PRÓLOGO

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Prólogo

Sully Kamari van der Meer Visser Aleno era apenas uma criança quando descobriu o que a tornava diferente. Na pequena ilha onde cresceu, os dias eram tranquilos e o mar sussurrava histórias antigas. Mas havia algo mais, algo sombrio e oculto, uma verdade que se escondia nas sombras e nos reflexos.

Tudo começou com um acidente, ou pelo menos foi o que todos disseram. Cassandra, sua mãe, caiu do barco numa noite em que o vento parecia mais forte e as ondas mais furiosas. O motor do barco falhou, e em um instante ela desapareceu nas profundezas. Os habitantes da ilha lamentaram a perda, chamaram de tragédia, de destino cruel. Mas Sully sabia que não era tão simples.

Na noite em que Cassandra se foi, Sully viu algo estranho no reflexo da água. Um vulto que não era o seu, uma presença que a encarava do outro lado. Sem entender, ela afastou o olhar, mas aquilo a perseguiu. Primeiro nos vidros das janelas, depois nas superfícies polidas e, finalmente, nos próprios olhos de outras pessoas. Eram os mortos, disse sua avó em um sussurro temeroso. Espíritos presos, ansiando por serem vistos.

Ao tentar fugir dessa maldição, Sully se refugiou em estudos, na busca incessante por respostas. Usava óculos de grau, torcendo para que a visão embaçada a protegesse dos espíritos que espreitavam cada movimento seu. Funcionou por um tempo, até que Melissa, uma colega de escola, veio com um pedido impossível: queria que Sully ajudasse a falar com o espírito de seu irmão.

Relutante, Sully aceitou. No entanto, o que deveria ser uma simples comunicação transformou-se em um pacto sombrio. O espírito, furioso e desesperado, lançou sua raiva sobre Melissa. Dias depois, um acidente tirou a visão da garota. Sully então entendeu o custo de seu poder: brincar com os mortos era brincar com o destino. As consequências eram incontroláveis.

Desde então, Sully se fechou. Mentia para aqueles que procuravam sua ajuda, tentando proteger a todos - inclusive a si mesma - do desastre. Mas o destino parecia decidido a colocá-la no caminho dos espíritos, a testá-la. Ninguém sabia dos horrores que ela enfrentava toda vez que olhava seu próprio reflexo.

Agora, longe da ilha que a viu crescer, Sully luta para manter a normalidade em uma cidade desconhecida. A vida no colégio é cheia de desafios banais para a maioria, mas para ela é um campo minado. A curiosidade e o interesse dos outros são perigosos. E então, em um dia qualquer, no reflexo de um colar antigo, Sully vê uma garota. Diferente dos outros espíritos, esta parece esperar por ela, como se soubesse o que está por vir.

A presença da garota no colar é um presságio, um aviso silencioso de que o passado não ficou enterrado no mar. Sully precisará enfrentar os segredos que tentou esconder - e descobrir se ainda pode encontrar redenção ou se sua maldição a condenou a viver entre os vivos e os mortos, sem jamais pertencer a nenhum dos dois mundos.

Além Do Reflexão: Sombras Do Oculto Onde histórias criam vida. Descubra agora