VINTE E UM

Capítulo 4

(Mia)

- Não se preocupe, - Doc fala atrás de mim, me tirando do transe em que estava - Shade olha para todo mundo assim, como se quisesse matar. Não é pessoal.

Shade. O homem incrivelmente lindo e apático tem um nome bem adequado, porque posso quase sentir a escuridão ao seu redor. Esse é um homem que já viu e fez muita coisa, e tenho certeza que esse olhar vazio que ele ostenta vem das sombras do seu passado. E ainda assim, mesmo que todas as bandeiras vermelhas e sinais de alerta estejam piscando no meu cérebro, não consigo deixar de achar que ele é o homem mais interessante que já vi em toda a minha vida.

Volto a minha atenção para ele, e percebo que agora além de estar com uma expressão assassina, começa a andar em minha direção. Quem é esse homem e por que apesar do seu claro ódio por mim eu só consigo pensar em como seria ter os meus lábios nos dele?

- Tem certeza? - colo as minhas costas no balcão de madeira como se tentasse me fundir a ele - Ele parece bem puto comigo.

Quando Shade está a três passos de distância de onde estou, ele para e fixa o seu olhar no meu rosto. Não, ele não só fixa os seus olhos gelados no meu rosto, ele me contempla, examinando as minhas feições com cuidado, fazendo com que eu me sinta a única pessoa no bar. Ou quiçá do mundo.

Fico imóvel sob o seu escrutínio, incapaz de desviar a minha atenção do homem enigmático na minha frente. Os olhos me observando são inacreditavelmente cinzas, como nada que eu já tenha visto antes, e queimam na minha pele como se fosse um toque real. Com ele tão perto de mim, posso ter uma melhor noção do seu tamanho e puta merda! Nunca vi um homem tão grande e forte como ele. Ele tem o tipo de físico que um guerreiro atinge depois de anos lutando. Ele se parece mesmo com um soldado, porém sem aquela áurea de obediência que quem passa pelo exército em geral tem. Não, não acredito que Shade faça qualquer coisa que ele não queira. Pelo contrário, tenho certeza que ele é o mestre do seu universo. Ele é o executor e planejador da sua vida, e o perigo que exala dele é só mais um aviso para que todos saibam que precisam ficar longe.

Tenho certeza que deveria sentir muito mais medo do que estou no momento. Não é que eu não esteja receosa, porque claro que um homem enorme e furioso bem na minha frente é algo para se temer. Porém, para a minha surpresa, o sentimento que mais se destaca dentro de mim é desejo. Puro e escaldante desejo, como nada que eu já tenha sentido antes.

Por um momento sinto que o bar fica em silêncio nos observando, mas não ouso desviar o meu olhar para ter certeza. Shade começa a hiperventilar, seus olhos injetados com o que parece uma fúria crua.

- Porra, Shade! - Doc reclama com uma voz dura - Você está assustando a menina.

Ele não responde a princípio, muito ocupado me inspecionando para dar atenção a qualquer outra pessoa. Quando se passam alguns longos segundos, ele abre a boca e uma voz rouca e sensual me atinge.

- Ela não deveria estar aqui. - ele finalmente fala sem quebrar o nosso olhar.

De tudo o que aconteceu hoje, por algum motivo louco é isso que engatilha o meu ódio. E muito sabiamente, eu decido comprar uma briga com o motoqueiro mais mal-encarado de um bar no meio do nada. Onde não só estou sozinha, como ninguém sabe que estou aqui.

- Eu posso estar onde eu bem quiser estar. - levanto o meu queixo e tento esconder o tremor nas minhas mãos para que ele não saiba como me afeta - E você está atrapalhando a minha diversão.

Se antes ele estava furioso, agora ele parece lívido. Seus pulsos se fecham com força ao lado do seu corpo, e tenho certeza que escutei um som bem parecido com um rosnado vindo da sua garganta. Esperta, Mia, isso mesmo cutuca a fera.