a dor do abandono corrói meu peito feito maresia

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a dor do abandono

corrói meu peito

feito maresia

um dia

quem sabe um dia

você perceba

nada é perfeito

- até ontem, seu pereira e coletivo 401

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Eu realmente espero que um dia, Namjoon, você perceba que nada, absolutamente nada nesse mundo é perfeito. Eu, você, a vida. Somos seres imperfeitos, condenados a nadar a vida inteira em um mar de imperfeições.

A vida não seria assim, se fosse de outra forma.

Eu nunca tive dificuldade de admitir os meus erros, e você sempre foi consciente de todos os meus vacilos; e, mesmo assim, nenhuma dessas coisas anula o resto.

Os nossos momentos, as nossas histórias, os nossos amores e desamores. Tudo permanece aqui, comigo, e também aí contigo, imutável, por mais que você tente fingir que não.

Agora, pensando no passado e refletindo sobre a sua ausência, eu compreendo que a dor do seu abandono corrói; ácida como o mais puro dos químicos, ela corrói meu peito feito maresia, e eu temo nunca ser capaz de me recuperar.

Porque mesmo com a tua ausência, eu ainda estou te esperando, com o seu cheiro que já era tão meu e com a tua boca, que também era minha... Até ontem. Até ontem você e eu éramos um ser só, compartilhando das desilusões desse mundo, na nossa própria bolha de amores e desamores.

E eu tô tão cansado, amor.

Já tentei de todas as formas compreender; éramos tão bons juntos. Como, então, tão de repente você se foi? De um momento para o outro, nada do que vivemos foi o suficiente para te fazer ficar e você nem se despediu, indo embora antes mesmo que eu pudesse sentir o impacto das suas palavras sobre mim, levando consigo suas roupas e toda a alegria que eu tinha.

Será que chegamos aqui através de um único erro? Ou, quem sabe, o acúmulo deles te fez se cansar? Nunca fingi não ser outra coisa que o imperfeito ser humano que sempre fui, mas talvez você possuísse suas próprias ressalvas a esse respeito.

Eu ainda sinto como se isso fosse um sonho e como se, amanhã, ao acordar, eu fosse ouvir as suas botas no corredor, o seu riso inconfundível ou, quem sabe, as suas conversas em inglês consigo mesmo.

Mantenho esperanças de que, quando o tempo passar e as coisas voltarem ao seu lugar, você volte a preencher esse vazio em que me deixou. Preencher as lacunas desse apartamento vazio, antes tão cheio de você, e agora apenas com a minha (in)existência apática e letárgica.

É difícil para mim me acostumar com a sua falta. Meu cérebro não calculou direito a rota que se seguiu depois do nosso último diálogo e eu ainda te sinto aqui, comigo.

Ainda consigo sentir o seu calor na minha cama, o seu gosto na minha boca e a sua presença, tão única, pelos corredores do nosso apartamento.

Do meu apartamento.

Eu já te pedi perdão, Namjoon, mas mesmo que eu insista, você não tenta me entender; será que é muito te pedir que, por favor, tente entender? Você nunca teve dificuldades em me compreender, então o que mudou de lá pra cá? Você realmente acredita que um mísero vacilo vai anular todos os sorrisos e suspiros que compartilhamos?

É tarde dizer e temo que eu não tenha dito o suficiente, mas eu te amo, meu amor.

Você acredita quando eu digo?

Você percebe a dor que me corrói? Meu peito, antes tão cheio do seu amor, se esvai pouco a pouco nessa maresia sem fim.

Engraçado pensar que sempre amamos a praia, porque sinto como se você tivesse me deixado à deriva no mar; apenas eu, minha dor, o oceano do abandono e a maresia.

O que será que de tão errado eu fiz para merecer o seu silêncio?

Se voltássemos no tempo, o que exatamente eu deveria fazer para evitar esse destino? Aguardo, tolamente, que você volte com essas respostas.

Ainda te espero, e tenho esperanças de que um dia, quem sabe um dia, você perceba que nada é perfeito.

até ontem » namgiOnde histórias criam vida. Descubra agora