Capítulo 1 - Luz e Trevas

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Antes que possam compreender o presente, devem primeiro se voltar ao passado, há três mil anos, quando o mundo era vasto e selvagem, e dragões e monstros vagavam livres sobre as terras, dominando as eras. Esse tempo, esquecido por muitos, mas ainda vivo nas canções mais antigas, seria conhecido como a Era dos Primeiros Magos, quando as forças primordiais da criação ainda eram tocadas por mãos mortais.

Naqueles dias, poucos entre os seres dominavam o poder do Aethem — o que, na língua antiga de Isilvar, significa "Aether" — a energia primordial que permeia todas as coisas. Todos os seres vivos nascem dela, mas apenas os mais poderosos conseguem extrair seu verdadeiro potencial. E, no entanto, os humanos, frágeis em corpo e alma, eram considerados os mais fracos entre as criaturas. Isso, contudo, mudaria.

O nascimento de dois irmãos gêmeos — Antares e Erebos —, alteraria para sempre o destino da humanidade. Nascidos em tempos de escuridão e incerteza, eles trouxeram consigo uma promessa de mudança, uma nova era. Mais tarde, eles seriam lembrados nas lendas como "A Canção de Luz e Trevas", nomes entoados nos salões dos reis e nos corações dos que viveriam sob o seu legado.

A chegada desses dois ao mundo não passou despercebida. Seus nascimentos foram sentidos por todas as criaturas, do mais humilde camponês ao mais poderoso mago. Embora fossem gêmeos, suas aparências contrastavam como o dia e a noite. Antares possuía cabelos dourados, brilhantes como o sol nascente, e seus olhos resplandeciam com o brilho dourado das estrelas. Erebos, por sua vez, tinha cabelos brancos como a neve recém-caída e olhos tão profundos quanto o abismo da noite, de um azul escuro que falava de mistérios antigos.

Por nove anos, eles viveram em paz ao lado de sua mãe, Reia, uma mulher de grande sabedoria e amor, que os criou com ternura. Mas essa paz foi tragicamente interrompida numa noite sem lua, quando as estrelas, em silêncio, se recusaram a brilhar. O mundo pareceu segurar a respiração quando uma série de ataques de dragões, criaturas até então adormecidas nas montanhas mais distantes, começou.

Naquela noite sombria, as vidas de Antares e Erebos mudaram para sempre. Azathoth, o Dragão do Vazio, uma criatura de poder inominável, desceu dos céus. Ele era maior que qualquer dragão registrado nas antigas lendas: suas escamas negras eram como a própria escuridão materializada, suas garras afiadas como as lâminas das melhores espadas, seus dentes longos e afiados como lanças. Nada escaparia de seu caminho. Na tentativa de proteger seus filhos, Reia foi levada por Azathoth, desaparecendo nas trevas da noite.

Assim, o destino de Aetheria começou a ser forjado, e as sementes de um futuro incerto foram plantadas no coração dos dois irmãos, destinados a mudar o curso da história para sempre.

Os gêmeos, impotentes diante da força avassaladora que o grande dragão negro demonstrara, ficaram petrificados. Suas mentes fervilhavam com pensamentos de impotência: "Se ao menos eu fosse mais forte", pensava Erebos, enquanto Antares, ao seu lado, compartilhava o mesmo lamento. O arrependimento e a raiva começaram a envenenar seus corações naquele instante, enquanto o vulto colossal do dragão desaparecia no horizonte sombrio, levando consigo sua mãe e toda a esperança que ainda restava.

Por muitos dias, o mundo pareceu desmoronar ao redor dos dois irmãos. Suas jovens almas, dilaceradas pela perda, decidiram abandonar o vilarejo destruído, embarcando em uma jornada através das vastidões de Aetheria, o mundo que ainda não compreendiam totalmente. À medida que viajavam, começaram a aperfeiçoar suas habilidades no uso do Aether, a energia primordial que sustentava toda a vida. O destino havia os agraciado com o dom natural de manipulá-la, mas seus corações estavam carregados pela sombra da vingança.

No mundo em que viviam, o Aether se dividia em seis elementos primordiais: Fogo, Água, Terra, Vento, Luz e Escuridão. Era dito pelos sábios de eras passadas que aqueles que dominassem esses elementos poderiam moldar o próprio destino, mas, para os humanos, tais feitos ainda eram raros. Erebos, o mais velho, foi abençoado com o controle de cinco dos seis elementos, exceto a Luz. A Escuridão, contudo, fluía por ele como um rio subterrâneo, sendo a força mais poderosa que comandava. Antares, o mais jovem, era sua contrapartida; a Luz era seu dom supremo, e a Escuridão, o único elemento que lhe escapava. Os dois formavam, assim, os opostos perfeitos, gêmeos não apenas no sangue, mas também na ordem cósmica.

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