Capítulo 1

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(Mia)

Encaro o meu reflexo no espelho enorme do meu quarto e só consigo pensar em como qualquer outra mulher estaria em êxtase com esse vestido. O longo vestido branco é em camadas e da mais fina renda, todo bordado a mão e o longo véu cai perfeitamente sobre mim, como em um sonho. A estilista Courtney Rossi, que confeccionou essa obra de arte, veio em pessoa me ajudar a vesti-lo para o meu "grande dia". Privilégios que só o dinheiro dos Campbell podem comprar.

- Belíssima, Mia! - ela diz com o seu sotaque forte quando acaba de fechar o último botão - Você é a noiva mais linda que eu já vi!

O meu cabelo vermelho escuro está em ondas bem definidas, a maquiagem suave que uma das profissionais contratadas fez em mim, destaca os meus olhos verdes e a minha boca bem marcada. As longas camadas de tecido, apesar de serem mais do que exageradas, se alinham perfeitamente ao meu corpo, destacando as minhas curvas de forma sexy e elegante. Tenho certeza que nunca estive mais linda na minha vida. Nem mais infeliz.

Dou um sorriso contido, sem conseguir me forçar a ficar animada com a situação que me encontro. Eu não deveria ter aceitado me casar com o nojento do Daniel. De todas as más decisões que já tomei nesses meus vinte e um anos, essa definitivamente foi a pior e com a mais grave consequência.

Não é uma surpresa que eu tenha cedido aos apelos do meu pai adotivo. Desde que fui adotada, ele me tratou com um pouco menos de desprezo do que a minha mãe, então acabei sendo mais leniente com ele em busca de qualquer aceitação da sua parte.

Era de se esperar que um casal mais velho, que nunca conseguiu ter filhos e sempre desejou com paixão serem pais, que quando eles adotassem uma menininha órfã de doze anos eles a tratariam com o maior amor do mundo. Doce engano. Muito rapidamente descobri que eles só queriam um adorno para enfeitar a sua vida já considerada perfeita. Ricos, bonitos e bem relacionados, só lhe faltavam uma descendência. E assim que eles me trouxeram para casa, ficou claro para mim que eu deveria ficar quieta e não esperar absolutamente nada dos dois.

Quando fui escolhida por eles, me senti premiada. Foi o dia mais feliz da minha infância miserável. Depois de passar a minha vida quase inteira em lares temporários, já havia perdido as esperanças de um dia ter uma família. E então, um dia como outro qualquer, esse casal multimilionário entra pela porta da casa simples que eu estava morando e me resgata.

De uma certa forma, sei que estou melhor aqui do que estaria se eles não tivessem me adotado. Tive a melhor educação, falo três línguas e viajei e comprei coisas que nunca poderia imaginar ser possível. No entanto, a única coisa que nunca tive, foi o amor e aceitação do senhor e senhora Campbell.

Pelo contrário, eles sempre se mantiveram bem longe de mim. Só aparecendo quando queriam me mostrar para os seus outros amigos ricos. Nesses momentos eles agiam como pais amorosos, mas o ato acabava rapidamente quando chegávamos em casa. Eles me jogavam para as babás e continuavam a vida normalmente.

- Ficou muito bom mesmo. - Bárbara diz com uma voz severa - Agora tente andar com uma postura mais ereta. Não quero você como uma corcunda nas fotos.

Ah, o amor de mãe! Todo micro elogio tem que vir com uma macro ofensa para balancear. Com quinze anos isso me faria chorar e duvidar de mim mesma, hoje só acho engraçado. Foi iluminador quando finalmente entendi que nada que eu fizesse seria o certo para Bárbara Campbell. Nenhuma quantidade de boa educação e aparência perfeita seriam o bastante para fazê-la feliz. Então, escolhi não participar dos joguinhos dela, e só ignorar as suas tentativas de bullying. A verdade é que ela não pode se ajudar. Já a vi conversando com as amigas, e é desse mesmo jeito. Todas jogando ofensas em forma de elogios com risadas passivo agressivas. É simplesmente muito triste.

VINTE E UMOnde histórias criam vida. Descubra agora