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Janeiro de 1693—Salém, Eua

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Janeiro de 1693—Salém, Eua.

A chuva forte caía incessantemente em uma tarde nublada na pequena cidade costeira de Salém, Massachusetts. O céu estava coberto por nuvens pesadas e escuras, como se o próprio tempo estivesse chorando pela tragédia que se desenrolava abaixo. Um homem de cabelos pretos e pele morena, vestindo uma calça preta que parecia desgastada pelo tempo e uma blusa branca de botões que já fora brilhante, lutava contra a lama que se acumulava ao seu redor. Suas botas de montaria, com o couro já desgastado, faziam barulhos abafados a cada passo que dava enquanto cavava a cova com uma determinação frenética.

Ao seu lado, estirada na terra encharcada, havia uma mulher vestindo uma longa camisola branca, agora ensanguentada. Seus cabelos negros, como a noite, estavam colados ao rosto pálido, e um rastro de sangue escorria de seu abdômen, manchando o branco que um dia fora um símbolo de pureza. As palmas de suas mãos estavam cortadas, marcadas como se tivessem lutado contra as correntes de um destino cruel.

— Me perdoa — disse o homem, a voz tremendo, carregada de melancolia e dor, enquanto olhava para a mulher com os olhos marejados — Se a igreja descobrir que eu sou casado com uma bruxa, vidente, o que você acha que vai acontecer? Minha família e eu iremos ser postos no fogo.

A mulher, com esforço, tentava responder, mas engasgava-se com seu próprio sangue, uma luta pela vida que parecia se esvair a cada instante.

— Eu te disse para fugirmos, mas você se negou, não querendo deixar aquele menino bastardo — ele continuou, a frustração transparecendo em seu tom. Abaixou-se, curvando-se sobre o corpo da mulher, secando as lágrimas que misturavam-se à chuva que caía sobre eles.

— Me perdoa, eu não queria, mas você é a grande culpada disso tudo — murmurou, seus lábios tocando delicadamente a bochecha da mulher que, com cada respiração, cuspia mais sangue,e suas forças diminuindo.

Ele se levantou, voltando a cavar a cova, o som da pá atingindo a terra se misturava ao tamborilar da chuva, cada batida ecoando como um lamento. Com a expressão marcada pela dor, ele se agachou novamente, pegando a mulher com extremo cuidado e colocando-a dentro da cova ainda viva, um ato de desespero e amor.

— Nossos seis anos juntos foram maravilhosos, minha Scarlett — ele sussurrou, a voz embargada. Sua mão, trêmula, subiu até o rosto da mulher, limpando o sangue que escorria de sua boca com a manga da camisa, como um gesto de carinho em meio à brutalidade.

Ele a beijou, seus lábios gélidos em um último toque de amor, e murmurou, próximo ao seu ouvido, onde as palavras se misturavam ao som da chuva: — Eu te amo, me perdoa, e pelo bem da nossa filha.

A menção da filha, Maia, que tinha apenas dois anos, parecia dar um novo fôlego à mulher. Ela tentou falar, mas a dor e o sangue tornaram suas palavras inaudíveis. O homem enxugou as lágrimas que se misturavam à chuva que caía, sua expressão se contorcendo em desespero enquanto ele começava a cobrir o corpo da mulher com uma manta branca, um último ato de carinho em meio ao horror. Quando ele estava prestes a cobrir sua cabeça, ela, em um último esforço, disse com a força que lhe restava:

— Eu... amaldiçoo... você e seus... descendentes. Que vocês percam aquilo que você tirou de mim... a visão de cada primogênito... homem desta família.

O homem, ao ouvir aquelas palavras, sentiu a raiva crescer dentro dele como um incêndio, e desferiu um soco em seu rosto, fazendo-a cuspir mais sangue enquanto seus olhos se fechavam lentamente, como se a vida estivesse se esvaindo a cada segundo.

A mulher teve sua última visão,o homem que amava, enterrando-a viva, um ato que ecoaria nas gerações

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