Lembranças do passado

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Eles estavam ao meu redor, rondando como lobos famintos por carne fresca. O corredor afastado naquela escola, mal iluminado e longe dos olhos de todos, foi meu maior tormento naquele dia, e iria me atormentar para o resto da vida.

Ainda podia me lembrar de cada palavra maldosa, dos olhares maliciosos e da sensação sufocante de ser pressionada. Me sentia tão pequena perto deles, três brutamontes musculosos... Que na verdade, tinham músculos ao invés de cérebros. E mesmo assim, me sentia tão encurralada, sem ninguém ali para me ajudar.

Mas... Quem me ajudaria? A vida inteira foi assim. Não me lembro se alguém já me estendeu a mão antes, ou demonstrou cuidado e preocupação comigo. Os olhares me cercavam por onde eu andava naquela maldita escola, mas não sei qual era pior, os dos garotos ou das garotas.

Seja o que for, ou o quanto eu tivesse tentado evitar, acabei chamando atenção desses imbecis. E agora, tinha um mal pressentimento sobre o que ia acontecer.

-O que vocês querem? Eu tenho que ir para a minha aula- respondi de forma ríspida, enquanto recuava alguns passos para trás-

-Sua professora não vai se importar se você atrasar um pouco, princesa- o do meio respondeu, enquanto ele e os outros dois se aproximaram ainda mais-

-Olhem só para ela, está até tremendo!- o comentário me deixou ainda mais trêmula, não estando confortável com aquele tipo de proximidade-

-Não se preocupe, princesa. Você vai gostar do que vamos fazer - as palavras deles me deixaram congelada, e por instinto, fui recuando lentamente para trás-

Me vi sem saída, quando minhas costas bateram contra a parede. Olhei para eles nervosa, completamente aterrorizada.

-Não, não se aproximem...- cada um foi para um lado, segurando meus braços, enquanto o terceiro se aproximou, tentando me beijar a força- Não toquem em mim!

Chutei no meio das pernas dele, o fazendo se ajoelhar no chão de dor. Pela surpresa deles, tive oportunidade de dar um soco no rosto de um, mas não tive tanta sorte com o outro. Fui agarrada por trás, e enquanto me debatia, fiquei atordoada ao receber um soco forte em meu rosto.

Cuspi sangue, manchando o piso branco com gotas vermelhas. Senti o líquido escorrer das minhas narinas, o gosto do ferro invadindo minha boca. Fui agarrada fortemente pelos cabelos, me fazendo olhar para os três.

Eles estavam furiosos, e era claro que iriam descontar a raiva em mim... Não seria diferente do que todos tem feito comigo mesmo. Não seriam os primeiros a me usarem e depois me jogarem fora como se eu não fosse nada.

Ele tomou meus lábios de forma agressiva, e naquele momento, senti nojo. Nojo deles, da minha vida, de mim mesma... Mas o beijo não durou muito, já que tinha sangue em minha boca. Ele não deve ter gostado desse sabor exótico.

Logo, eles avançaram para as minhas roupas... Não lembro o que pensei naquela hora, mas me lembro de desejar gritar, chorar e implorar para eles não fazerem aquilo comigo. Quantas vezes terei que derramar mais lágrimas pelos outros? Quantas vezes vou conseguir aguentar esse tormento? Nem eu sei.

A verdade, é que eu não tive reação alguma, ou pensamento específico. Tudo o que lembro, foi ter o choque quando minha blusa foi rasgada, revelando uma parte do meu sutiã. Diante dos olhos dos três, eu era tocada como um simples objeto, pronta para ser experimentada e usada.

Não suportava aquela situação, e por um momento... Perdi a cabeça. Perto de mim, tinha uma pia que as cantineiras lavavam a louça do almoço. Eu não sei aonde eu estava com a cabeça, mas eu peguei uma faca, e minha visão se escureceu.

Esfaquiei eles, acertando a perna de um, o braço do outro, o ombro do terceiro... Quando me vi, minha blusa branca estava com manchas avermelhadas, e o líquido viscoso escorria em minhas mãos. Comecei a respirar de forma descontrolada, antes de largar a faca no chão e sair correndo pelo corredor.

Não ouvia nada ao redor, mas todos devem ter ficado aterrorizados, vendo uma garota correr por alí, com sangue em suas mãos e roupas. Tudo passou perante os meus olhos, o filme da minha vida inteira... E não, nada emocionante ou lindo de se lembrar.

Eu gostaria tanto de não ter vindo nesse mundo, gostaria tanto de nunca ter feito parte disso, de poder esquecer de cada segundo que passei respirando nesse planeta...

-Arielly, acorda!- ouvi minha mãe chamar meu nome, de uma forma bem fofa se vocês me entendem-

Levantei lentamente a cabeça do vidro do carro, e olhei para o lado de fora, vendo a estrada que estávamos percorrendo a horas.

Sonho? Pesadelo? Não, lembrança. Tudo aquilo ocorreu, tudo foi real, por pior que tivesse sido. Talvez fosse apenas o início do meu inferno, mas que diferença faz? Eu já estou nessa tormenta mesmo, e sei que nada me tiraria disso, nada poderia me salvar.

A esperança não é para todos, e nesse caso, duvido que minha luz uma vez ousou brilhar...

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