O sol já despontava no horizonte quando Bedelia retornou à mansão, o coração ainda acelerado pelos eventos da noite. Cada passo que dava em direção ao quarto parecia uma lembrança do beijo que compartilhara com William, das palavras que haviam trocado e da promessa implícita de que aquilo não terminaria ali.
Mas, no fundo, ela sabia que o mundo ao qual pertenciam não permitia romances tão impetuosos e desafiadores. As obrigações, os deveres e as alianças políticas pairavam como uma sombra sobre eles. Porém, naquela noite, Bedelia havia se permitido sonhar com algo além disso. Havia se permitido acreditar que poderia existir algo verdadeiro entre eles, mesmo que secreto.
Os dias seguintes pareciam correr em um misto de ansiedade e saudade. Bedelia e William não se encontravam abertamente, mas trocaram mensagens discretas, combinando novos encontros às escondidas. O rio, a clareira e as sombras da noite tornaram-se cúmplices de um amor que florescia no escuro, longe dos olhares vigilantes das famílias e da sociedade.
Certa manhã, entretanto, uma nova realidade se abateu sobre Bedelia como uma onda fria. Seu pai entrou no salão principal com uma expressão grave, segurando um jornal que trazia uma notícia inesperada.
— Bedelia, temos algo a discutir — disse ele, sua voz rígida. — Aparentemente, a família Rochester fez um anúncio oficial ontem à noite. William Rochester está noivo de Emilia Turner, filha do Barão Turner. A união será formalizada dentro de semanas.
O mundo de Bedelia pareceu congelar naquele instante. Noivo? William não havia mencionado nada sobre isso. Seu coração afundou, a ideia de que ele pudesse ter se comprometido com outra sem que ela soubesse machucava mais do que poderia admitir.
— Isso... não pode ser verdade — ela sussurrou, tentando manter a compostura. — William não me disse nada sobre isso.
— E por que ele lhe diria? — O pai dela ergueu uma sobrancelha, surpreso com a reação dela. — Você sabe como essas coisas funcionam. Casamentos são alianças. A família Turner é poderosa e influente. A união deles será benéfica para os Rochester.
Bedelia se sentiu sufocada por suas palavras. Ela sabia como funcionava aquele mundo. Casamentos eram contratos, uma moeda de troca para consolidar poder e riquezas. Mas ouvir isso sobre William, logo depois de terem trocado juras de segredo, foi um golpe que a deixou sem fôlego.
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Naquela mesma tarde, Bedelia decidiu confrontar William. Marcaram um novo encontro na clareira, e, apesar de suas dúvidas e do medo de que tudo fosse verdade, ela estava determinada a entender o que estava acontecendo.
William já a esperava, de pé à beira do rio, como nas outras vezes. Quando Bedelia apareceu, ele se virou para ela com uma expressão que misturava culpa e desespero.
— Eu soube do noivado — disse ela, sem rodeios, seu tom mais firme do que imaginava.
William respirou fundo, os ombros tensos.
— Bedelia, não era para você descobrir dessa maneira — ele começou, dando um passo em sua direção. — Meus pais... eles arranjaram tudo sem que eu tivesse qualquer voz. Emilia é uma escolha política. Não há amor nisso, apenas interesses.
— E o que isso significa para nós? — A voz dela tremeu, o medo e a dor tomando conta de suas palavras.
Ele segurou suas mãos, seus olhos fixos nos dela, como se procurasse algo que pudesse acalmá-la. — Isso não muda nada entre nós, Bedelia. Eu juro. Não quero Emilia, não a amo. Só existe você. Sempre foi você.
Bedelia queria acreditar. Queria desesperadamente se agarrar às palavras dele, mas o peso da realidade era inescapável. William estava destinado a casar-se com outra mulher, e eles dois permaneceriam presos em um romance que nunca poderia ver a luz do dia.
