Lições de Sangue e Ferro

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Carl deslizou os dedos pelo pergaminho amarelado, sentindo a textura áspera do papel antigo enquanto seus olhos percorriam as palavras sobre a queda de Harrenhal. A grandiosidade da fortaleza, construída com um desejo insano de glória, era agora um epitáfio de tragédias. Cada senhor que ousara tomar posse do castelo havia caído, esmagado por suas ambições, maldições ou pelas marés de guerra.

"Leia em voz alta o parágrafo sobre o Rei Harren", disse o Maester Gorin, suas palavras afiadas como um comando.

Carl obedeceu. "‘Harren, o Negro, ergueu sua fortaleza com pedra e aço, acreditando que estaria a salvo do fogo dos dragões. Mas nem pedra, nem aço, nem as muralhas mais altas puderam resistir ao poder de Balerion, o Terror Negro. Harrenhal foi queimada, e com ela, a linha de Harren se extinguiu nas chamas que ele acreditava ser imune.’"

O maester assentiu, satisfeito, e o observou por alguns instantes antes de se aproximar da mesa. "Lembra-se do que isso significa, Lorde Carl?"

Carl olhou de soslaio para o homem mais velho, refletindo sobre a pergunta. "Significa que até mesmo o mais poderoso pode cair se subestimar seus inimigos ou confiar apenas em muros de pedra."

"Exatamente", Gorin concordou, gesticulando com um dedo magro. "A força bruta não é suficiente. O conhecimento, a sagacidade e a astúcia são as verdadeiras armas de um líder. Harrenhal é uma prova viva de que o orgulho precede a ruína."

Carl assentiu, absorvendo a lição, embora suas dúvidas continuassem a ecoar na mente. Ele sabia que o maester estava certo, mas a realidade era mais complicada do que as palavras de um pergaminho antigo. A Casa Frey não tinha a reputação de ser astuta ou sábia; eles eram conhecidos por sua proliferação e sua ambição, mas não por sua grandeza. Seu próprio pai, Danwell Frey, sempre fora uma figura insignificante, mais preocupado com suas pequenas intrigas na corte do pai do que com qualquer busca real por poder.

O jovem Frey olhou pela janela estreita da sala, observando o pátio lá embaixo, onde seus primos ainda praticavam com arco e flecha. Em breve, ele também estaria lá, treinando suas habilidades. Se não podia confiar inteiramente na espada ou no machado, ainda assim não podia ignorar que, em Westeros, o poder vinha tanto do aço quanto das palavras.

"Já treinou bastante hoje, Carl?" perguntou o maester, interrompendo seus pensamentos. "Seus tios dizem que você se esforça muito, mas a dedicação cega pode ser tão perigosa quanto a preguiça."

"Treinei com meu tio Merrett mais cedo", respondeu Carl, segurando o olhar do maester. "Mas ainda preciso melhorar. Há muito que aprender."

"Verdade", concordou Gorin, com um olhar pensativo. "Mas o aprendizado não termina no pátio de treinamento. Venha, quero mostrar-lhe algo."

Carl seguiu o maester até uma estante antiga, onde ele retirou um livro de capa gasta. Colocando-o sobre a mesa, Gorin o abriu cuidadosamente, revelando páginas esboçadas com diagramas detalhados de formações de batalha e táticas militares.

"Este é um tratado de um dos maiores comandantes que Harrenhal já teve, Sor Oswell Whent, da Guarda Real de Aerys, o Rei Louco. Embora ele tenha caído com seu rei, suas táticas e estratégias eram notáveis. Estude-as. Saber comandar um exército é tão importante quanto saber manejar uma espada."

Carl inclinou-se sobre o livro, analisando as figuras complexas que mostravam o movimento das tropas, os ataques em pinça, as emboscadas e as retiradas estratégicas. Ele reconheceu a inteligência por trás daqueles esquemas — uma mistura de paciência e brutalidade. Ao contrário de Merrett, que acreditava na força direta, ali estava a prova de que a guerra poderia ser vencida com o uso inteligente dos recursos.

"Comandar homens... isso também exige que se conheça o coração deles, Carl", continuou o maester, sua voz agora suave. "Suas esperanças, seus medos. Às vezes, um comandante precisa mais de palavras do que de armas. Lembre-se disso quando estiver em Harrenhal. As muralhas podem ser altas, mas os corações dos homens podem ser mais difíceis de proteger."

Carl assentiu, absorvendo cada palavra. Ele sabia que sua posição como Lorde de Harrenhal o colocaria em uma teia de alianças e traições muito mais complexa do que qualquer campo de batalha. As lições que aprendia ali, nas Gêmeas, entre seus parentes ambiciosos e mesquinhos, eram apenas o começo.

***

Horas mais tarde, Carl retornou ao pátio de treinamento, desta vez com um arco em mãos. O som da corda sendo puxada e o silvo das flechas cortando o ar era quase reconfortante. Ele estava determinado a melhorar em todas as áreas de combate, ciente de que, em Harrenhal, não haveria margem para falhas.

Seu primo, Alesander, riu ao vê-lo pegar o arco. "Vai tentar acertar algum alvo desta vez, Carl, ou vai continuar apenas assistindo?"

Carl estreitou os olhos em resposta e puxou a corda do arco, mirando no alvo mais distante. Respirou fundo, sentindo a tensão nos músculos dos braços, e soltou a flecha. Ela cortou o ar com um som sibilante antes de se enterrar no feno, um pouco distante do centro, mas ainda assim um bom tiro.

Alesander arqueou uma sobrancelha. "Não foi ruim, para um Frey sem prática."

"Pratique mais e talvez você consiga um tiro melhor que o meu", rebateu Carl, com um leve sorriso no rosto.

Os dois continuaram praticando por mais um tempo, e apesar das provocações de Alesander, Carl não se deixou abater. Sabia que a única maneira de se destacar entre tantos primos e tios seria através da habilidade e da astúcia, e ele estava determinado a desenvolver ambos.

Quando o sol começou a se pôr, tingindo o céu de um laranja avermelhado, Carl decidiu que era o bastante por hoje. Guardou o arco e fez um aceno de despedida a Alesander e aos outros primos que permaneciam no pátio.

Enquanto caminhava de volta para o castelo, sentiu o peso do que estava por vir. Harrenhal o aguardava, com todos os seus mistérios e perigos. As palavras de Cerenna ecoavam em sua mente: "Você vai precisar de mais do que o nome Frey para sobreviver."

Carl sabia disso. Ele sabia que a maldição de Harrenhal não era apenas uma superstição. Era uma realidade que ele teria que enfrentar — com sangue, ferro e a sagacidade que Maester Gorin tanto insistia que ele cultivasse. As sombras de Harrenhal se estendiam até as Gêmeas, e Carl Frey estava prestes a entrar nelas.

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