UM: bem-vindo ao Distrito New Adopusburgo!

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Ao adentrar os limites habitáveis do Distrito, viam-se grandes telas piscando, noite e dia, um nome negado: Bem-vindo ao Distrito New Adopusburgo!

Caminhando um pouco pela cidade, confirmaria que ninguém ali chamava seu chão de “New Adopusburgo”. O nome importado não cabia ao povo peripomonga.

Na autoproclamada Província Capim-Mirim, o sol também começava a trabalhar cedinho. Havia quem nem dormisse, graças aos novos farelos de cheirar vendidos pela Confederação.

As nuvens espessas e ácidas espalhavam a claridade da manhã aos poucos, embora Hyein e seu pai já estivessem a caminho da indústria.

Trabalhe pelo bem da sociedade confederada! — dizia a tela enorme no centro de sua rua. Se se concentrasse bem, Hyein conseguia fazê-la piscar e até quebrá-la, mas não queria arriscar.

— Pai, posso ir na Bacia hoje depois do trabalho? — perguntou a menina. Seu pai não entendia por que Hyein gostava tanto de passar horas e horas sozinha num aterro de lixo, mas a deixava.

— Só não demora ‘pra voltar, é perigoso à noite. — Hyein concordou.

Embarcaram no ônibus que ia até a NexGen Industries. A viagem era relativamente rápida e silenciosa. Os outros trabalhadores não conversavam muito quando eram vigiados. Passado um deserto cinza e um horizonte sem fim, atravessavam os portões e muros da indústria, e o pai da Lee logo começava a tossir. O ar era tão denso que dificultava a respiração. Isso preocupava a menina. Hyein não tinha esse problema, pois conseguia selecionar apenas as moléculas de oxigênio para respirar; seu pai, não. Separaram-se para seus respectivos setores, e o dia de todos foi degradado ali.

***

— Minji, a gente precisa de quatro canos de aço, no máximo um metro por 30 centímetros cada, e borracha, uns 50 centímetros, um quilo. — Hanni avisou, alto. — Haerin, sai ainda hoje? — perguntou à menina à sua frente, esta que soldava um pequeno objeto de metal; a Kang berrou um “aham”. Hanni foi até o armário e separou o detector de metais, o contador Geiger, luvas grossas de borracha e uma bolsa preta.

Minji deixou que Hanni botasse a bolsa sobre seu ombro dolorido, e depois deixou que ela calçasse as luvas em suas mãos.

— Não esquece de botar a máscara — apontou para a máscara com respirador, filtro embutido e visor dentro da bolsa. — e ligar o contador quando ‘tiver perto da Bacia, okay? — Minji balançou a cabeça, olhando “de cima” para Hanni.

— Vou ganhar um Dimorf quando eu chegar?

— Sim… e uma massagem. — Minji sorriu com a resposta.

— Vocês sabem o que a Confederação faz com homoafetivas desviantes como vocês? — Haerin perguntou ao longe, as provocando.

— Como se você não fosse no boteco só ‘pra ver a Dani cantar, né? — Hanni rebateu, e Haerin calou-se.

Minji foi à garagem do galpão, subiu na moto e, alguns atalhos depois, chegou à Bacia. Chegou em tempo de ver algo que a fez tirar a máscara, mesmo estando frente a um depósito de lixo industrial-nuclear.

São João na terra do bicho-papão | NEWJEANS | Bbangsaz & DaerinOnde histórias criam vida. Descubra agora