30 - Como Um Bebé que Chora a sua Existência

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Junho, 1884


Ezekiel esperava todas as manhãs à porta de casa pelo Profeta Diário, enquanto fumava o seu cigarro à sombra do alpendre.

Eram sete quando o correio chegou.

Mas não era o Profeta.

Reconheceu a coruja imediatamente: era de Hogwarts. Atirou o cigarro ao chão e esmagou a beata com o calcanhar. Jacob já se tinha formado e ingressado no Ministério, onde conseguira uma vaga no Departamento de Execução das Leis Mágicas.

A carta só podia ter um motivo, e esse motivo alimentou a sua fúria, tornando-a quase palpável.

Cordelia não precisava estar diante de Ezekiel para saber o que estava por vir. Sentia-o no sangue, uma onda de tensão que se espalhava como um arrepio gelado. A imagem do que estava prestes a acontecer surgiu-lhe como um vislumbre vívido.

Parou a meio das escadas e soltou a mão da pequena Morgana.

— Volta para o teu quarto e fecha-te lá dentro, querida — instruiu com uma dureza atípica. — Agora.

Morgana nunca tinha ouvido a mãe soar tão dura nos seus onze anos de vida. Não contestou nem colocou qualquer pergunta. Deu meia volta e correu para o seu quarto.

Cordelia só retomou a descida quando ouviu a porta bater. Nesse mesmo instante, Ezekiel entrou em casa a gritar pelo seu nome. Ela endireitou-se, fingindo uma calma que não sentia, e desceu o resto das escadas, como se não soubesse de nada.

— Tanto alvoroço logo pela manhã, marido. Qual o motivo de tamanha agitação?

O olhar colérico de Ezekiel travou-a a meio do corredor. Ele agitava a carta na mão, encurtando a distância com largas e pesadas passadas. O som dos sapatos reverberava como uma contagem regressiva para o desmoronar de tudo.

O sangue abandonou o rosto de Cordelia ao ver o selo de Hogwarts.

— Queres explicar-me o que se passa, esposa? — exigiu ele, a voz carregada de escárnio.

Contar ou não contar a verdade. Independentemente da escolha, Ezekiel iria tentar arrancá-la pelos seus próprios métodos. Se fosse só por isso, não se daria ao trabalho de lhe contar. Contudo, havia muito mais em jogo do que o seu pequeno segredo, agora descoberto.

— Achava que éramos uma dupla, Cordelia. Achava que querias ajudar-me a tornar o mundo mais justo, limpá-lo dos impuros e trazer a nós, abençoados por uma magia maior e mais poderosa, a glória que merecemos. — Deu um passo atrás, com uma mão sobre o peito numa falsa demonstração de dor. — Estava enganado. Redondamente enganado em confiar em ti.

Cordelia esboçou um sorriso de pouca dura.

— Não me iludes. Não mais.

A mão no peito de Ezekiel estendeu-se na direção de Cordelia, e uma força invisível lançou-a para trás com brutalidade. Dor irrompeu pela sua coluna quando bateu contra a moldura da porta.

— A tua missão era muito simples, Cordelia, e ainda fui benevolente em deixar-te escolher. Tu escolheste, é verdade. Escolheste falhar. Traíste a minha confiança, traíste a minha lealdade.

Cordelia, com a voz fraca, sussurrou:

— Tu nunca foste leal a ninguém, a não ser a ti próprio.

Piscou os olhos, tentando focar-se, mas a figura de Ezekiel permanecia enevoada. Ele avançou e agarrou-a pelos cabelos, forçando-a a encará-lo. Os seus olhos azuis perfuravam-na com uma intensidade cruel, um brilho implacável que a cegava.

Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)Onde histórias criam vida. Descubra agora