CAPÍTULO 2

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DIA 2 - CARTA 2°:

Hoje eu tive um sonho, um sonho um pouco estranho com aqueles olhos. Ele a todo o momento me olhava e depois voltava à atenção as crianças esbanjando suas covinhas que me deixaram hipnotizada. O que isso quer dizer, omma?
Porque meu coração acelerava toda vez que ele olhava para mim?
Isso já aconteceu com a senhora? Se sim, poderia me dizer o porquê disso?

Com amor, Eun-bin e borboleta prisioneira.

...

KIM EUN-BIN

Ontem, no evento beneficente...

Parece que tudo em minha volta havia sumido, o barulho das folhagens ecoava longe e a voz das crianças, e suas risadas também ecoavam longe. Mas ele, ele eu escutava alto e em bom som, prestava atenção em cada palavra que saia dos seus lábios levemente grossos e sentia meus dedos formigarem ao sentir vontade de afundar a ponta dos meus dedos em suas covinhas.

Ele é atraente de uma forma que nunca sequer achei um homem atraente. Eu posso ter vivido minha vida inteira nesse hospital, mas conheci e conheço homens nesse hospital e nenhum me chamou tanta atenção. Nem sequer meu melhor amigo Jimin, que assim como eu, também tem uma doença terminal.

A diferença é que a doença nele está localizada no fígado e doenças no fígado não tem cura.

Eu o conheci quando tínhamos 13 anos e foi na biblioteca que tem aqui no andar. Ele que chegou em mim, eu estava isolada em um canto e ele em silencio simplesmente sentou ao meu lado, e assim que olhou para mim, ele sorriu e perguntou meu nome. Assim como eu, ele também colocou o nome em seu tumor, o Sr. Destruidor, pois aos poucos ele está destruindo seu corpo.

É engraçado como lidamos com nossa doença, apenas aceitamos e esperamos o momento que ela nos levará.

Meus pensamentos são interrompidos quando seus olhos novamente cruzam com o meu, sinto um calor subir em minhas bochechas e decido cortar o contato visual, olho em volta e percebo que tinha apenas nós dois ali, as crianças já tinha ido embora e ele já não estava mais sentado no banquinho, ele já guardava seus livros.

Decidida a ir embora, sem coragem alguma de pelo menos dizer um oi para o mesmo, eu me viro de costas para ele e quando minhas pernas se movimentam, algo faz me parar.

- É a primeira vez que vejo uma jovem em um evento como esse. Geralmente são apenas crianças. – Sua voz levemente grave me faz virar para o mesmo, que tinha um sorriso mínimo no rosto.

- Minha... Minha mãe pediu que eu viesse e vim. – Minha voz soa baixo, quase não sendo possível escutar. Fazendo que ele inclinasse um pouco a cabeça para ficar mais próximo e escutar o que eu havia dito.

- Aah... – Ele murmura e faz o mesmo que eu, desvia o olhar e olha para os lados, deixando um silencio entre nós dois. Mas que logo foi cortado por ele. – Gostou da leitura?

Leitura? O que ele havia lido mesmo?

- E-eu achei legal. – Minto, não querendo deixar claro que eu nem sequer estava prestando atenção na leitura e sim nele.

- É realmente interessante a lebre voar sobre um elefante com um tapete magico, depois encontrando uma tartaruga falante que tinha o corpo de uma cobra branca e amarela.

- Sim e... – Começo a falar e depois paro de falar ao perceber as coisas sem sentido que ele havia falado. Olho para ele com expressão de confusão e o mesmo alarga o sorriso até se transformar em risada.

Eu tinha sido pega. Agora ele sabe que eu não estava prestando atenção no que dizia.

- Aigo... Onde sua linda cabecinha estava? – Ele cutuca levemente o topo da minha cabeça.

Foi um gesto rápido e leve, mas que causou um forte frio na minha barriga e fez meu coração saltar forte, e acelerado.

Minha boca abre e fecha, mas nenhuma palavra saia da minha boca, nenhuma palavra sequer se formou em meu cérebro como se tivesse tido um pane.

Puxo o ar, passo a língua nos meus lábios secos e me preparo para responder, mas antes que pudesse algo me interrompe.

- Eun-bin, filha. Vamos embora?

Era minha mãe e sem protestar eu fui. Eu fui embora sem me despedir do mesmo, pois sabia que eu nunca mais o veria.

Dia seguinte...

A vista na janela não se compara aos olhos castanhos escuros e o sorriso em covinha, em minha mão a segunda carta feita no dia estava amaçada pela forma que eu a segurava, o segurava com força na mesma medida que mordia meu lábio inferior.

Sabe a sensação de querer se apaixonar e não poder?

Após o sonho que tive, após escrever a carta do dia, Seokjin fez mais uma das visitas para ver como eu estava e eu aproveitei que estávamos apenas nós dois, eu perguntei sobre o que significava o que eu havia sentido e sonhado. A resposta?

"Talvez o que aconteceu chamamos de amor à primeira vista. As borboletas no estomago e o coração acelerado. Tudo em sua volta sumir e apenas ele ser o que você consegue enxergar, é típico de amor à primeira vista." – Ele responde, e me sinto mais confusa.

"Você... você já sentiu isso?" – Pergunto para ele e o mesmo da um sorriso enorme.

"Sim. Foi isso que senti quando olhei para minha esposa e mãe dos meus filhos." – Ele diz com brilho nos olhos e senti um aperto.

Eu ainda sinto, mas não sei o porquê. Talvez seja por não poder viver isso.

Eu conheço o amor à primeira vista, os variados livros que li descreviam perfeitamente o que é e como é o amor à primeira vista, mas a realidade é totalmente diferente da ficção.

Não podia. Não posso e não poderei viver isso.

O bolo se formou em minha garganta e a primeira lagrima deslizou em minha face.

Eu queria poder viver esse sentimento, queria poder ir a encontros e até mesmo namorar. Mas como faria se tenho pouco tempo de vida? Ele foi o primeiro homem que me interessou e já se foi, não o verei nunca mais e ele já nem sequer deve se lembrar de mim.

Qual seria a próxima coisa que eu perceberei que não poderei fazer? Que eu irei perceber que não tenho tempo para isso? Que meus dias estão contados e que mesmo se eu tentasse, não seria justo com a outra pessoa?

É assim que nós pessoas com data pra morrer pensamos antes de fazer ou sentir desejo de algo, sempre pensamos no depois e na outra pessoa, a pessoa que ficará.

- Filha. – Escuto minha me chamar e eu me viro para ela, mas fecho os olhos por alguns segundos quando sinto uma forte tontura. – Olhei o cardápio do almo... Filha, o que houve com seu nariz?

Levo minha mão até meu nariz e sinto algo úmido na ponta dos meus dedos, afasto minha mão e vejo sangue.

Foi em questão de segundos, mas o tempo suficiente para escutar minha mãe gritar meu nome, minha visão ficar turva e meu corpo se chocar contra o chão.

Mais uma vez a borboleta prisioneira querendo se libertar.

100 Cartas para os meus 100 dias - Kim Namjoon (hiatus)Onde histórias criam vida. Descubra agora