Rebeca Andrade's point of view(Rio de Janeiro, seis meses atrás)
O Rio de Janeiro sempre foi o lugar onde eu encontrava o meu equilíbrio. O calor, o mar e o ritmo da cidade de alguma forma me faziam sentir que eu podia respirar entre uma competição e outra. No entanto, eu nunca imaginei que o maior desequilíbrio da minha vida viria justamente daqui.
Eu o conheci no hospital, durante uma consulta de rotina. Eu havia machucado o tornozelo em um treino exaustivo, e meus técnicos insistiram que eu fizesse exames para garantir que não era algo mais grave. Eu me lembro de pensar que era apenas mais uma lesão entre tantas outras, algo passageiro.
Ele entrou na sala de exames e tudo mudou.
— Rebeca Andrade, não é? — Ele sorriu, aquele sorriso fácil que eu logo entenderia ser a arma mais perigosa dele. — Eu sou o doutor Luís Fernando.
Eu sorri de volta, ainda sem perceber o que estava por vir. Era só um médico, pensei. Só mais uma consulta. Ele era charmoso, sem dúvida, com seus 28 anos e aquele olhar curioso, como se estivesse acostumado a resolver problemas. Eu apenas não imaginava que ele se tornaria o meu.
A consulta foi rápida, sem nenhuma surpresa. Algumas recomendações, exercícios, o básico. Mas, quando saí de lá, senti que algo estranho havia acontecido. Eu não conseguia parar de pensar naquele sorriso, no jeito como ele falou meu nome. Durante os dias que se seguiram, o pensamento dele me acompanhava de uma maneira inexplicável, como se estivesse à espreita, nas sombras dos meus treinos e nas minhas horas de descanso.
Alguns dias depois, voltei ao hospital para uma consulta de acompanhamento. O tornozelo estava melhor, mas a tensão que eu sentia sempre que o via havia crescido. Desta vez, no final da consulta, ele foi mais direto.
— Olha, Rebeca, se precisar de qualquer coisa, pode me ligar. — Ele me entregou um cartão. — Mesmo que não seja sobre seu tornozelo.
Eu ri, achando graça do flerte, mas guardei o cartão. Eu sabia o que ele queria dizer, e uma parte de mim gostava da atenção. Mas outra parte estava desconfortável. Isso era errado, certo? Ele era só o meu médico.
Eu não liguei imediatamente. Esperei uns dias. Tentei ignorar a vontade, tentei seguir com minha vida normal. Mas, uma noite, depois de um treino exaustivo, peguei o telefone. O impulso foi mais forte do que a razão.
— Alô? Doutor Luís Fernando?
Ele respondeu rápido, como se estivesse esperando.
— Rebeca? Não sabia que você ligaria tão cedo... mas confesso que estou feliz que tenha ligado.
A conversa foi leve, mas carregada de subtextos. Nós dois sabíamos o que estava acontecendo, embora nenhum de nós quisesse admitir. Alguns dias depois, nos encontramos novamente, fora do hospital, dessa vez num café discreto perto da praia.
Sentada ali com ele, vendo o mar ao fundo, eu me sentia nervosa e excitada ao mesmo tempo. Estávamos conversando sobre coisas banais, mas a eletricidade no ar era inegável.
— Você é diferente, Rebeca. — Ele disse, inclinando-se para frente. — Eu vejo isso em você... a paixão, a força.
Eu ri, desviando o olhar para o mar.
— Diferente como?
— Diferente das pessoas com quem eu convivo. Elas não entendem o que é viver sob pressão o tempo todo, ter que ser perfeita sempre.
Havia algo na forma como ele falou que fez o mundo parar por um segundo. Eu senti, naquele momento, que ele me entendia de uma maneira que poucas pessoas entendiam. Não como ginasta, mas como mulher. Foi quando ele se inclinou e me beijou.
Eu deveria ter parado, deveria ter recuado. Mas não consegui. Aquele primeiro beijo foi uma explosão de emoções reprimidas. Foi como se, por um instante, toda a disciplina que eu havia construído ao longo dos anos fosse jogada pela janela. Eu me perdi naquele beijo.
Os dias que se seguiram foram uma mistura de culpa e euforia. Nos falávamos por mensagens, às escondidas, e nos encontramos algumas vezes mais, sempre discretamente. O sentimento de estar fazendo algo proibido era intoxicante, e isso me empurrava mais para ele.
E então, veio o dia em que tudo foi consumado.
Foi algumas semanas depois do primeiro beijo. Nos encontramos em um hotel. Já não havia mais a tensão inicial, a hesitação. Quando abri a porta do quarto, ele já estava lá, me esperando, e eu sabia que não havia volta.
Eu não vou mentir e dizer que não desejei aquilo, que não quis cada segundo. Nós nos entregamos um ao outro como se não houvesse amanhã, como se o mundo parasse do lado de fora daquele quarto. Foi intenso, avassalador... e errado.
Dias depois, enquanto voltávamos a nos encontrar, ele mencionou, de maneira casual, que tinha compromissos com "a família". Foi ali que a ficha caiu.
— Família? — perguntei, desconfiada.
Ele hesitou, e então soltou a verdade, quase como se fosse um detalhe irrelevante.
— Eu sou casado, Rebeca. Tenho uma esposa, Aline.
Meu mundo desabou por alguns segundos. Eu senti o estômago afundar, o sangue gelar. Como eu não percebi antes? Como eu me permiti chegar a esse ponto? Mas, ao invés de me afastar, ao invés de cortar tudo ali, nós nos envolvemos ainda mais.
— Isso... não pode continuar, Luís. — Eu tentei dizer, sem muita convicção.
— Eu sei, Rebeca. Eu sei. Mas... não consigo te deixar. Não agora.
E assim, o que poderia ter sido o fim, tornou-se apenas o começo de algo ainda mais complicado. Decidimos continuar, em segredo. Todos os nossos encontros, todos os nossos momentos juntos, eram escondidos do mundo. Quanto mais tentávamos controlar a situação, mais nos afundávamos.
Eu sabia que estava brincando com fogo. Sabia que, mais cedo ou mais tarde, as consequências viriam. Mas, naquele momento, eu não me importava. Tudo o que eu queria era continuar vivendo aquele desejo, aquele sentimento que, de alguma forma, me fazia sentir viva.
As semanas passaram, e o peso do segredo começou a crescer. Eu sentia a culpa roendo por dentro, mas também sentia uma adrenalina inexplicável. Estava apaixonada pelo impossível, presa entre o que sabia ser certo e o que meu coração insistia em querer.
Olhando para trás agora, eu me pergunto quando foi que realmente comecei a perder o controle. Foi naquele primeiro beijo? Ou talvez antes, quando aceitei me encontrar com ele fora do hospital? Talvez, a verdade seja que, desde o início, eu sabia que isso acabaria mal. Mas, como qualquer ginasta, eu estava acostumada a arriscar... mesmo que a queda fosse inevitável.
Primeiro capítulo da Rebeca sendo amante..
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Cᴏʀᴀᴄ̧ᴏ̃ᴇs ᴇᴍ ᴄᴏɴғʟɪᴛᴏ | ʳᵉᵇᵉᶜᵃ ᵃⁿᵈʳᵃᵈᵉ
Fanfic"Corações em Conflito" segue a vida de Rebeca Andrade, uma talentosa ginasta olímpica que se vê envolvida em um romance proibido com Luis Fernando, um médico casado. Enquanto luta para equilibrar sua carreira e seus sentimentos, Rebeca enfrenta dile...