Prólogo.

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Eu o odiava.

Eram quase cinco da manhã quando Percy chegou, fazendo tanto barulho que conseguiu me tirar do sono bom em que estava. Me virei de barriga para baixo e grunhi contra o travesseiro. Garoto idiota. Não sei onde eu estava com a cabeça quando aceitei entrar nessa farsa com ele.

Tenho 22 anos e sou atriz, mas ainda não tenho uma carreira completamente estabelecida. Por algum motivo, minha empresária concluiu que ter um namorado que não saísse da boca da mídia me daria mais visibilidade, e então surgiu Percy, um jogador de futebol recém-transferido para um clube inglês conhecido por ir para cama com inúmeras celebridades. Modelos, atrizes, cantoras, atletas de outras modalidades, e às vezes até anônimas aleatórias.

Mas os ingleses não aprovavam muito essa reputação. Eles são apreciadores da família tradicional e dos bons modos, e é claro que Percy não se encaixava nisso. No início ele até conseguiu passar um pouco despercebido, mas então começou a chegar atrasado e de ressaca nos treinos, ser fotografado em boates e ter um rendimento baixo nas partidas. O time lhe deu diversas advertências e passou a dar instruções para que o treinador não o utilizasse nos jogos. Foi então que o empresário dele teve a mesma ideia que a minha: Percy precisava de uma namorada para limpar sua imagem.

Nossos mundos colidiram por uma completa coincidência, que hoje em dia passo a ver como infeliz. Thalia, minha empresária, estava saindo com um dos amigos de Percy, Luke Castellan, e ficou sabendo de toda a situação por ele. É claro que ela ficou interessada e marcou um encontro imediatamente. A primeira vez que vi Percy foi em Lyon, na França. Ele estava lá para uma partida da UEFA Champions League e bancou a minha viagem só para que pudéssemos conversar. Ele me colocou em um hotel que ficava só há algumas quadras de onde o time estava hospedado e me encontrou num restaurante super chique ao qual ele também pagou. Acho que ele estava querendo me dar um gostinho do tipo de vida que eu teria se topasse aquilo.

Cheguei no restaurante quinze minutos antes da hora combinada, e me surpreendi quando ele foi pontual. Vestia uma camiseta polo branca, calça bege e tênis branco. Se sentou na cadeira de frente para minha e sorriu, me encarando com certa curiosidade. Eu era bonita e sabia disso, mas Percy pareceu surpreso com esse fato. Meu cabelo estava solto e eu usava um vestido curto de alcinhas de um tom amarelo pastel que deixava meus ombros e clavícula expostos. Um batom rosé marcava meus lábios de leve, assim como a pouca maquiagem em meu rosto. Eu nunca fui de usar muitas joias, o meu único acessório além dos delicados brincos de ouro eram algumas pulseiras nos braços.

Percy pegou o cardápio que eu havia deixado de lado depois de avaliar as opções.

— Já decidiu o que vai pedir? — fez a pergunta sem nem antes me comprimentar, o que me incomodou nele logo de cara. Tudo bem que ele já sabia quem eu era e vice-versa, mas comprimentar as pessoas é uma questão de educação, o que concluí que ele não deveria ter.

— Não. — foi só o que respondi, talvez mais rispidamente do que deveria.

Percy ergueu os olhos do cardápio novamente para mim. Eles eram de um verde-mar penetrante que eu até poderia ter achado encantador, mas naquele momento não consegui ver nada além de pura arrogância naquele garoto.

— Nunca experimentou comida francesa? — ele parece surpreso.

"É claro que não", pensei, "Não sou rica igual você".

Mas obviamente não foi isso que eu disse.

— Não sou de viajar muito.

As sobrancelhas do moreno se unem no primeiro momento, mas então ele volta a sorrir de uma forma que interpretei como debochada.

I Can See You - (au percabeth)Onde histórias criam vida. Descubra agora