes que precisasse abrir mão do estilo de vida pelo qual tanto lutara, mesmo tendo jogado tudo fora de um dia para o outro.
A verdade é que ele nunca foi feliz naquela vida "perfeita".
Seus olhos caíram sobre a porta do closet, como se pudessem enxergar através das paredes. Ele conseguia visualizar perfeitamente o cofre e seu conteúdo. Ao lado de relógios caros e dinheiro, havia uma velha e surrada caixa que guardava o maior tesouro de Wooyoung: sua caixa de Pandora.
Sentando-se no chão, encostado na parede, com a caixa no colo, precisou respirar fundo várias vezes antes de remover a tampa de madeira e colocá-la ao lado. Não teve coragem de abrir os olhos imediatamente e se confrontar com sua "vida perfeita".
A primeira coisa que viu foi um sorriso encantador que transbordava alegria. Ele sorriu de volta, instintivamente, mas logo seu sorriso se desfez, atingido pelas memórias dolorosas. O rapaz da foto sorria como se aquele fosse o momento mais feliz de sua vida, mas Wooyoung só conseguia se lembrar de seus olhos vermelhos e sem brilho, sentindo-se culpado por ter sido o responsável por destruir aquele sorriso precioso.
Não conseguiu olhar o resto das coisas na caixa. Guardou a foto apressadamente, colocou a tampa de volta e devolveu a caixa ao cofre, de onde ela nunca deveria ter saído. Incapaz de se levantar, a tristeza o envolveu como um peso impossível de suportar. Ele chorava, como uma criança que cai e se machuca.
Wooyoung se sentia como uma criança que havia tropeçado. Mas, na verdade, ele era um adulto que estava caindo em um abismo.
Ao longo da semana, o bom currículo de Wooyoung o levou a várias entrevistas de emprego em cafés, restaurantes e até em caminhadas pelos parques da capital. Ele estava sendo bastante requisitado por diversos empregadores, mas uma oferta em particular chamou sua atenção: a da empresa de seu antigo vizinho.
Foi convidado para uma reunião em um café próximo ao prédio da empresa com uma recrutadora da área de Recursos Humanos e o diretor da área em que pretendiam contratá-lo como coordenador. Se a entrevista corresse bem e eles o quisessem, Wooyoung seria o novo coordenador da equipe de marketing.
Aceitou a proposta sem pensar duas vezes e passou a pesquisar sobre a empresa.
A AlphaTech, como o nome indicava, era uma empresa de tecnologia, especializada em robótica e inteligência artificial, famosa em toda a Ásia Sudeste. Wooyoung lembrava-se de ter encontrado vários produtos da marca quando comprou os eletrodomésticos para seu apartamento. Seu robô aspirador e até a assistente virtual da casa eram da AlphaTech.
— Uau... — Ele suspirou, surpreso, ao encontrar uma matéria sobre uma competição de robôs do ano anterior. A empresa havia conquistado o primeiro lugar, depois de três anos seguidos ficando em segundo. Foi assim que Seonghwa garantiu os votos para assumir a presidência da empresa. — Park Seonghwa sunbaenim! Você mudou muito desde... — A voz de Wooyoung sumiu quando ele abriu a imagem da premiação.
De repente, seu coração disparou de forma dolorosa, e um nó se formou em sua garganta. Ele não conseguia enxergar direito os rostos na foto, sua visão ficou turva assim que leu o nome "Choi San" no telão atrás do palco. Wooyoung abaixou a tela do laptop rapidamente, como se uma criatura estivesse prestes a saltar da tela em sua direção, e levantou-se da cadeira, pálido como se tivesse visto um fantasma.
Talvez tivesse visto mesmo. O fantasma do passado.
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Ampulheta | WooSan
FanfictionApós dez anos longe da Coreia do Sul, Wooyoung retorna em busca de seu passado, ao perceber que sua vida, até então considerada perfeita, era apenas uma ilusão. Ao ser contratado por uma empresa em ascensão, ele se vê obrigado a enfrentar seu maior...