Aether... haaa (+18)

Arlecchino

- Não. - Lyney sussurrou ao longe, como uma repreensão desesperada.

- Idiota. - Lynette comentou secamente.

Enquanto Freminet, inquieto, incapaz de formular uma frase, me encarava em desespero.

Continuei meus passos pela biblioteca da casa deles, em Snezhnaya. A imponência das prateleiras cobertas de livros até o teto faz o ambiente parecer um santuário gelado. Meu destino, porém, não era a arquitetura majestosa ou as páginas desgastadas pelo tempo. Era Arlecchino, sentada, absorta em um livro do qual nunca ouvi falar.

Antes de estar aqui, nessa situação, eu estava em Fontaine. Estava conversando com os três irmãos, estavam se preparando para acompanhar a Arlecchino de volta ao lar, para uma reunião. Acabei pego no fogo cruzado. Ela apenas me segurou em seus braços e me trouxe consigo como se eu fosse o cachorro da família a ser levado para uma viagem. Alegando que é hora de nos conhecermos melhor. Ela sequer perguntou como estou, se estou ocupado ou se quero. Apenas me trouxe consigo.

Parei perto dela, a observando, percebendo o quanto esse livre parece enfeitiçá-la. Ela mal demonstrou notar que me aproximei, mesmo depois que sentei ao seu lado. Aguardei ansioso, três paginas se passaram. Aguardei mais, esperando a atenção dela, mas sua indiferença foi mais forte. Imaginei três páginas, que logo virou um capítulo; sem uma intervenção, será o livro todo.

Estendi meu dedo e toquei sua bochecha, buscando uma forma de tirá-la da leitura. Quando não tive minha resposta, puxei levemente sua bochecha, esperando uma reação. Nada. Apertei mais um pouco, Arle virou seu olhar na minha direção, mas não teve reação. Será que estou atrapalhando?

- Você pode parar? - Perguntou, ainda de rosto neutro, voltando sua atenção para o texto.

- Não. - Bufei. - Eu fui sequestrado, estou entediado e realmente não sei como voltar para onde eu já estava. Por que disse que precisamos nos conhecer se você sequer conversa comigo?

Ela parou, finalmente. Sua mão gélida tocou a minha, pequena e quente, afastando com uma suavidade surpreendente. Seu olhar fixou em mim, agora que chamei sua atenção percebo que talvez minha insistência tenha sido um erro. A força em seu olhar é cortante.

- E você não considerou que eu estava mentindo? - Arlecchino apoiou minha mão na mesa e a soltou.

Meu sorriso persistiu, mas meu peito congelou. Senti o rosto esquentar rapidamente em resposta ao meu interior queimando de vergonha. A ideia de que poderia ser mentira não me ocorreu.

Ela riu, mas não com maldade, como muitos outros fariam. Sua risada parece... divertida. Logo me dizendo sobre o quanto minha reação foi inesperada. Isso não é culpa minha, tendo a acreditar nas pessoas. Se mentem para mim, é falha no caráter deles, não no meu.

Arlecchino verificou o relógio na parede e começou a se levantar. Antes que ela pudesse sair, segurei seu pulso com determinação. Será que ela está indo para aquela tal reunião? Levantei rápido, segurando seu pulso antes que se afastasse da mesa e abri meu sorriso mais determinado.

- Não. - Respondeu, terminando de levantar.

- Eu quero ir na reunião! Por favor.

- Vai ser chata. - Retrucou com simplicidade, começando a vestir seu casaco que estava pendurado.

- Eu suporto.

Começamos a discutir enquanto ela terminava de se vestir. Cada desculpa que ela me deu para não me levar apenas reforçou minha teimosia. Saímos da biblioteca, desviando dos três irmãos que assistiam à cena com olhares tensos. Ela vai precisar de muito mais para me convencer a não fazer algo.