Primeiro beijo

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"Tudo o que Deadpool queria era surrupiar um beijo do Homem-Aranha."

Estava parado, no topo de um prédio comum e longe da avenida principal, assim como ele havia pedido. Detestava ter que admitir isso, mas estava nervoso, tão nervoso quanto uma garota adolescente que está prestes a perder a virgindade com seu namorado maconheiro, que faz constantes juras de amor mas vai terminar com ela e partir para a próxima assim que transarem.

A diferença entre a situação na qual Wade estava, e a já citada anteriormente são muito. Para começar ele não era uma garota adolescente, ele era um mercenário sanguinário que desobedece as leis do ciclo da vida. Ele também não estava prestes a perder a virgindade, isso já havia sido perdido a muitos anos atrás, e se fosse sincero Wade sequer se lembrava o rosto de quem tinha a pegado. E por último, nessa equação não existia namorado maconheiro e misógino, apenas um herói engraçadinho por quem tinha uma queda gigantesca.

- Se recomponha Wade... É só um beijo, nada demais!

Deadpool nunca escondeu a tal queda que tinha pelo Homem-Aranha, e por isso nunca fora considerado um problema o ato de constantemente enfatizar o quanto seria prazeroso surrupiar um beijo de seu herói favorito, todavia, o cabeça de teia é algo inalcançável para as mãos imundas de Wade. O mercenário tinha se conformado que nunca teria chance alguma com ele, sendo assim, fora uma grande surpresa receber uma "proposta indecente", vinda daquele que caminha sob as paredes.

A verdade é que tudo não passou de uma aposta boba, que tomou proporções maiores do que ambos imaginavam. A dois dias atrás, estavam no mesmo prédio em que Wade se encontra agora, e fora quando estavam conversando sobre os três primeiros filmes de Harry Potter, que chegaram a um impasse. Wade tinha certeza que o ator que interpretava Alvo Dumbledore, mudou após o terceiro filme, já o teioso insistia que fora apenas depois do quarto longa metragem.

" - Aposto uma lingua na garganta que o ator mudou no terceiro filme."

Foi o que Deadpool disse, e por incrível que pareça o Homem-Aranha concordou! Após algumas pesquisas nas fontes mais confiáveis possíveis, ou seja, olhar no Google, chegaram a conclusão de que Wade fora quem ganhou a aposta.

É óbvio que o mercenário não iria deixar isso passar, e de imediato cobrou o aracnídeo, por sua vez ele foi salvo por uma sirene de bombeiros a três quarteirões de lá. Todavia, antes de partir com a desculpa de que estava sendo requisitado, ele pediu para que o amigo o encontrasse naquele mesmo prédio, no dia seguinte, lá pelas seis horas, pois era um homem de palavra e iria pagar sua aposta.

Agora, Deadpool estava na cobertura do prédio com um samblante temeroso por baixo de sua máscara, aguardando impaciente por seu amigo. Se não tivesse aquela paixão irritante por ele, Wade estaria leve como uma pena, sem tensão alguma, entretanto, tudo que se diz respeito ao Homem-Aranha, se torna algo complicado para ele, tanto que um simples beijo, algo que já fez tantas vezes agora parece aterrorizante.

- Deixe você esperando por muito tempo? - escutou a voz do cabeça de teia, se virando de costas e o vendo em cima da caixa d'água.

- Na verdade eu acabei de chegar, Webs - mentiu dando de ombros, saindo do parapeito do prédio e indo na direção do outro mascarado - Quase me fudi para subir a escada de incêndio.

- Desculpe fazer você vir até aqui - riu pousando ao lado do mercenário.

- Eu entendo você querer ser discreto, não seria bom se Nova York soubesse que o Homem-Aranha é meio gay.

O Homem-Aranha cruzou os braços e Wade pode jurar que tinha um sorriso sarcástico por trás daquela máscara.

- Eu não sou gay, e esse não é o motivo pelo qual quero ser discreto.

- Certo, ser visto beijando o Deadpool não pega bem.

- Uma mentira a mais ou a menos do JJ não iria fazer mal, então esse também não é o X da questão, Wade.

Deadpool franziu o cenho, se esquecendo por um momento do beijo e tentando interpretar as ações do amigo.

- Vamos acabar logo com isso - afirmou enquanto levava suas mãos até a nuca, tirando a máscara e revelando seu rosto.

Ele não era apenas como Wade gostava de o imaginar, era muito mais que isso. Tinha cabelos castanhos escuros que caiam bagunçados sob a testa, uma pele rosada com um corte abaixo do lábio inferior, olhos amendoados com um brilho inexplicável, um nariz pequeno e pontudo, além de orelhas grandes e um sorriso de dentes incrivelmente brancos mas levemente tortos.

Os olhos do mercenário permaneceram vidrados naquela face que sorria em sua direção, um sorriso despretensioso que poderia iluminar um continente caso quisesse.

- Você é um anjo?

- Não seja idiota - riu cruzando os braços - Para beijar é preciso estar sem máscara...

Deadpool sentiu a magia ser quebrada e cruzou os braços também, entendendo onde o teioso queria chegar. Ele sabia que Wade raramente tirava sua máscara, ainda mais quando estava na frente de sua paixonite, todavia, por algum motivo queria olhar para o rosto deformado de Wade enquanto o beijava, era ilógico e ao mesmo tempo fofo.

Wade poderia contestar e fazer quantas piadas quisesse, mas pensando que seu amigo tinha lhe confidenciado a imagem de sua face seria até mesmo grosseiro não retribuir o gesto. Em meio a um murmuro insatisfeito, Deadpool repetiu o movimento do outro, ficando sem a máscara evitando olhar nos olhos do Homem-Aranha.

- Agora sim - aproximou-se mais, segurando o rosto de Wade entre as mãos e o puxando para o tal beijo.

O mercenário segurou na cintura do teioso, fechando os olhos em meio ao ósculo molhado, que por acaso fazia barulho. Para ele nenhum beijo nunca tinha sido daquele jeito, já que o carinho do amigo era tão palpável quanto sua bunda, e Wade fez questão de apalpa-la, de qualquer forma o outro não pareceu se importar, pelo contrário, foi possível sentir o sorriso dele entre o beijo.

- Foi melhor do que eu imaginei - suspirou, encostando sua testa na de Wade.

- Foi do caralho.

- Para cacete.

Deadpool sentiu uma fisgada em seu estômago, junto de uma enorme vontade de cantar e uma pontada no coração. Com esse beijo, talvez sua paixonite tivesse se tornado uma paixão, e talvez o Homem-Aranha não fosse tão inalcançável quanto pensava.

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