2018
Tinha 18 anos quando aconteceu. Não era realmente algo imprevisível, a tia estava doente há algum tempo, sabiam que o fim estava próximo, se sentia mal apenas pela irmã mais nova, Lívia tinha apenas quinze anos e estava enterrando mais um parente, o mais próximo de uma mãe que elas conheceram, afinal a mãe biológica havia falecido no parto da mais nova e o pai elas sequer tinham chances de se lembrar, fugiu no dia em que soube sobre a responsabilidade com duas filhas.
Agora aos 21 anos Clarice observava ansiosa o responsável pela alfândega analisar seu passaporte e o da irmã, esperando serem liberadas para essa nova fase de suas vidas, iriam morar na Inglaterra, pois ela tinha conseguido uma vaga para trabalhar na Mercedes, diretamente com a equipe de Fórmula 1, um sonho que se tornava realidade.
"Sejam bem vindas." O homem devolveu o passaporte para as duas que mal podiam disfarçar os gritinhos quando estavam a uma distância segura.
"Eu nem acredito que estamos aqui." Clarice podia observar a expressão variando entre incrédula e extremamente empolgada de sua irmã.
A mais nova tinha conseguido uma bolsa na universidade de Oxford, mas era um sonho distante morar em outro país sozinha com apenas 18 anos, porém, a sorte delas mudou quando Clarice, que já trabalhava na Mercedes do Brasil, era uma ótima engenheira de fluidos, auxiliando no departamento de carros esportivos da empresa, ainda que seu sonho fosse mesmo a Fórmula 1, sabia que era quase impossível para uma recém formada, só que seu chefe pensava diferente e quando surgiu a vaga correu para indicar a garota.
Era apenas um programa de estágio de dois anos com possibilidade de efetivação, mas ela faria de tudo para conseguir impressionar e continuar com o trabalho. Clarice e Lívia cresceram amando Fórmula 1, era o programa delas, aquilo que unia a atenção das garotas e mantinham seus interesses comuns apesar da diferença de idade.
Pegaram um táxi até o pequeno apartamento localizado a meio caminho entre a faculdade e o novo emprego de Clarice, o lugar era bonito, parecia saído de um filme clichê, onde a mocinha encontraria seu amor enquanto vestia um lindo sobretudo e segurava um copo de café. Os primeiros dias passaram depressa, Clarice estava se familiarizando com o novo emprego e Lívia fazia algum curso de verão na faculdade, antes que as aulas realmente começassem, uma extensão de inglês.
A garota estava se saindo muito bem em sua nova função e vinha chamando atenção inclusive do chefe da equipe. Toto Wolff vinha fazendo elogios para ela desde quando tomou conhecimento de sua existência na fábrica, isso animava a garota, as expectativas de que poderia ser contratada até mesmo antes dos dois anos. As coisas realmente começaram a mudar em sua vida no momento em que foi convidada para acompanhar a equipe em uma corrida alguns meses depois.
O GP de Singapura era incrível, toda a atmosfera preenchida pelo cheiro de borracha e óleo, os mecânicos trabalhando de forma ágil para garantir que os carros estivessem montados no momento exato, as conversas, risadas, tudo aqui que se via na TV parecia ainda mais intenso ao vivo.
Clarice estava encantada.
A corrida estava ótima para a equipe Mercedes e o clima na garagem não poderia estar melhor, ela estava se divertindo tanto com a preparação e até mesmo as reuniões pareciam incríveis, por mais longas e potencialmente entediantes que fossem. Quando a corrida acabou, Clarice viu surgir a oportunidade de caminhar um pouco pelo Paddock, apreciar as instalações de outras equipes, a sincronia em que desmontavam e deixavam tudo pronto para a próxima corrida.
Já não contava com a sorte de encontrar algum piloto para pedir uma foto ou autógrafo, a maioria provavelmente tinha ido embora em seus jatinhos absurdamente caros, no entanto, a sorte parecia sorrir para ela ao avistar a presença de Fernando Alonso próximo ao motorhome da equipe McLaren, não gostaria de incomodar porém era uma oportunidade imperdível, então se aproximou sem muitos alardes.
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Flashlight
FanfictionQuando se ganha o mundo, o preço pode ser muito caro. Pode custar sua família, sua felicidade, sua própria vida. O destino pode ser cruel quando não se vive o presente da maneira correta. Deveríamos ter uma segunda chance ou apenas uma luz no fim...