capítulo 1 - continuação

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— Os herdeiros... — sussurrou Elora, enquanto seus dedos corriam pelas páginas de um antigo livro de profecias. — Somos nós. Eu, Kyros, Lucan e Seren. Somos os herdeiros.

Em um vilarejo distante, Seren continuava a sentir o pulso da terra sob seus pés. Era uma força que a chamava, mas também a assustava. Ela sempre fora conectada à natureza de uma maneira especial, mas nunca sentira algo tão intenso quanto aquilo.

— Seren, você está bem? — seu amigo perguntou mais uma vez, agora visivelmente preocupado.

— Sim — respondeu ela, embora não estivesse tão certa disso. — Mas algo está muito errado.

Ela olhou para o horizonte, onde as nuvens escuras se aglomeravam. Seu instinto lhe dizia para seguir em direção àquela tempestade. Ela sabia, de alguma forma, que precisava estar lá. E sem pensar duas vezes, ela pegou seu arco e começou a correr, com o vento frio da tempestade açoitando seu rosto.

Por último, Lucan, ainda segurando o cristal que brilhava intensamente, sentia seu coração acelerar. As visões da escuridão e da luz o deixaram inquieto, como se soubesse, no fundo, que sua vida estava prestes a mudar.

— Preciso encontrar Kyros — murmurou para si mesmo, enquanto montava em seu cavalo e seguia em direção à cidade. O cristal em seu bolso parecia pulsar com cada passo, como se estivesse o guiando para seu destino.

A tempestade rugia sobre todo o reino, unindo os quatro herdeiros em uma jornada que eles ainda não compreendiam completamente. Cada um, em seu próprio caminho, sentia a urgência de encontrar respostas. E enquanto o poder antigo de Lumiara começava a despertar, o perigo também se aproximava.

O selo que aprisionava Neroth, o Ceifador das Almas, estava enfraquecendo. O Cetro da Desolação, a arma que uma vez quase destruiu todo o reino, estava à beira de ser libertada. E apenas os herdeiros das sombras poderiam impedir que a escuridão consumisse tudo.

Kyros, Elora, Seren e Lucan ainda não sabiam o papel que estavam destinados a desempenhar, mas uma coisa era certa: suas vidas estavam entrelaçadas com os segredos antigos dos Cavaleiros de Lumiara. E o destino do mundo dependia deles.

A jornada estava apenas começando.

A tempestade parecia ganhar vida própria, suas rajadas uivantes cortando os céus de Lumiara com uma fúria quase consciente. Relâmpagos cruzavam o horizonte em zigue-zague, iluminando brevemente os rostos dos que ousavam encarar sua força. Mas para os quatro herdeiros, esse caos não era um obstáculo. Era um presságio, um chamado.

Kyros ajustou seu capuz, protegendo-se das gotas grossas de chuva que caíam como punhais do céu. Seus olhos corriam pelo mapa antigo que ele trouxera consigo, buscando orientação em meio ao crescente tumulto. A esfera de cristal azul que havia encontrado ainda emitia um brilho suave, mas agora parecia pulsar no ritmo das batidas de seu coração. O arqueólogo, de olhos castanhos profundos e traços sempre atentos, estava decidido a seguir o rastro de magia que o levava para o Templo das Sombras.

— Não podemos parar agora — murmurou ele para Marta, que lutava para manter o ritmo. — Estamos perto.

Os arredores do templo eram tomados por uma névoa densa, um aviso silencioso do que estava por vir. As árvores, altas e esqueléticas, formavam sombras retorcidas sob a luz dos relâmpagos, como se guardassem segredos há muito esquecidos.

Elora, por sua vez, se aproximava da mesma região, o capuz de sua capa preta esvoaçando ao vento. Sua mente estava um caos, não apenas por causa das profecias que havia decifrado, mas também pelo peso do destino que agora recaía sobre seus ombros. Seus cabelos loiros, molhados pela chuva, caíam sobre seus ombros enquanto ela apertava o livro de profecias contra o peito, tentando decifrar as últimas palavras que lera.

— “Os herdeiros das sombras...” — sussurrou Elora, repetindo as palavras antigas enquanto seus olhos varriam o caminho à frente. Ela sabia que Kyros também estaria a caminho, sentia-o de alguma forma, como se um fio invisível os ligasse.

A tempestade não era apenas uma manifestação natural — ela parecia concentrar sua força sobre aquele lugar, um epicentro de energia arcana. Elora sentia a eletricidade no ar, cada relâmpago reverberava em seu corpo como um prenúncio do que estava por vir.

Na floresta distante, Seren corria com seu arco preso às costas, seus olhos claros fixos na tempestade que se formava no horizonte. O vento rugia contra ela, mas não a detinha. Ela já havia passado por muitas provações, e a força pulsante que sentia no solo sob seus pés lhe dizia que seu destino estava se aproximando rapidamente. Ela sabia que, em breve, sua conexão com a terra revelaria algo muito maior do que qualquer caçada que já fizera.

O silêncio entre os troncos antigos das árvores era quase perturbador, quebrado apenas pelo som da chuva e pelos trovões distantes. Seren se abaixou por um momento, tocando o solo encharcado com seus dedos. O chão parecia pulsar, respondendo a ela.

— Estou pronta — disse baixinho para si mesma, levantando-se com determinação. — Seja o que for, estou pronta.

Já Lucan, montado em seu cavalo, apertava as rédeas com força. Seu cristal, guardado no bolso de seu manto surrado, continuava a brilhar como um farol, guiando-o pelas trilhas escuras e molhadas. O jovem mensageiro de cabelos castanhos curtos e expressão decidida tentava controlar seu cavalo, que se agitava com o som ensurdecedor dos trovões. Mas algo dentro de Lucan o impulsionava a seguir em frente.

Ele não podia ignorar a sensação de que estava sendo observado — não pela tempestade, mas por algo muito mais antigo. Algo adormecido por eras, que começava a despertar.

Enquanto os quatro herdeiros convergiam em direção ao mesmo ponto — o Templo das Sombras —, as visões que cada um experimentara começavam a fazer sentido. A profecia de Sir Alaric, o sacrifício dos Cavaleiros de Lumiara, o selo que aprisionava Neroth... Tudo isso estava interligado. Eles eram a última esperança para conter o retorno da escuridão.

Quando Kyros finalmente avistou as ruínas do templo, seu coração acelerou. A entrada era imponente, com arcos de pedra desgastados pelo tempo, cobertos por musgo e trepadeiras que pareciam ter crescido de maneira deliberada para ocultar o local. As runas esculpidas nas pedras brilhavam de maneira tênue, como se respondessem à aproximação de Kyros.

Elora chegou logo depois, sua respiração pesada, mas determinada. Seus olhos encontraram os de Kyros, e naquele breve instante, ambos souberam que não estavam sozinhos. Seren apareceu em seguida, silenciosa como um espectro, seus passos leves, mas firmes. E por fim, Lucan, ainda ofegante por causa da cavalgada rápida, juntou-se ao grupo.

O som da tempestade rugia acima deles, mas no interior do templo, um silêncio quase sagrado pairava. Eles entraram juntos, sentindo o peso do passado e o futuro incerto que os aguardava.

A luz da esfera de cristal de Kyros brilhou com intensidade, iluminando o caminho à frente. Ali, no centro da sala principal, uma plataforma antiga guardava o que parecia ser uma câmara selada. No chão, os símbolos antigos dos Cavaleiros de Lumiara estavam gravados, pulsando com energia.

— Este é o lugar... — Kyros murmurou, enquanto se aproximava da câmara. — O selo que mantém Neroth preso... está aqui.

Elora deu um passo à frente, seus olhos fixos nas runas brilhantes. — E se ele escapar... o reino inteiro estará em perigo.

Um trovão ensurdecedor sacudiu as paredes do templo, e a terra sob seus pés começou a tremer. A Tempestade Arcana havia atingido seu ápice. E com ela, o selo que mantinha Neroth preso estava prestes a ser rompido.

O destino dos herdeiros estava agora entrelaçado com o destino do reino. A batalha pela luz e pela escuridão estava apenas começando.

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⏰ Última atualização: Oct 02 ⏰

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