Capítulo IV

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— Você tem certeza? — A voz masculina questionou, seus olhos esbanjavam dúvidas enquanto Avery encolhia seu corpo para passar no duto de ventilação— Eu já escutei algumas pessoas falarem que o monstro aí dentro é bem imprevisível.


— Deixa de ser medroso— Com um revirar de olhos, Avery parou e sorriu como quem provocava a masculinidade daquele companheiro — E ele se chama Sebastian.


Avery sequer deu tempo para escutar uma resposta, seu corpo engatinhando enquanto o metal rangia e se contorcia a seu peso. Não demorou para que ela chegasse ao final do duto, dias fazendo esse ritual lhe garantiram uma agilidade maior.


— Sebastian? — Chamou, seus olhos se deparando com o escuro infinito enquanto o som atrás dela, de metal e membros desleixados, a fazia questionar onde estava Sebastian.


Avery estendeu as mãos tateando o espaço escuro, sua voz novamente repetiu o nome de seu amigo antes que um ar quente assoprasse em seu rosto. A luz saiu da isca de pescador, tão perigosamente perto do rosto de Avery que poderia a matar, caso esse fosse seu objetivo.


Mas ela sorriu, seus olhos escuros brilhando pela luz do predador. Os três olhos a encararam de perto, seu cabelo escuro caindo em seu rosto mostrando que logo precisaria de mais um corte.


— Você me assustou— Avery disse com uma risada— Ah sim. Sebastian, eu trouxe um amigo para dormir aqui.


Como se essa fosse a deixa perfeita, Rowan passou pela porta do duto adentrando a sala de comércio de Sebastian, sua visão sendo consumida pelo ser de metros assustadores e membros mortais. Ele engoliu seco, sua voz prestes a alertar Avery da loucura que ela estava fazendo.


— Um amigo? — A voz de Sebastian era carregada de sarcasmo, seus olhos se virando para a companhia masculina, Rowan, como se ele fosse um verme que se rastejava— Onde você encontrou essa coisa?


— Não fale desse jeito— A garota disse em tom de brincadeira, suas mãos puxando alguns dados coletados para fazer as trocas e pagar uma noite de descanso, como combinado certa vez — Aqui está o valor de nós dois e... Deixa eu ver o que estou precisando.


— É sério que você dormiu aqui? — Rowan questionou ainda incrédulo, como uma mulher tão aparentemente delicada poderia confiar em Sebastian? — A gente parece ser o prato principal dele.


— Se está com medo então some da minha frente.


— Sebastian! Rowan é novo aqui nas instalações, ele deve estar com medo — A bronca só fez o maior reclamar, seu bufar irritado em uma maneira infantil de lidar com tudo — Eu já dormi aqui algumas vezes, o valor é meio caro, mas é bem seguro.


— Você barganhou o suficiente, pare de reclamar sobre meus valores— Protestou, seu terceiro braço descendo para pegar o pagamento das pilhas. Avery fez o sinal de dinheiro, os três olhos se revirando — SEM DESCONTO.


— Céus! Você é um péssimo vendedor, Sebastian— Seus dedos se abriram, mesmo diante do choro da mulher. Assim que Avery arrumou todas as pilhas em seus itens, se sentou não tão longe de Sebastian, a distância já havia sido reduzida em suas conversas diárias — Não acenda o farol de flash.


Alertou enquanto Rowan montava seus itens, os olhos focados no mecanismo de defesa luminoso foram em direção da figura feminina e seu questionamento não pode ser engolido por seus lábios— O que acontece se eu acender?


— O Sebastian é sensível a luz forte, ele pode acabar ficando irritado — Avery abriu apenas um olho, respondeu e o fechou parecendo aos poucos cair no sono — Vai dormir ou não?


Rowan deu alguns passos em direção de Avery, sua mente tinha algumas intenções secundárias ao se aliar a uma mulher, afinal, seria bom ter uma companhia do sexo oposto... Prestes a se sentar, seu corpo travou quando um grito foi dado pela criatura.


— NÃO CHEGUE PERTO DE MIM!




— O QUE VOCÊ ESTAVA PENSANDO? — A voz alta dizia batendo contra a mesa. Avery estava na sala da chefe do setor, era óbvio que seu colega de trabalho iria dedurar sua forma de agir — ACHA QUE AQUI É BRINCADEIRA?


—Eu apenas garanti que saíssemos vivos de lá — Ousou falar, sua voz alta enquanto sua máscara descartável estava em suas mãos — Eu já vi o Z-13 pessoalmente antes.


Como corroía sua língua chamar Sebastian por aquela classificação, afinal, Avery nunca veria aquele homem com os mesmos olhos dos outros. Mas não era mentira, ela sabia que aquele cientista estava na corda bamba de ser morto por Sebastian.


— Eu pensei que você leu minha ficha.


— VOCÊ ACHA QUE EU SOU O QUE?! É ASSIM QUE SE COMPORTA COM SUA SUPERIORA? — Dois altos tapas foram dados contra a mesa, os olhos daquela mulher tão profundamente raivosos. Mas Avery apenas mordeu a língua — Eu li sobre você, senhorita Avery, mas aqui temos regras a cumprir e você não é nenhuma chefe para dar ordens ou ditar como serão os experimentos! Eu fui clara?


— Sim, senhora — Confirmou, a voz distante e sem interesse em tudo aquilo.


— Você sobreviveu, pode ser por sorte, mas erros aqui não são tolerados.


— Eu compreendo, senhora.


— Já que ficou claro para a sua cabeça estúpida, volte para sua mesa calada e me traga os relatórios até o final do dia.




— Avery — Sebastian chamou fazendo o corpo da mulher parar antes de se jogar para dentro do duto de ventilação — Onde você achou esse cara?


— Ele estava perto da entrada principal — Avery respondeu sem entender, seu filtro não sendo muito bom em esconder a verdade de alguém que ela tinha consideração... Avery já havia sobrevivido tempo demais para ignorar o fato de que sentia carinho por Sebastian, mesmo sua personalidade vezes sendo horrível de se lidar.


— Tem certeza que pode confiar nele?


— Está com ciúmes, Sebastian? — A sua voz saiu cheia de travessura, um enorme sorriso que poderia quase tocar os olhos deixando as bochechas fartas e redondas — Que fofo.


— Deixa de ser estúpida, Axolote — Um bufo de reclamação, olhos revirando, tudo o que tinha direito quando ela conseguia o colocar contra a parede, mesmo que por um segundo — Eu só estou avisando por ele parecer estranho. Não se esqueça que a maioria não foi condenado injustamente.


— Oh, sim — Melodiosamente, sua voz falou antes de seu sorriso continuando enorme — Eu acho que sei me virar.


— Não venha chorar depois — E vendo a silhueta de fios rosados sumir, suspirou — Axolote estúpido. 

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⏰ Última atualização: Sep 30 ⏰

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Sombras Submersas / Sebastian SolaceOnde histórias criam vida. Descubra agora