Capítulo 2: Sombra sobre a estrada

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Narradora

O cheiro de sangue ainda impregnava o ar, mesmo depois de tanto tempo de convivência com a morte. Daphne Hale se esforçava para ignorar, mas aquilo sempre se infiltrava em seus sentidos, grudando em sua pele e mente. A vítima na estrada, o sorriso macabro esculpido no rosto... Tudo isso a perseguiria nos próximos dias, talvez semanas. Era impossível apagar as imagens.

Enquanto os peritos faziam seu trabalho, ela observava à distância. Samantha estava conversando com um dos médicos legistas, e Jacob lidava com os policiais. O peso do cansaço já começava a se manifestar no corpo de Daphne, mas sua mente não descansava. Algo naquele caso a incomodava, mais do que os outros. Marcus Crowe havia se tornado uma sombra constante nos seus pensamentos desde que o primeiro corpo apareceu com a mesma assinatura. E agora, mais uma vez, ele se mostrava presente, cruel e inatingível.

Ela se aproximou da vítima, o corpo já parcialmente coberto pelos legistas, que preparavam a remoção. Havia algo na maneira como o corpo estava disposto, quase como se Marcus quisesse que o encontrassem exatamente assim. Ele fazia isso de propósito, claro. Cada detalhe parecia meticulosamente pensado para ser encontrado.

— Alguma coisa fora do padrão? — Daphne perguntou a Samantha, que se aproximava com uma expressão concentrada.

Samantha suspirou, olhando para os papéis que segurava.

— Até agora, nada que não tenhamos visto antes. Cortes precisos, marcas típicas. Mas há algo que me incomoda.

— O que seria? — Daphne perguntou, sua curiosidade já despertada.

— A posição do corpo. — Samantha abaixou a voz, olhando ao redor para garantir que ninguém mais estivesse ouvindo. — Ele sempre coloca as vítimas de maneira similar, mas desta vez o ângulo da cabeça... É quase como se ele quisesse que ela estivesse olhando para algo específico.

Daphne franziu a testa, seus olhos imediatamente se voltando para a direção em que a cabeça da vítima estava virada. A estrada parecia deserta, exceto pelas viaturas e pela vegetação rala ao redor. Nada chamava a atenção.

— O que acha que ele quer que vejamos? — Daphne perguntou, seus instintos de investigadora começando a pulsar.

Samantha balançou a cabeça, ainda incerta.

— Não sei. Mas é diferente. Ele está tentando nos dizer algo.

Daphne observou o cenário ao redor. Ela sabia que Marcus era meticuloso, um homem que deixava pistas intencionais. Ele brincava com a polícia como um gato brinca com um rato. Sempre dois passos à frente, deixando pequenos pedaços de informação para instigar seus caçadores, mas nunca o suficiente para que fosse encontrado.

— Quero que verifiquem a área ao redor — Daphne disse a Jacob, que estava próximo o suficiente para ouvir. — Árvores, estradas próximas, qualquer coisa que possa estar na linha de visão da vítima.

Jacob assentiu e começou a coordenar os policiais para um exame mais detalhado da área. Enquanto isso, Daphne permaneceu ao lado de Samantha, sentindo o peso do caso se agravar.

— E a identidade da vítima? — ela perguntou.

— Ainda não confirmada — Samantha respondeu, folheando os papéis. — Mas pelas roupas e o carro abandonado a alguns metros da estrada, acreditamos que seja uma turista. Talvez uma jovem que viajava sozinha.

Daphne apertou os olhos. "Turista". Não era comum Marcus escolher alguém que estivesse de passagem. Ele gostava de ter um tipo específico de controle sobre suas vítimas, como se estivesse observando-as por tempo suficiente antes de atacar. Isso tornava a escolha de uma turista algo estranho... a menos que ela não fosse uma simples viajante. Talvez tivesse algo a ver com o passado de Marcus, ou com algo que ele queria dizer agora.

— E o carro? — Daphne perguntou, seus pensamentos girando rápido.

— Verificamos — Samantha disse, indicando a direção onde o carro da vítima estava estacionado, logo após uma curva na estrada. — Nenhum sinal de luta. Nenhum dano. Ela foi arrastada para cá, com certeza.

— Verifiquem os registros dela. Quero saber de onde veio, por onde passou. Talvez ele tenha cruzado o caminho dela antes e ninguém notou. — A voz de Daphne saiu firme, uma decisão clara surgindo em sua mente. Se essa garota não foi uma escolha aleatória, ela queria saber o porquê.

Jacob voltou, as mãos nos bolsos da jaqueta, a expressão sombria.

— A estrada está limpa, não encontramos nada de útil. Nem câmeras, nem vestígios de qualquer pessoa além da vítima e de quem quer que a tenha trazido até aqui.

Daphne cruzou os braços, frustrada. Marcus sempre encontrava um jeito de não deixar rastros. Mas algo naquela cena, na maneira como ele dispôs o corpo, parecia uma mensagem.

— O que você acha que ele quer, Daphne? — Jacob perguntou, interrompendo seus pensamentos.

Ela olhou para o horizonte, a estrada se estendendo como uma fita cinza em meio à paisagem árida. As árvores balançavam suavemente com o vento, um contraste brutal com a cena de horror ao seu lado.

— Ele quer que saibamos que está no controle — Daphne respondeu, a voz baixa. — E quer que saibamos que ele está nos observando.

Um silêncio pesado pairou entre os três. A sensação de ser observado, de ser constantemente seguido por uma sombra invisível, era esmagadora. Daphne sabia que Marcus estava perto, mesmo que eles não pudessem vê-lo. Ele estava sempre ali, esperando o momento certo para fazer seu próximo movimento.

— O que faremos agora? — Samantha perguntou, os olhos de Daphne fixos na estrada.

Daphne respirou fundo, seu olhar fixo na direção onde o corpo estava posicionado.

— Vamos segui-lo. Se ele quer nos mostrar algo, vamos descobrir o que é.

Ela sabia que o próximo passo de Marcus já estava sendo planejado. E ela faria o possível para estar lá quando ele decidisse se revelar mais uma vez.

sᴜsᴜʀʀᴏs ᴅᴇ ᴜᴍ ᴀssᴀssɪɴᴏOnde histórias criam vida. Descubra agora