Dores de Parto.

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Esse conto foi escrito pela autora Nicole300607.

Anteriormente, eu me preocupava com a dor, mas, atualmente, minha preocupação se concentra em como meus pequenos irão lidar com a minha ausência.

Eles choram ao meu redor, cada um em busca de esperança durante estes últimos momentos.

Minha visão embaçada se volta rapidamente para cima.

Aquela árvore magnífica.

A única manifestação de vida nesta pandemia devastadora.

"Grandiosa árvore, permita-me ser parte de ti."

A dor da queimadura que percorria meu corpo intensificou-se, à medida que eu tentava proteger meus filhotes do incêndio que se alastrava a milhas de distância.

Não consigo suportar.

Como um desejo concretizado, meu mundo se enche de paz.

Não há dor nem sofrimento.

Percebo o som da água e, ao levantar minha cabeça, percebo que estou à beira de um rio.

— Levante-se — uma voz se manifestou, mas não consigo identificar sua origem. — Pequena raposa, não se preocupe; não foste tu quem pediu para que te integrasse a mim? Assim, não farás parte de mim, mas habitarás em um lugar de harmonia.

Não sinto medo, mas desenvolvo uma certa empatia pela voz, como se já a conhecesse previamente. No entanto, ao recordar dos meus filhotes, uma preocupação se instala em mim.

— Tranquilize-se, pois em breve seus filhotes estarão correndo ao seu lado nesta terra.

Estou radiante, finalmente terei a oportunidade de viver plenamente feliz. Um impulso brota dentro de mim e inicio uma corrida.

Atravesso o rio, percorro amplas áreas verdejantes e adentro locais floridos.

Tudo ao meu redor é deslumbrante. Ninguém pode me deter.

—Ah, por favor, imploro, ponha fim ao meu sofrimento e permita-me desfrutar dessa vida.

À frente, avistam-se imensos portões dourados, flanqueados por dois seres alados, com uma mulher posicionada entre eles.

Essa mulher é peculiar. Seu corpo é inteiramente verde, seus cabelos caem em cascata, e sua pele é adornada com flores. No entanto, noto que um dos lados de seu corpo apresenta um estado de inflamação. Ela se encontra em um estado de desespero, chorando e gritando repetidamente, enquanto uma mão é colocada sobre a barriga e a outra repousa no portão, como se estivesse em trabalho de parto e buscando apoio naquela estrutura.

— Assim está escrito: "Quando o primeiro anjo tocou a trombeta, houve granizo e fogo misturado com sangue..."—Neste momento, entre as pernas daquela mulher grávida, escorre sangue enquanto ela se ajoelha, expressando seu sofrimento—"... que foram lançados sobre a terra: a terça parte da terra, a terça parte das árvores e toda a erva verde foram queimadas... (Ap 8:7)"

Esta é a mesma voz que se dirigia a mim anteriormente, porém, agora apresenta um tom autoritário.

"Quem serão essas pessoas? Por que essa mulher sofre tanto?"

—Curiosa raposa— de repente ele me chama e fico surpresa— Quem achas que eu sou?

A questão me recorda da enorme árvore de folhas verdes e de aparência pura. Mesmo na dor me acolheu.

—Me vê como a árvore que te amparou à beira da morte, e eu lhe digo: "Eu sou o Deus supremo (Gn17:1)", "EU SOU O QUE SOU (Ex 3:14)". —as suas palavras me enchem de temor e segurança ao mesmo tempo— Como está escrito:"Sabemos que toda a criação geme e está angustiada até agora, como se estivesse em dores de parto. (Rm 8:22)”

Contemplando a angustiante figura da mulher em sofrimento, percebo que seu olhar se dirige a mim, acompanhado de um suspiro, o que me entristece profundamente. Tenho a convicção de que essa mesma sensação foi vivida por meus filhotes.

— Infelizmente, é assim que deve ser — ela expressa com dificuldade, enquanto o sangue continua a escorrer e outras partes de seu corpo inflamam-se — Se houvesse outra alternativa... Não é, raposa?

Início a chorar e sou tomada pela tristeza.

"O preço dessa felicidade é o sofrimento da natureza."

—Raposa— ela me chama, e ao olhá-la, percebo a dor e a ternura que em seus olhos se refletem. — Não se preocupe comigo, antes eu era a sua mãe, mas meu tempo está se esgotando. Sinto alegria por saber que se uniu ao criador de todas as coisas, inclusive de mim. Vá e não olhe para trás! — Fala com dificuldade e imensa dor.

Enquanto me aproximava, uma luz surgiu à minha frente e exclamou:

— Vá! Pois: "nesses dias a angústia será tal, como nunca houve desde que Deus criou o mundo até agora, nem voltará a haver. E se o Senhor não abreviasse esses dias, nenhuma criatura se salvaria; mas, por causa dos eleitos que escolheu, abreviou esses dias. (Mc 13:19-20)".—Essa voz é diferente, eu recuo um passo, mas mantenho meu olhar fixo na mulher.

— Rapoza, os seres humanos, movidos pela sua curiosidade, me exploraram, me utilizaram e me condenaram. Destruíram minha beleza, minha riqueza e minha alegria. Contudo, existem pessoas na Terra que agradam a Deus, e por meio do sacrifício de Seu Filho, essas pessoas têm a oportunidade de alcançar a salvação e o perdão dos pecados, aliviando-se dessa angústia mundana. Eu sofro, mas sei que esse sofrimento um dia terá fim. Então, avance!

Após tanta insistência e empatia pela senhora, decido seguir em direção oposta. É doloroso sentir e testemunhar todo esse sofrimento.

Depois de concluir minha corrida, deito-me e me deixo levar pelas lágrimas novamente.

"Quanta crueldade persistente habita o coração da humanidade. Por causa deles, eu morri queimada, e a Mãe Natureza sofre. Como pôde tudo terminar dessa forma?"

Lágrimas profundas, carregadas de dor.

"E meus filhotes?"

Neste momento, ouço um barulho e fico imediatamente alerta. Levanto e fico em uma postura de defesa.

Os arbustos à minha frente começam a se mover.

— Não ataque! Este é um lugar onde animais são inofensivos— diz a voz do início.

Desfaço minha postura de ataque e, com um salto, sai de trás dos arbustos... Meus filhotes!

Eles ficam felizes e, com um gesto de saudade, eu os abraço e dou beijos carinhosos.

A Mãe Natureza tem dificuldades, mas agora consigo viver em paz com meus filhotes.

Contos da Mata - 04 de Outubro Onde histórias criam vida. Descubra agora