Capítulo 8

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  Damen deixou o homem para trás, alquebrado e vazio depois de revelar
tudo o que sabia. Ele puxou a cabeça de seu cavalo para fazer a volta e
partiu apressado na direção do acampamento.

  Ele não tinha outra escolha. Estava atrasado demais para ajudar Laurent
na cidade. Tinha de se concentrar no que podia fazer – porque havia mais
que a vida de Laurent em jogo.

  O homem era parte de um grupo de mercenários acampados nas
montanhas de Nesson. Eles tinham planejado um assalto em três estágios:
depois do ataque a Laurent na cidade, haveria uma sublevação na tropa do
príncipe. E se a tropa e o príncipe de algum modo sobrevivessem e
conseguissem, em seu estado prejudicado, continuar para o sul, eles cairiam na armadilha dos mercenários nas montanhas.

  Não foi fácil arrancar toda a informação, mas Damen fornecera ao
mercenário um incentivo constante, metódico e impiedoso.

  O sol já tinha chegado a seu zênite e começara a descer lentamente outra
vez. Para ter qualquer chance de alcançar o acampamento antes que ele fosse esfacelado pela insurgência planejada, Damen precisaria tirar seu
cavalo da estrada e cavalgar em linha reta, como fazem os corvos, pelos
campos.

  Ele não hesitou e esporeou o cavalo para subir a primeira encosta.

  A viagem foi uma corrida louca e perigosa pelas bordas desmoronantes
dos morros. Tudo demorava demais.

  O terreno irregular reduzia a
velocidade do cavalo. As rochas de granito eram traiçoeiras e afiadas como navalhas, e o animal estava cansado, por isso o risco de tropeçar era maior.

  Ele se manteve no melhor solo que pôde ver; quando era preciso, deixava o cavalo escolher o próprio caminho pela terra esburacada.

  Em torno dele havia uma paisagem silenciosa e salpicada de granito, de
terra batida e capim rústico; e, com ele, o conhecimento da ameaça tripla.
Era uma tática que fedia ao regente. Tudo aquilo: aquela armadilha
complexa que atravessava a paisagem para separar o príncipe de sua tropa e de seu mensageiro, de modo que salvar um significava sacrificar o outro.

  Como Laurent havia comprovado.
 
  Laurent, para salvar o mensageiro,
arriscara a própria segurança, despachando seu único protetor.

  Damen tentou, por um momento, pensar na situação de Laurent, tentar
adivinhar como o príncipe iria escapar de seus perseguidores, o que ele faria. E percebeu que não sabia. Não conseguia nem ter ideia. Era
impossível prever Laurent.

  Laurent, um homem irritante e obstinado, total e completamente
impossível. Será que tinha antecipado aquele ataque o tempo todo? Sua
arrogância era insuportável. Se ele tivesse deliberadamente se deixado
aberto a ataques, se ele fosse pego em um de seus próprios jogos… Damen
praguejou, e concentrou a atenção na viagem até o acampamento.

  Laurent estava vivo. Ele evitava tudo o que merecia. Era escorregadio e
astuto, e havia escapado do ataque na cidade com trapaça e arrogância,
como sempre.

  Maldito Laurent. O Laurent que tinha se deitado junto do fogo parecia
muito distante, com membros estendidos, relaxado, conversando… Damen achou que essa memória estava ligada de modo inextricável com o brilho do brinco de safira de Nicaise, o murmúrio da voz de Laurent em seu ouvido, a emoção de tirar o fôlego da perseguição, de telhado em telhado, tudo isso entrelaçado em uma noite longa, louca e interminável.

  O solo limpou embaixo dele, e no instante em que isso aconteceu ele
cravou os calcanhares nos flancos do cavalo cansado e acelerou.


  xxx


  Ele não foi recebido por batedores, o que fez seu coração bater forte. Havia
colunas de fumaça, fumaça negra cujo cheiro ele podia sentir, densa e
desagradável. Damen conduziu o cavalo pelo resto do caminho até o
acampamento.

Livro: Príncipe Cativo 2  ( O Guerreiro )Onde histórias criam vida. Descubra agora