— Minji... acho que você 'tá alucinando. — Haerin levantou a hipótese após ouvir a história.
— Eu 'tô falando sério. — Minji se reafirmou e sentou no sofá do galpão.
— Tem certeza que você não... — Hanni encostou a ponta do dedo na própria narina. — ...antes de ir?
— Não! Eu não 'tava imaginando coisa. Eu vi mesmo.
— Tá, pera... — Haerin pegou sua muleta e andou até ficar de frente para Minji. — Você foi na Bacia, um lugar cheio de lixo radioativo, e viu objetos de metal flutuando em cima da mão de uma menina enquanto ela transformava esses objetos em... água. E ela emitia uma "luz estranha"... — a Kang ligou uma pequena lanterna na altura dos olhos de Minji, confirmando que suas pupilas não estavam dilatadas, e ela provavelmente falava a verdade.
— Eu não 'tava delirando, não tinha tomado nada e 'tava de barriga cheia. — Hanni, desconfiada de que a KIm estivesse brincando, segurou firme na gola da blusa dela. — É sério... — Minji confessou mais uma vez e fitou rapidamente os lábios da mulher que a ameaçava.
— Traz ela aqui amanhã então... pede 'pra ela transformar isso aqui — Hanni levantou uma lata de energético. — em água. Quero conhecer essa Jesus.
— É, Minji, não faz muito sentido... Por que uma pessoa com habilidades tão... diferentes estaria entre nós, e não trabalhando nos Oásis da Confederação? E como ela conquistou a habilidade de transformar aço em água? Nada de bom ou impressionante fica aqui, nas colônias. A gente fica com os restos, com o que deu errado, com o lixo.
— Eu vou, sim, trazer ela aqui, e ela vai mostrar 'pra vocês duas, descrentes, que há milagres em todos os cantos. Valendo dois miojos e uma lata de soro de leite. — Hanni e Haerin se entreolharam, impressionadas com a firmeza nas palavras de Minji.
***
Haerin não gostava muito de ir aos cultos; não acreditava em todos os sermões do pastor, não achava que deveria seguir tudo que liam na Bíblia. Claro, ela não expressava suas crenças e descrenças em voz alta. Mas Haerin gostava dos louvores. O som dos instrumentos e do canto lhe agradavam os ouvidos. Agradava-lhe principalmente quando Danielle cantava. Todas as manhãs dominicais, no púlpito da praça da cidade, Danielle conduzia o microfone e direcionava sua voz a Deus. Haerin, sem falta, a prestigiava na plateia, em meio a cristãos muito mais devotos que ela. Eles levantavam as mãos e sorriam para Deus e sua fé. Haerin sorria para Danielle.
Após algumas músicas, Danielle devolveu o microfone ao pastor, que finalizou o culto mostrando novos produtos: óculos e fones que te fazem entrar em contato com o Espírito Santo, roupas ungidas e livros que te ensinam a viver com virtude. Logo formou-se uma fila entre a multidão para comprar as mercadorias.
Haerin sentiu uma mão em seu ombro e virou-se para observar uma Minji sorrindo grande; ao lado, uma menina alta e de longos cabelos pretos.
— 'Tá me devendo miojo e soro de leite.
***
— Hanni, olha quem 'tá aqui. — Minji berrou, assim que entraram no galpão. A Kim levou Haerin, apoiada no ombro dela, até a cadeira acolchoada. Minji olhou para a menina misteriosa e apontou para o sofá, ela que logo sentou e esperou cumprir sua parte do combinado.
Hanni apareceu com óculos de proteção e os braços sujos de graxa. — Como você conseguiu convencer a menina a te seguir até um galpão? — questionou, limpando os braços e caminhando até perto de Haerin.
— Talvez eu tenha combinado uma troca justa com ela. — respondeu Minji, olhando para as próprias unhas. Haerin riu.
— Ah, não... — Hanni resmungou, pois sabia que sairia de seu bolso.
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São João na terra do bicho-papão | NEWJEANS | Bbangsaz & Daerin
Fiksi IlmiahO Distrito New Adopusburgo, zona industrial-nuclear colonizada e repopulada após a Grande Guerra, se dividia entre as luzes neon das telas e o cinza desértico dos arredores. Lá, eram proibidas as festas antigas, os costumes do povo peripomonga e as...