𝐅𝐎𝐔𝐑𝐓𝐇 𝐅𝐋𝐀𝐌𝐄, aemond targaryen 𖤍 house of the dragon

Capítulo 2

CAPÍTULO DOIS 𖤍 A MÃO QUE SEGURA A LÂMINA
THE HAND THAT WIELDS THE BLADE

Ela não possuía riquezas, terras ou exércitos. Tinha apenas um nome ─── e, para muitos, isso era mais que suficiente.

🩸

AEMMA TARGARYEN

Os passos dos homens no convés soam como um relógio apressado, o tempo se desfazendo a cada batida. Não posso me dar ao luxo de hesitar. Minhas mãos encontram o braço da mulher à minha frente antes que ela perceba, e a arrasto para a penumbra, longe do olhar de qualquer um. Ali, entre as sombras, o silêncio é pesado. O ar denso, quase sufocante. Meu coração bate tão forte que posso sentir o eco dele na garganta, mas meu rosto permanece impassível.

A mulher me encara. Gwenna, eu lembro de ouvir um dos tripulantes chamá-la assim, mas isso não me diz nada. Seu rosto está envelhecido, as rugas profundas, e o cabelo cinza cai em desalinho. Há algo no olhar dela, algo que me irrita. Ela sabe. Não sei como, mas ela me conhece.

Pressiono a lâmina contra sua pele. A ponta da faca quase toca a carne, e sinto o controle escapar pelos meus dedos.

─── Vai me dizer quem você é... e como sabe quem eu sou ─── minha voz sai baixa, mas firme. O desespero escondido logo abaixo da superfície, a urgência de saber por que ela me olha desse jeito. Não posso permitir que isso continue. Não agora. Não assim.

Gwenna solta uma respiração curta, erguendo as mãos devagar, em um gesto de rendição. Seus olhos, porém, continuam fixos nos meus, avaliando, medindo cada centímetro do meu rosto. Não há medo ali, apenas algo que não consigo identificar.

─── Eu te conheço ─── ela murmura, a voz rouca, como se cada palavra fosse um fardo. ─── Não posso esquecer esse rosto. Você... é filha de Aemma Arryn.

O nome dela paira entre nós, inesperado e devastador. Minha mãe. O nome que nunca digo em voz alta. O nome de quem foi tirada de mim antes que eu pudesse sequer lembrar dela. Meus dedos tremem ao redor do cabo da faca, e a lâmina vacila por um segundo. Minha respiração acelera, as perguntas explodem na minha mente, mas não saem.

─── Como você sabe disso? ─── As palavras saem em fio de voz, controladas, mas o gelo nelas é impossível de esconder.

─── Eu servi sua mãe. ─── Gwenna não desvia o olhar. ─── Fui sua criada, desde que ela se casou com o rei.

Meus olhos se fixam nos dela, procurando a mentira, algum sinal de que ela está apenas tentando me manipular. Mas há algo genuíno ali, um brilho que me desarma.

─── Isso não explica como sabe quem eu sou ─── digo, minha voz mais dura agora. A faca ainda está em minha mão, a lâmina a centímetros de sua pele. Meu corpo exige respostas, mas meu coração... ele se fecha.

Ela engole em seco, hesitando por um breve momento antes de continuar.

─── Seus olhos... Um deles, pelo menos. São iguais aos dela. ─── Suas palavras são simples, mas perfuram fundo.

Por um instante, o mundo para. Meus olhos são iguais aos da minha mãe? Um calor amargo sobe por dentro de mim. Quantas vezes eu me olhei no espelho, tentando encontrar algo dela em mim? Algo que me conectasse a uma vida que eu nunca pude viver? Eu sabia tão pouco sobre ela. Só o que os outros me contavam. E agora, essa mulher, essa estranha, afirma me reconhecer por um detalhe que eu nunca notei?

A lâmina treme na minha mão. Meu controle está desmoronando, e isso me apavora. Eu devia estar no controle. Sempre. Mas agora, tudo que vejo é o vazio onde as memórias dela deveriam estar.