Prólogo

11 1 0
                                    

O vento frio que soprava através das Gêmeas trazia consigo o odor do rio. Carl Frey estava acostumado a esse cheiro — uma mistura de terra molhada e água estagnada, quase metálico. Ele sempre achara que combinava com a própria essência da Casa Frey: uma família moldada pela posição estratégica de sua fortaleza, e pela disposição de se adaptar ao fluxo das correntes, por mais traiçoeiras que fossem.

Carl estava no pátio de treinamento das Gêmeas, cercado por alguns de seus tios e primos. A luz do sol matinal brilhava de forma traiçoeira, alternando entre o calor intenso e sombras súbitas, projetadas pelos arcos da imponente ponte que sustentava a fortaleza. À frente dele, seu tio Merrett Frey, com o rosto marcado de rugas e cicatrizes da guerra, girava uma espada com uma destreza que Carl, apesar de seu treinamento, ainda não conseguira igualar.

"Você está pensando demais, garoto", disse Merrett, em um tom áspero, levantando sua espada longa. "Se fosse em batalha, já teria sido perfurado duas vezes."

Carl ofegava enquanto limpava o suor da testa com o antebraço. A espada em sua mão parecia mais pesada a cada golpe trocado. Ele sabia que não tinha o talento natural de alguns de seus primos, como Cleos ou Ser Hosteen, mas se esforçava para compensar isso com disciplina e dedicação. Levantou a espada novamente, tentando bloquear o próximo ataque de Merrett.

O clangor do aço ecoou pelas paredes do pátio, mas Merrett rapidamente desarmou Carl com um golpe habilidoso, jogando a espada do jovem Frey ao chão.

"Treine mais com a espada antes de se preocupar com machados ou lanças", disse Merrett, resmungando ao se afastar. "Um guerreiro que tenta dominar tudo não será bom em nada."

Carl engoliu em seco, pegando sua espada caída, mas não respondeu. Ele sabia que Merrett tinha razão, embora não gostasse de admitir. Em Harrenhal, ele não teria o luxo de falhar com suas armas — ou com sua mente. Ser Frey, em qualquer circunstância, significava ser visto como dispensável por muitos, mas ser um Frey com Harrenhal implicava carregar um fardo que poucos desejavam. No entanto, ele ainda não era um verdadeiro guerreiro, e isso o incomodava.

Seus tios e primos estavam espalhados pelo pátio, alguns assistindo, outros envolvidos em suas próprias atividades. Um grupo de seus primos mais jovens, liderados por Alesander Frey, praticava arco e flecha contra alvos de feno. As risadas dos meninos ressoavam enquanto eles tentavam, sem muito sucesso, acertar os alvos mais distantes.

Carl se aproximou de sua prima, Cerenna Frey, que estava sentada em um banco próximo, observando a cena com um olhar entediado. Ela era uma das poucas Frey com quem ele realmente se dava bem. Cerenna tinha um temperamento mordaz, sempre pronta para apontar as fraquezas dos outros, mas havia uma camaradagem silenciosa entre os dois, forjada pela consciência mútua de que ambos eram, de certa forma, forasteiros na vasta teia de intrigas da Casa Frey.

"Você precisa treinar mais, Carl. Ou, pelo menos, aprender a disfarçar melhor sua falta de habilidade", comentou Cerenna com um meio sorriso. 

Carl bufou, sentando-se ao lado dela no banco. "Muito gentil da sua parte, prima."

"Não é uma questão de gentileza", ela disse, brincando com uma mecha solta de seu cabelo. "Você vai precisar de mais do que o nome Frey para sobreviver em Harrenhal. Os Whent perderam aquele castelo por causa de suas fraquezas, e se você não tomar cuidado, a maldição que o assombra pode muito bem se estender a você."

Carl lançou um olhar de soslaio para Cerenna. Ele já ouvira todos os rumores sobre a "maldição" de Harrenhal. Era uma história que seus parentes gostavam de contar, sussurrada durante os banquetes ou durante as noites escuras, como um aviso de que aquela fortaleza, tão grandiosa quanto desolada, destruía qualquer um que tentasse reivindicá-la. Mesmo assim, Carl sabia que não tinha escolha. Quando o rei Robert lhe concedeu Harrenhal, ele herdou não apenas as pedras e torres, mas também o fardo de seus segredos.

Sua herança provém de sua família materna, sua mãe era uma Whent, e a única de sua geração a ter um descendente vivo, pois a Casa Whent estava praticamente em extinção. Ele seria tutelado em Harrenhall por seu único tio vivo, Sor Joseph Whent, um homem que nunca desejou casar ou ter filhos. Alguns de seus primos e tios Frey também iriam para Harrenhall com ele, como seus protegidos, pois seu avô queria se livrar de alguns dos vários parentes.

"Você fala como se eu já estivesse fadado a falhar", disse Carl.

"Não é o que estou dizendo", Cerenna respondeu suavemente. "Só estou lembrando que, para os Frey, sempre foi uma questão de sobrevivência. E Harrenhal... bem, Harrenhal exige mais do que apenas sobreviver."

Carl permaneceu em silêncio por um momento. As palavras de Cerenna, embora duras, ecoavam suas próprias dúvidas. Desde que recebeu o título de Lorde de Harrenhal, ele sentira o peso das expectativas sobre seus ombros, como se o castelo estivesse, de alguma forma, vivo e esperando sua queda.

Ele se levantou abruptamente. "Vou continuar meus estudos", disse a Cerenna. "E depois, talvez, voltar ao arco e flecha."

Ela sorriu, acenando com a cabeça. "Boa sorte, primo. Você vai precisar."

***

Carl seguiu pelo longo corredor que levava à pequena sala de estudos da torre leste. No caminho, cruzou com mais primos, tios e tias, todos os quais pareciam sempre estar envolvidos em conversas sobre casamentos, disputas por terras ou alianças em potencial. A Casa Frey era imensa, uma teia intrincada de ambições, e Carl sentia-se frequentemente como um fio desgarrado nessa trama.

Na sala de estudos, ele encontrou seu mestre de letras, Maester Gorin, um homem de idade avançada com cabelos brancos ralos e olhos sempre atentos. O maester tinha sido encarregado de supervisionar a educação de Carl, uma tarefa que incluía leitura, história e a arte da guerra — embora Carl preferisse as aulas que envolviam matemática, ler livros contando sobre a Era dos Heróis e qualquer coisa que chamasse sua atenção ou escrever pequenos contos a passar horas intermináveis folheando pergaminhos antigos.

"Hoje, vamos continuar com os ensaios sobre a ascensão e queda de Harrenhal", disse Gorin, entregando-lhe um pergaminho enrolado. "Preste atenção às falhas de seus predecessores, meu jovem lorde. Você pode aprender muito com os erros do passado."

Carl assentiu, sentando-se em uma mesa de madeira gasta e desenrolando o pergaminho. As palavras sobre Harrenhal e seus antigos lordes saltaram à sua frente como um lembrete silencioso de que ele, agora, fazia parte dessa história condenada.

Ele sabia que a batalha pela sobrevivência, tanto com sua espada quanto com sua mente, havia apenas começado.

Um Frey Em Harrenhall Onde histórias criam vida. Descubra agora