IV

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Todos nós já ouvimos aqueles contos de terror quando éramos crianças, histórias que se fixavam em nossas mentes e nos deixavam inquietos a ponto de não conseguirmos dormir em paz

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Todos nós já ouvimos aqueles contos de terror quando éramos crianças, histórias que se fixavam em nossas mentes e nos deixavam inquietos a ponto de não conseguirmos dormir em paz. Lembro-me de como minha irmã e eu nos refugiávamos na cama dos nossos pais, não apenas por uma noite, mas por uma semana inteira, aterrorizados pelas narrativas que meu pai e meus tios contavam. Eram relatos assustadores de suas infâncias, compartilhados em tardes de feriado ou nos domingos chuvosos, quando o clima pedia algo mais sombrio.

Mesmo minha mãe pedindo para que essas histórias não fossem contadas na nossa presença, meu pai insistia em narrá-las, especialmente quando ela se ausentava. Ele dizia que era uma forma de nos ensinar a enfrentar nossos medos, argumentando que havia coisas muito mais aterradoras na vida do que aqueles contos fantasiosos. Então, ele nos segurava em seu colo, a mim e à minha irmã, criando um ambiente seguro para que pudéssemos ouvir até o fim, mesmo com o coração disparado.

Naquela época, eu morria de medo. Dormir sozinho parecia uma tarefa impossível, e ir ao banheiro à noite se transformava em um verdadeiro desafio. Mas, ao refletir agora, percebo que aquelas histórias eram apenas um monte de baboseiras. Quem, em sã consciência, acreditaria em bonecas possuídas e espantalhos que ganhavam vida? Sinto uma pontada de vergonha ao lembrar que, por causa de contos tão absurdos, molhei a cama várias vezes. Meu pai tinha razão em me zoar e, embora eu tenha perdido o medo dessas histórias, minha irmã ainda é presa do terror que elas despertam.

Ela continua a ter calafrios e pesadelos semanas depois de ouvir qualquer uma dessas narrativas, enquanto eu dou risada de suas reações exageradas. Para mim, são apenas lembranças nostálgicas, mas, para ela, cada história é um convite ao medo. É curioso como o tempo muda nossa perspectiva, mas as memórias daqueles momentos assustadores continuam a nos unir de maneiras inesperadas.

Apesar de hoje eu rir dessas lembranças, há uma parte de mim que guarda um certo carinho por aqueles tempos. Eu tinha apenas nove anos quando tudo mudou. Foi naquela mesma época, em meio a essas histórias de terror que tanto me assustavam, que perdi minha visão. Um acidente simples, algo que ninguém imaginaria que pudesse acontecer, mas que transformou minha vida para sempre.

Lembro-me de que era uma tarde de outono, as folhas secas caíam no quintal e eu estava correndo com minha irmã, brincando perto da casa de ferramentas, onde meu pai havia deixado a porta aberta. Foi quando, de repente, tropecei e caí sobre a grama alta. A dor foi intensa, mas o que me assustou de verdade foi a escuridão que veio logo depois. Primeiro, parecia um borrão; depois, uma sombra, até que tudo desapareceu.

Minha mãe quase surtou, dizendo que a maldição da nossa família havia pegado em nós, que a culpa de seu filho estar cego era por uma bruxa maldita, que os espíritos da casa estavam avisando sobre o que logo aconteceria.

Enquanto eu era apenas uma criança, tentar entender o que aquilo significava parecia impossível. As primeiras semanas foram as mais difíceis, cheias de confusão, raiva e, claro, lágrimas. Mas, com o tempo, fui aprendendo a me adaptar. Aprendi a usar os outros sentidos, a contar os passos até o banheiro, a distinguir as vozes das pessoas à minha volta e a interpretar os sons que antes eu ignorava.

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⏰ Última atualização: Nov 03 ⏰

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