A manhã seguinte chegou envolta em neblina, tornando Harrenhal ainda mais opressivo. Carl despertou com o som metálico de sinos ressoando pelos corredores do castelo. Sentiu o frio da pedra abaixo de seus pés ao se levantar, a exaustão de uma noite inquieta ainda pesando em seus ombros. Havia sonhado com sombras dançando pelas paredes, vozes sussurrando verdades que ele preferia ignorar.
Quando Carl desceu até o pátio principal, encontrou Sor Joseph esperando por ele. O cavaleiro estava armado, com uma expressão impassível que apenas reforçava a gravidade do momento. Atrás dele, um grupo de homens aguardava, cada um armado com lanças e espadas curtas, os rostos marcados pela desconfiança.
"Hoje, você enfrentará sua primeira tarefa como senhor de Harrenhal," anunciou Sor Joseph, sem cerimônia. "Uma das aldeias ao norte está com problemas. Dizem que alguns homens armados atacaram caravanas e tomaram alimentos à força. Você liderará um destacamento para lidar com isso."
Carl prendeu a respiração. Ele sabia que qualquer decisão equivocada seria vista como um sinal de fraqueza.
"Quantos homens?" perguntou, tentando esconder a ansiedade.
"Doze," respondeu Joseph, gesticulando para o grupo atrás de si. "Não será uma batalha, mas também não será simples. Acha que pode comandar?"
Carl assentiu, embora sua mente estivesse a mil. "Se essas pessoas estão roubando, deve haver fome ou desespero envolvido. Quero entender o que os levou a isso antes de decidir uma punição."
Sor Joseph arqueou uma sobrancelha, um indício de surpresa. "Piedade não é uma moeda que vale muito aqui, garoto. Lembre-se disso."
Mesmo assim, Carl manteve sua posição. Não queria começar seu domínio com uma demonstração de brutalidade gratuita.
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A jornada até a aldeia foi longa, o caminho tortuoso envolto pela neblina que nunca parecia dissipar. Os homens que Carl liderava mantinham-se em silêncio, observando-o com cuidado. Ele percebeu que cada olhar carregava uma dúvida implícita: o jovem Frey seria mais um a cair diante da maldição de Harrenhal?
Ao chegarem à aldeia, encontraram um cenário desolador. As casas de madeira estavam em ruínas, os campos de trigo murchavam sob a falta de cuidados. Os aldeões, magros e de rostos marcados pela fome, observavam com olhos desconfiados.
Uma mulher velha aproximou-se, apoiando-se em um cajado. Seu olhar era tão duro quanto o de Lady Shella. "Veio para nos matar ou para nos ajudar, meu senhor?" perguntou ela, a voz carregada de desafio.
Carl desceu do cavalo, tentando parecer mais próximo do que imponente. "Vim para entender o que aconteceu aqui. Os ataques às caravanas - foi coisa de vocês?"
A velha cuspiu no chão. "Nós? Não somos tolos para atacar os poucos que nos ajudam. São bandidos que vieram das colinas. Acham que somos fáceis de saquear porque ninguém se importa conosco."
Sor Joseph se aproximou, mas Carl levantou a mão, pedindo silêncio. "Quantos são esses bandidos? Onde estão?"
"Uns dez, talvez mais," respondeu a mulher. "Estão em um acampamento na floresta ao leste. Não temos forças para enfrentá-los. E vocês? Vão realmente nos ajudar ou apenas vão embora como os outros senhores fizeram?"
Carl olhou ao redor, percebendo a desesperança nos rostos dos aldeões. Ele não tinha escolha.
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Naquela tarde, Carl liderou o destacamento até a floresta. O terreno era traiçoeiro, as árvores altas pareciam sussurrar segredos de antigos desastres. Quando chegaram ao acampamento, encontraram os bandidos despreparados. A luta foi rápida e brutal. Carl não era um guerreiro experiente, mas fez o possível para se manter no controle.
No final, sete bandidos estavam mortos, e três haviam sido capturados. Carl, sujo de sangue e poeira, olhou para os homens que haviam lutado ao seu lado. Eles pareciam avaliá-lo de uma nova maneira - não como um Frey que havia herdado Harrenhal, mas como alguém que talvez tivesse valor.
Quando retornaram à aldeia, Carl ordenou que os mantimentos roubados fossem devolvidos aos aldeões. Também mandou que os três bandidos capturados fossem enforcados na entrada da aldeia, como um aviso. Sor Joseph, embora relutante, finalmente acenou em aprovação.
"Você lidou com isso melhor do que eu esperava, garoto," admitiu o cavaleiro, enquanto voltavam ao castelo.
Mas Carl não se sentia vitorioso. A imagem dos corpos balançando ao vento ficaria com ele, uma lembrança do custo de sua posição. Ele sabia que Harrenhal ainda tinha muito mais a lhe ensinar - e que as sombras que habitavam suas muralhas estavam apenas começando a se revelar.
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Um Frey Em Harrenhall
FanfictionCarl Frey, único filho de Lady Wynafrei Whent e Sor Danwell Frey, nunca imaginou que os salões assombrados de Harrenhal seriam seus para governar. Crescendo à sombra da infâmia de sua Casa, Carl nunca teve aspirações de grandeza, até o dia em que o...