Lisboa

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~Verônica Torres~

–– Merda, merda, merda –– soco o volante quando olho o relógio de pulso.

–– Verô se acalma!

–– Não dá Glória, não dá, mesmo depois de tanto tempo eu ainda me lembro de cada momento de nós duas, até da vez que você nos salvou porque ao invés de estarmos vendo o vídeo cassete de Titanic nós estávamos nos beijando e quase que a mãe dela nos pegou.  E agora eu tô irritada porque estou atrasada pra um voo que vai para Lisboa, porque olha o interessante, mesmo depois de dez anos eu não consigo esquecê-la.

–– Verônica, respira fundo merda, vai dar tudo certo, se concentra nesse trânsito infernal e escuta uma música. –– Observo pelo canto do olho Glória aumentar o volume do rádio quando começa a tocar uma música aleatória, eu acho, parecia Jão, mas não tenho certeza.

Finalmente o trânsito começa a correr e consigo desligar minha mente por uns instantes até minha atenção ser atraída novamente pela voz de Glória.

–– Edito o filme, o rádio, o Corsa, que você se esqueceu depois, o fim é você dizendo que nos achamos muito cedo, eu fiz de tudo pra esquecer, mas baby, eu ainda me lembro. –– Volp segura minha mão e a leva até a altura da boca, fingindo ser um microfone, arrancando-me uma risada.

–– Palhaça! –– Bato em seu ombro.

–– Vai lá Verô, você está indo atrás do amor da sua vida, se anima, sabe quantas vezes eu já vi você pintando a Anita num quadro? Inúmeras, foram tantas as vezes que perdi as contas.

Respiro fundo antes de olhar para ela com um início de sorriso brotando em meus lábios.

–– Lembra do meu corsa?

–– Óbvio que lembro dele, você vivia andando pela cidade com a Anita no carona, eram vocês duas contra tudo.

–– Teve uma vez, isso eu nunca contei pra ninguém, mas eu estava pintando um quadro e era a Anita nele, eu estava quase no final quando ela apareceu e nossa, foi muito vergonhoso ela encarando a si mesma naquela tela e a Any ficou dividindo os olhares entre nós duas até que só me abraçou, sem dizer nada, –– não consigo controlar o sorriso que insiste em se abrir –– ela ficou comigo por vários minutos naquele abraço.

–– Vocês eram o casal que todos acreditavam que nunca terminaria.

–– É, –– sinto uma lágrima escorrer pela minha bochecha –– eu também achava isso.

Cerca de trinta minutos depois eu estava no aeroporto de Guarulhos entregando meu passaporte e embarcando no voo em direção a Lisboa, quando finalmente estava encostada no assento retirei da mala de mão um livro de poemas de Emily Dickinson, um presente que ela me deu. Passei aleatoriamente pelas páginas até notar algo em uma delas, deixando então que meus olhos percorreressem o poema em questão.

"Amar-te Ano após Ano                                                                                                                        Pode  parecer mais mundano                                                                                                                Que os sacrifícios e as findas                                                                                                                   No entanto, querida                                                                                                                               Para sempre talvez seja curto, quis mostrar                                                                                   E capturar, com uma flor, o agora"                                                                                                       Eu te amarei eternamente e farei questão te amar com toda a minha alma, feliz aniversário calíope,                                                                                                                                   Com amor Lisboa.

Meus olhos se prenderam no seu apelido fazendo com que eu sinta uma pontada em minha têmpora. A lembrança do dia em que pela primeira vez expliquei o porquê de te chamar assim começou a passar como um filme em minha mente.

Novembro de 1996...

Eu estava encostada no peito de Anita, não era a primeira vez e algo me dizia que não seria a última em que fugimos da aula para ficarmos assim, juntas, em um silêncio confortável, minha calmaria girava em torno de si, ela era o ponto de paz em meio a tempestade que era minha mente. Chegava a ser irônico pensar que me apaixonei por ela enquanto não éramos tão próximas. 

–– Verô, tá acordada?

–– Estou, ou melhor, não vou ficar por muito tempo se continuar fazendo carinho no meu cabelo. –– Senti seu rosto se aproximar do meu ouvido enquanto me encolhia diante do vento frio.

–– Então dorme calíope.

–– Sabe uma coisa que eu percebi? –– Ela murmurou um "não", –– você tem um pouco de sotaque, parece ser português, mas tenho minhas dúvidas. –– Anita solta uma pequena risada antes de começar a falar.

–– Eu sou portuguesa, bom, cinquenta por cento talvez, minha mãe é de lá e meu pai é brasileiro.

–– Você nasceu em que lugar?

–– Lisboa.

–– Decidi então, vou te chamar agora só de Lisboa. –– Sinto Anita gargalhar atrás de mim enquanto me aperta contra si.

–– Mas porquê? Eu sei que você já me chamava de Lisboa há um tempo, mas achava que era implicância.

–– Porque, bem, como que eu explico...

–– Vamos lá Verô, você consegue.

–– Bom só peço que não me ache estranha, mas enfim, na época do Brasil colonial, chamavam o Rio de Janeiro de Lisboa Tropical por conta da questão que Portugal era governado do Brasil e o tropical por conta do clima, mas não me estendendo muito, as pessoas que vieram de Lisboa pra cá deviam sentir falta dos que ficaram e bom, ao mesmo tempo que o Rio lembrava muito Portugal, não era.

–– Onde você quer chegar Verô?

–– Perdão, eu tô nervosa, o que eu quero dizer é, que mesmo quando você está longe de mim, muita coisa me lembra você, até coisas banais e mesmo vendo você longe, como eles viam Lisboa, eu quero e sinto você perto, como tentaram fazer tranzedo e misturando a cultura. Entende? Por mais que na época estava uma confusão em Portugal, o Rio virou uma espécie de tranquilidade aos que estavam aqui, mas nunca deixando de sentir falta, e é isso que eu quero dizer, eu vejo você longe mas te quero perto e por mais que minha cabeça esteja uma confusão, você é minha calmaria, você é o que me inspira, o que me distrai quando preciso me concentrar e faz tanto tempo que eu sinto isso em relação a você e... –– e sem ao menos me deixar terminar, Anita me virou em sua direção e juntou nossos lábios.

–– Eu te amo, Calíope. –– E foi nesse momento que tive a certeza que ter a esperado valeu a pena, mesmo tendo demorado até ela notar que eu era apaixonada por ela e tendo se interessado por outras pessoas no processo, valeu a pena para poder estar em seus braços nesse momento e quando o ar fez falta e que eu olhei em seus olhos o mundo se calou em minha volta.

–– Eu também te amo, Lisboa.

Eu estava em casa.

As lágrimas corriam por meus olhos enquanto eu encarava aquele livro, a saudade apertava em meio peito a tempos, nunca pensei que iria algum dia te perder e quando menos percebi se passou dez anos e eu ainda estou aqui e a única coisa que te peço Anita, tenta me reconhecer no meio desse caos, porque eu ainda estou aqui e mesmo quando eu me descuido, me desloco, me deslumbro com algo ou perco o foco, e perco o chão ou perco ar o teu olhar é o fio que uso para me guiar de volta.

Você ainda é a obra de arte em que meus olhos mais se agraciaram de poder ter tido a sorte de ter visto.

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Demorei, mas não foi porque quis, porém está ai o capítulo três, espero que gostem, não se esqueçam de votar e comentar que é muito importante e de deixar sua opinião sobre a história, me perdoem qualquer erro ortográfico.

Fiquem bem e até o próximo capítulo, 

Com carinho, 

Luiza.

Ps: perdão se o poema estiver meio torto, vocês sabem como o wattpad é, tentei corrigir, mas não sei se foi.

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⏰ Última atualização: Oct 29 ⏰

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