DIA 1 - CARTA 1° :
Hm, não sei o que escrever de verdade. Nunca precisei fazer isso, mas cá estou eu, escrevendo a primeira carta.
Hoje é o primeiro dia até minha morte. Agora faltam 99 dias e eu me sinto um dia menos viva. Eu sei que planejei escrever apenas coisas bonitas para que não fiquem tristes quando lessem as minhas cartas, mas nesse momento eu não consigo, eu não consigo escrever uma palavra bonita sequer.
O dia amanheceu nublado, nenhum sol estava presente e nem sequer havia um pássaro cantarolando em minha janela. As enfermeiras me olhavam com pesar, me acariciavam mais do que o costume e diziam para eu ser forte e eu não consigo, eu irei morrer.
Mãe... Por que sinto que está morrendo junto comigo? Porque sinto que quando eu for, você irá também?
Não vá. Eu preciso que se mantenha viva para viver o que eu não pude viver. Então, por favor, viva.
Eu prometo, que do céu ou de qualquer lugar que eu estiver, eu irei cuidar da senhora e protegerei de todo mal.
Então, por favor, viva.
Viva.
Viva.
E viva.
Com amor, Eun-bin e Borboleta prisioneira.
...
KIM EUN-BIN
Eu não sei dizer o que eu estou sentindo, talvez meus sentimentos morreram antes de mim e eu apenas estou aqui esperando minha vez.
Não consigo olhar para minha mãe. A sensação de ver ela morrendo juntamente comigo é torturante demais, chega ser mais torturante que a dor que a borboleta prisioneira me causa.
- Filha. – Minha mãe me chama e eu a olho. Ela parece mais abatida do que antes. – O café chegou.
Meus olhos vão para a mesa com varias coisas para eu comer, juntamente com um vaso de flores que antes não estava. Provavelmente colocaram para trazer alguma alegria para mim.
Eu gosto de flores, mas parece estranho agora.
- Omma, quem trouxe essas flores? – Pergunto ao me aproximar do vaso. Eram hibiscos.
- As enfermeiras deixaram para você. São lindas não é?! – Ela responde sorrindo, acariciando minha cabeça raspada.
Com o passar dos anos, eu aceitei a situação dos meus cabelos. Aceitei que eles não voltariam a ser como antes e por mais que eu pudesse deixa-los crescer – algo que já fiz – vai cair tudo novamente, então eu apenas desisti de deixar crescer e raspo, ou espero cair tudo novamente.
Eu uso uma touca quando vou sair. Uso peruca quando me deixam sair do hospital para conhecer alguns lugares já que eu vive minha vida inteira no hospital.
Tentei ir pro ensino médio quando permitiram e tiveram esperança que eu conseguiria aguentar. É engraçado, por que aguentei apenas uma semana e tive a crise de dores de cabeça na frente de todos da sala.
Foi o pior dia da minha vida, foi o dia que eu percebi que eu não conseguiria ser uma adolescente normal e nem uma futura jovem adulta normal.
Eu desisti. Desisti de muitas coisas e inclusive da faculdade.
Meu sonho é fazer faculdade de teatro, vejo as series e novelas coreanas com brilhos nos olhos, me imaginam ali atuando para a TV. Mas, não passa de sonho.
Um sonho que eu não vou realizar.
Eu poderia até não ter desistido, insistido quando tive a oportunidade, mas agora não tenho mais. Como farei se tenho apenas 99 dias de vida?
- Nunca me deram flores. – Digo ainda olhando para as flores. – Os vivos deixam de entregar as flores para os vivos, e só se lembram de quando morremos.
- Eun-bin!
- É verdade, omma. – Dou de ombro e me sento à mesa.
Em silencio eu pego o bolo de frutas vermelhas. É meu bolo favorito, sempre dão bolo de frutas vermelhas em meu café da manhã, então não é algo que eu ache estranho por estarem fazendo agora.
- Hoje irá ter um evento voluntario no hospital para arrecadar dinheiro para o instituto do câncer. – Minha mãe começa a falar. – Seria legal ir, o que acha?
Olho para minha mãe e vejo em seus olhos uma esperança, eu sei o que ela está tentando fazer, ela quer que eu saia do quarto com medo de que eu morra antes do planejado.
Ela quer que eu viva o tempo que restou para mim.
- Omma...
- Por favor, filha. – Ela junta as mãos e ergue em frente ao seu rosto. – Você precisa sair desse quarto. Você nunca vai nesses eventos, deveria ir pelo menos uma vez.
- Só terá crianças lá. – Murmuro não sentindo vontade alguma de ir para esse evento.
Eu não estou mentindo. Só vai ter crianças lá e eu não sou mais criança.
- Que mal tem? Vai ter o setor de livros e você é apaixonada por livros. – Os dedos magros e delicados da minha mão deslizam sobre minha face. – Filha, por favor... Viva um pouco.
...
O local está cheio de crianças, correndo por todos os lados como se fossem as crianças mais saudáveis do mundo, mas sabemos que não são.
Eu sei que a metade dessas crianças são como eu, tem data para morrer. Mas, diferente de mim, elas parecem querer viver o tempo que lhe restam.
- Olha que legal, filha. – Minha mãe diz animada ao meu lado, ou tentando ser animada.
Enorme pátio de eventos do hospital está decorado como se fosse um jardim, as flores desenhadas na parede traziam cor ao lugar branco e melancólico. Também havia esculturas de flores por toda parte e no centro havia um mini palco, ou uma pista de dança. Já um pouco mais pra trás também tinha outro palco, mas com um pedestal, uma cadeira e um suporte para algum instrumento. Do lado de fora, onde realmente está o jardim, tinha outro palco e uma cadeira, com uma mesa ao lado.
Tenho que admitir, eles deixaram esse lugar com vida pela primeira vez.
- Venha parece que vai começar.
Minha mãe me puxa para não sei onde e apenas a deixo me levar, juntamente com as crianças olhamos para o palco no centro e não demora para três homens subirem no palco, cada um com estilos diferente. O mais alto foi o que me chamou atenção, seu cabelo recém-cortado estava penteado perfeitamente para trás, usava um óculos de grau que combinava com sua roupa social. Ele tinha um sorriso pequeno no rosto, mas o suficiente para esbanjar suas covinhas.
O do meio era o mais baixo entre os outros dois, sua pele pálida e seus longos cabelos pretos combinava perfeitamente com ele, sua roupa preta e larga parecia daqueles cantores rappers. Mas, diferente dos outros dois por mais que estivesse sorrindo, ainda sim era o mais sério.
Já o terceiro era o mais sorridente e sua roupa era colorida, sua camiseta branca com espirros coloridos de tinta e sua calça jeans larga combinavam com a touca verde que usava na cabeça. Definitivamente ele exala alegria.
- Olá crianças... – O sorridente começa a falar olhando para as crianças. – Mães, pais... – Seus olhos logo recaem sobre mim e eu me encolho. – E jovens. É uma honra estarmos presentes em mais um evento beneficente do Hospital Center Seul. Eu sou Jung Hoseok.
- Olá, eu sou Min Yoongi. – O do meio e o mais sério, se curva após se apresentar.
- Olá, e eu sou Kim Namjoon. – O mais alto da um sorriso mais amplo e deixa suas covinhas mais evidentes. – Nós somos os sonhadores e assim como toda criança, temos sonhos e viemos ajudar vocês realizarem seu sonho...
E se meu sonho for...
Ficar viva?
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100 Cartas para os meus 100 dias - Kim Namjoon (hiatus)
Roman d'amourÉ ver ali, diante dos seus olhos que sua vida tem data para acabar. Oque você faria se fosse com você? Como reagiria quando seu medico dissesse que você tem apenas 100 dias de vida e que mesmo que tentassem de tudo, as chances de sobrevivência são q...