Junho, 1884
Ezekiel esperava todas as manhãs à porta de casa pelo Profeta Diário, enquanto fumava o seu cigarro à sombra do alpendre.
Eram sete quando o correio chegou.
Mas não era o Profeta.
Reconheceu a coruja imediatamente: era de Hogwarts. Atirou o cigarro ao chão e esmagou a beata com o calcanhar. Jacob já se tinha formado e ingressado no Ministério, onde conseguira uma vaga no Departamento de Execução das Leis Mágicas.
A carta só podia ter um motivo, e esse motivo alimentou a sua fúria, tornando-a quase palpável.
Cordelia não precisava estar diante de Ezekiel para saber o que estava por vir. Sentia-o no sangue, uma onda de tensão que se espalhava como um arrepio gelado. A imagem do que estava prestes a acontecer surgiu-lhe como um vislumbre vívido.
Parou a meio das escadas e soltou a mão da pequena Morgana.
— Volta para o teu quarto e fecha-te lá dentro, querida — instruiu com uma dureza atípica. — Agora.
Morgana nunca tinha ouvido a mãe soar tão dura nos seus onze anos de vida. Não contestou nem colocou qualquer pergunta. Deu meia volta e correu para o seu quarto.
Cordelia só retomou a descida quando ouviu a porta bater. Nesse mesmo instante, Ezekiel entrou em casa a gritar pelo seu nome. Ela endireitou-se, fingindo uma calma que não sentia, e desceu o resto das escadas, como se não soubesse de nada.
— Tanto alvoroço logo pela manhã, marido. Qual o motivo de tamanha agitação?
O olhar colérico de Ezekiel travou-a a meio do corredor. Ele agitava a carta na mão, encurtando a distância com largas e pesadas passadas. O som dos sapatos reverberava como uma contagem regressiva para o desmoronar de tudo.
O sangue abandonou o rosto de Cordelia ao ver o selo de Hogwarts.
— Queres explicar-me o que se passa, esposa? — exigiu ele, a voz carregada de escárnio.
Contar ou não contar a verdade. Independentemente da escolha, Ezekiel iria tentar arrancá-la pelos seus próprios métodos. Se fosse só por isso, não se daria ao trabalho de lhe contar. Contudo, havia muito mais em jogo do que o seu pequeno segredo, agora descoberto.
— Achava que éramos uma dupla, Cordelia. Achava que querias ajudar-me a tornar o mundo mais justo, limpá-lo dos impuros e trazer a nós, abençoados por uma magia maior e mais poderosa, a glória que merecemos. — Deu um passo atrás, com uma mão sobre o peito numa falsa demonstração de dor. — Estava enganado. Redondamente enganado em confiar em ti.
Cordelia esboçou um sorriso de pouca dura.
— Não me iludes. Não mais.
A mão no peito de Ezekiel estendeu-se na direção de Cordelia, e uma força invisível lançou-a para trás com brutalidade. Dor irrompeu pela sua coluna quando bateu contra a moldura da porta.
— A tua missão era muito simples, Cordelia, e ainda fui benevolente em deixar-te escolher. Tu escolheste, é verdade. Escolheste falhar. Traíste a minha confiança, traíste a minha lealdade.
Cordelia, com a voz fraca, sussurrou:
— Tu nunca foste leal a ninguém, a não ser a ti próprio.
Piscou os olhos, tentando focar-se, mas a figura de Ezekiel permanecia enevoada. Ele avançou e agarrou-a pelos cabelos, forçando-a a encará-lo. Os seus olhos azuis perfuravam-na com uma intensidade cruel, um brilho implacável que a cegava.
![](https://img.wattpad.com/cover/358214939-288-k318209.jpg)
VOCÊ ESTÁ LENDO
Masquerade (Morgana Malfoy x Aesop Sharp)
FanficA vida é como um baile de máscaras. Escondemos quem somos, o que somos. Dançamos ao som da música: por vezes a nossa, por vezes a dos outros. Nesta dança, Morgana Malfoy descobre que não só ela, mas também todos à sua volta vestem uma máscara para e...