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O dia mais feliz de Santa se transformou, de forma inesperada, no pior de todos.

Tudo corria bem para Santa até às 16h27 daquela tarde.

Ele entrou no seu novo dormitório, certo de que o dia continuaria tranquilo, mas, ao abrir a porta, deparou-se com algo que o fez estremecer. Diante dele estava a personificação do que havia de pior na humanidade, uma presença tão sombria e maligna que parecia superar até mesmo o próprio diabo.

Perth Tanapon.

Ou como o próprio Santa gostava de chama-lo:

Boneco de Olinda.

Santa estava prestes a girar os calcanhares e fugir dali o mais rápido possível, longe daquele resto de esgoto - um dos muitos apelidos "afetuosos" que ele havia dado ao outro - . Mas, para sua frustração, seu corpo parecia travado. Nem mesmo uma retroescavadeira seria capaz de arrancá-lo do lugar.

O que mais deixou o garoto confuso foi que Perth sequer pareceu notar sua presença. Isso o fez cruzar o quarto, emburrado, com um bico visível no rosto.

Não que Santa esperasse que o outro se curvasse aos seus pés e o reverenciasse, mas o fato de Perth não ter se movido nem um centímetro foi, no mínimo, frustrante.

Alguns minutos se passaram até que, finalmente, Perth pareceu notar a segunda presença no quarto, fazendo seu sorriso desmoronar. Perth não gostava dele - e o sentimento era recíproco.

— Ora, ora, parece que a donzela finalmente chegou — ironizou o mais alto, com aquele típico tom na voz.

— Que palhaçada é essa? Foi você quem armou essa, não foi, seu parasita desgraçado!? —Santa elevou a voz, algo raro de se ver, revelando sua irritação.

— Você realmente acha que eu gostaria de dividir um quarto com você, e ainda por cima armar uma situação dessas só para te incomodar? Você se acha o centro do universo, não é, donzela? — Perth rebateu enquanto se levantava, seu tom gotejando sarcasmo.

— Eu sei que você tem culpa nisso, seu escroto — retrucou Santa com agressividade, o olhar cheio de desprezo.

— Não se preocupe, não vou nem encostar um dedo em você. Afinal, o viado aqui é você, não é? Eu que deveria estar com medo. — Perth riu enquanto batia a porta do banheiro com força, fazendo o som ecoar pelo quarto.

— Desgraçado! — murmurou Santa entre dentes, sentindo o sangue ferver

O garoto estava à beira de uma explosão. Desejava desesperadamente ligar para sua mãe e pedir que o resgatasse daquele quarto sufocante, mas a ideia de parecer um menino mimado o impedia de agir. Assim, a única saída que lhe restava era ir até o dormitório de seu melhor amigo e afogar suas mágoas nos chocolates e doces acumulados.

Era isso, ou ele, sem dúvida, acabaria cometendo um assassinato. Se continuasse a encarar o rosto de Perth por mais vinte segundos, o impulso de enforcá-lo ali mesmo no banheiro se tornaria irresistível. A frustração borbulhava dentro dele, misturando-se com a vontade de gritar, enquanto sua mente procurava uma forma de se libertar daquela tensão insuportável.

Com um suspiro pesado, ele decidiu que se entupir de doces era a solução menos letal. Afinal, o que mais poderia fazer?

Logo após tomar sua decisão, o garoto deixou o quarto, admitindo a vitória de Perth com um peso que não conseguiu disfarçar. Embora o mesmo pudesse ter vencido aquela batalha, Santa sabia que a guerra estava longe de terminar. Ele se prometeu, com firmeza silenciosa, que as próximas seriam dele. A frustração queimava em sua mente como um fogo incontrolável enquanto ele descia os degraus rumo ao dormitório de Book, um de seus melhores amigos. Cada passo parecia ecoar sua determinação renovada, uma promessa muda de que não cometeria o mesmo erro novamente.

Breaking BarriersOnde histórias criam vida. Descubra agora