Capítulo 1

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FELIPE

Finalmente chegará o dia. Dia pelo qual esperei ansiosamente por 10 anos, imaginando e fantasiando quando seria, como seria. Encarava meu reflexo no retrovisor do carro, tentando controlar minha expressão, mas um sorriso animado continuava surgindo em meu rosto. Não consegui acreditar que era a última vez que encarava aquela estrada, apesar do caminho longo já não era necessário GPS, percorri aquele mesmo caminho todo mês desde que tirei minha carteira de motorista, a cerca de 8 anos.

Quando enfim cheguei ao meu destino, respirei fundo antes de descer do carro, tentando controlar minha excitação, e finalmente ao colocar os pés no chão não parecia real, nunca mais precisaria pisar naquela maldita penitenciária. Não sentia necessidade de olhar à minha volta, não queria gravar a imagem daquele lugar, queria que tudo finalmente acabasse, apesar de saber que não seria bem assim, queria poder acreditar nisso, naquele breve momento. Meus olhos estavam fixados na saída, era apenas aquilo que queria manter em minha mente, o momento em que Mateo já não estava mais preso, separado de mim por grades ou algemas. O momento em que leis malditas e investigações mal feitas já não o impediam de viver.

Um leve soar da sirene surgiu, o portão se abriu e lá estava ele. Dez anos mais velho, dez vezes mais acabado, totalmente diferente de quem era quando entrou, mas ainda era ele, o cara que amei por longos doze anos. Ele abriu um sorriso tímido e veio em minha direção. Dando uma risada fraca assim que ficou diante de mim, levando as mãos até meu rosto, secando lágrimas que desciam contra minha vontade.

– Porque tá chorando? Você não é mais criança! - Suas mãos já não eram macias como antigamente, mas fazia isso com mais delicadeza do que conseguiria.

– Eu só estou feliz. - Segurei em seus braços, abaixando-os e olhando-o com cuidado, não me cansava disso - Você está péssimo.

– Pensei que me achava bonito.

– Eu disse que "está" não que "é". Depois que se arrumar vai ficar bonito de novo.

– Se é o que acha... - Segurando minhas mãos ele mudou de expressão rapidamente - Você trouxe?!

– O qu- Ah! Claro que sim, como eu ia esquecer seu primeiro pedido ao ser solto?! Vamos entrar no carro e te dou, o caminho é longo.

– Ok! - Ele foi imediatamente ao banco do passageiro, pegando o pacote que estava sobre o banco e o abrindo.

– Você parece mais animado com isso do que com a sua saída em si. Você nem gostava de bolo tanto assim.

– São 10 anos sem um, eu era obrigado a comer um desse todo aniversário, mas não pensei que faria tanta falta...

– Entendi, era o favorito dele não era?

– Hum... - O sorriso em seu rosto falhou por um momento.

– Nós podemos fazer um pequeno desvio no caminho. Claro, só se quiser.

– Eu... - Ele me olhou pensativo então sorriu novamente - Acho que vai ser bom.

– Certo então, vamos sair logo daqui.

Novamente GPS não era necessário, apesar de ir com menos frequência, a rota já havia se estabilizado em minha mente. Durante o percurso apenas jogamos conversa fora, como se a vida não tivesse sido uma bagunça nos últimos anos, como se as experiências do dia a dia dele não tivessem sido todas atrás das grades, por um breve momento a vida parecia erroneamente simples e bonita. Momento que se encerrou assim que estacionei o carro. Os sorrisos em nossos rostos imediatamente se desfizeram e um silêncio melancólico se instalou. Guiei Mateo por entre as lápides com o passo tenso, até enfim parar em frente a um grande túmulo. Olhei pra ele, que acenou com um sorriso de canto, então me afastei um pouco, me sentando em um banco na vista.

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