{•𝑈𝑚𝑎 𝑎𝑔𝑢𝑙ℎ𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚𝑎 𝑙𝑖𝑛ℎ𝑎•}
Mesmo andando sobre os corredores, conseguia ouvir murmúrios de dor, guiando as crianças sem olhar para trás, me sentia sem forças como um vazo preste a quebrar, eram soluços de dor acompanhados por o bater da fivela, Houve em meio ao barulho dos nossos passos um estalo metálico e abafado, o som ecoando em uma fração de segundo, repetidas vezes...Nem meus pés que tentavam ser rápidos a carregar as crianças conseguia abafar os sons perturbadores que saiam do cômodo, que agora pouco deixamos.
Os passos pequenos das irmãs de pele porcelana, pareciam não tardar aos meus comandos como busca de proteção ao barulho estrondoso. -Vamos crianças...estamos quase lá.
Avisei, minha voz fracassando em tentar soar firme. Meus dedos tremulavam enquanto guiavam suas pequenas e delicadas mãos; as unhas curtas de suas mãozinhas arranhavam minha pele com um aperto de medo. A caçula, Elisa aninhada em meu colo, soluçava baixinho, o som abafado em meio ao tecido de minha roupas desgastada, uma lembrança pungente de que ela era apenas uma alma inocente, perdida em meio à turbulência daquela casa conturbada. Um grito ecoou, mais alto e endurecedor do que o anterior, como uma navalha cortando o ar. Paramos, nossos passos suspensos no corredor escuro. As irmãs "porcelana" tremiam, buscando um refúgio onde pudessem se esconder, ainda que esse esconderijo fosse apenas o calor trêmulo de meu próprio peito. Sentia os minúsculos dedos delas segurando minha saia, quase como se quisessem se fundir a ela, como se fosse um porto seguro que, por mais que eu quisesse, talvez não pudesse lhes dar. Cada soluço, cada respiração entrecortada, parecia se tornar parte do ambiente pesado, envolto num silêncio que gritava.
-Por-favor Pare.....PA-RE
A voz suplicando por um ato de misericórdia entre um gemido e outro, interrompida apenas pelas batidas impiedosas do cinto de couro maciço. Cada golpe ressoava, cortando o ar como um trovão abafado, e eu sentia as vibrações atingindo-me também, mesmo à distância. Fechei os olhos com força, como se isso pudesse me proteger daquele som. Mas o ruído seco e ríspido penetrava o silêncio, brutal e frio, ecoando pelos corredores da mansão até encolher-se em meu peito. Meus braços se arrepiaram, e um peso desconfortável se enraizou em meu estômago, apertando-se a cada grito abafado da Duquesa.
A mão de seu marido, firme e cruel, segurava o cinto como uma arma de aço, a pele de seus dedos tornada ainda mais rígida e intransigente com cada novo golpe. Os cabelos de minha senhora, soltos e desfeitos, caíam-lhe ao rosto, escondendo seu olhar desesperado, mas eu sabia – sua dor era um quadro vivo, pulsante. Duquesa Clemência estava sendo punida, não por qualquer erro real, mas pelo ódio ardente e possessivo de um homem que tinha prazer em infligir sofrimento.
Não poderia ver tal cena, mais poderia imagina-la, mesmo nos corredores sua voz fazia minha imaginação trabalhar revelando cruel cena, mesmo que tais atos estivessem a acontecer em outro cômodo onde não pensaria em momento algum me infiltrar. As filhas do casal se apegam em mim com mais força.
-Ma-Ma-mãe..."Ouço a voz abafada entre soluços estrangulados a mais velha Catherinne com seus sete anos e meio tremia em um choro baixo, temendo por algo que nem mesmo sua cabeça de criança poderia entender."
Elisa com seus olhos pequenos derrama as lagrimas de uma pequena criança que não faz nem dois anos que acabara por nascer, Cellena por sua vez não fica atrás buscando por atos de conforto, atiçando em apertar minha saia entre seu dedinhos que poderiam muito bem desmanchar com um único beliscão
Crianças que assistem com frequência cenas assim, mais que sempre usam da mesma façanha em buscar refugio em uma mulher tão prepotente como eu, estão com medo...Muito medo
Reunindo forças que jurei não ter as digo com a voz quebrada: -Tudo b-em...A mamãe vai ficar b-em, mais ante temos que ir pra cama sim??
Não vou sorrir, não há motivos para tal, só seria mais uma mentira que nem posso mais alto o realizar, por que no final
Elas já sabem...Já temem, compreendem e...Sentem essa dor;
Que machuca profundamente, assassina as esperanças, e arranca os vestígios do que era para ser um jardim de amor.
Suas silhuetas pequenas seguem meus passos, a Elisa com sua silhueta de um bebê em frase de crescimento se aninha a mim, perfurando meu peito com o pensamento amargo que logo entendera como suas pequenas irmãs os atos que são profanados sobre aquelas casa. Meus passos ligeiros passam pelos quartos com suas portas talhadas, e vidraças adornadas deixando aos poucos o som que nos acompanhava.
Não se demora muito ao silencio reinar mais uma vez, mais o eco em minha cabeça ainda persiste sempre reinando no peito, justamente onde meu coração bate, sempre sendo o causador de tamanhas emoções.
Subindo as escadas, deslizo minhas mãos suadas das pequenas crianças, ao menos das duas mais 'velhas', que buscam a segurança em mim. Sinto seus dedinhos tremendo, mas mantenho a firmeza em meu andar. A frente do corredor que nos levaria à região de cima, onde um silêncio absoluto reinaria, hesito por um instante. Minhas mãos podem até estar trêmulas, mas rápidas elas são, sempre prontas para agir quando necessário.
Parada em frente à porta dourada, adornada com detalhes minuciosos que parecem contar histórias de tempos passados, suspiro profundamente, como se um peso invisível estivesse lentamente se dissipando das minhas entranhas. É uma mentira que eu quero contar a mim mesma, mas, mesmo assim, respiro fundo, buscando coragem. Minhas digitais vão aos botões enferrujados, o toque da ferrugem evocando um barulho agudo e irritante do metal que rangia sob meu toque, quase como um aviso de que as máquinas começavam a agir, preparando-se para o que estava por vir.
A ansiedade se acumula em meu peito, e enquanto escuto o estalar das engrenagens trabalhando em seu próprio favor, imagino as sombras que se escondem atrás daquela porta. Vejo, então, como o aço reluzente se eleva em meio às vidraças, o elevador subindo lentamente, um movimento quase hipnótico que ecoa a tensão que permeia o ar.
Com o som final, as guio em passos rápidos, adentrando o grande monumento de metal, pressiono mais uma vez os botões que foram feitos para receber ordens, e então...Tudo acontece o grande aparelho trabalha com suas ações internas a todo vapor.
Estamos subindo mais uma vez, creio eu que não será a última.
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𝑈𝑚𝑎 𝐿𝑖𝑛ℎ𝑎 𝑝𝑎𝑟𝑎 𝑢𝑚𝑎 𝐴𝑔𝑢𝑙ℎ𝑎.
RomanceEm uma sociedade onde mulheres são meros peões em um jogo brutal de poder, Elisa está prestes a enfrentar seu destino. O "debute" - um ritual sombrio - aproxima-se, e com ele, a ameaça de ser lançada aos lobos da elite faminta por sangue e controle...