Não sei porque, mas nunca me encaixei em lugar algum. Minha família se desfez quando eu era bem jovem. Foi um motivo como o de quase todos que se separam: "brigas e traição"Quem traiu quem? Foi meu pai? Ou foi minha mãe? Eu não sei, e cansei de tentar descobrir a verdade. Meu pai não quis minha guarda, e fugiu com uma mulher mais nova, uma colega de trabalho. Minha mãe tem minha guarda desde os oito anos de idade, e me criou sozinha. Guerreira? Amorosa? Mãe perfeita?
Eu não tive a atenção dela, enquanto a via trocar de namorado, conversar com outros homens, sair para beber e tudo mais... Eu também nunca fui muito boa na escola. Uma aluna mediana, isolada por não conseguir entrar em nenhum grupinho. E claro, isso me levou a começar a sofrer bullying. Eu era o alvo preferido dos valentões, que viviam me batendo e me humilhando.
Garotas? Todas debochavam de mim, me botavam para baixo. Tinha um grupo em específico que aprontou diversas situações falsas para mim. O que minha mãe fez? O que a escola fez? Nada, absolutamente nada. Minha mãe estava sempre ocupada demais, e a escola? Se importava com o dinheiro que os pais deles pagavam. Ou seja, eles podiam fazer o que quisessem comigo, desde que pagassem tudo direito.
Mas minha mãe não fez nada sobre as agressões? Não, já que ela também me batia. Me batia para descontar sua raiva e frustrações, ao ponto de deixar marcas roxas em minha pele. Tudo piorou quando cheguei na adolescência, e os garotos passaram a me olhar de forma diferente. Estava criando corpo, meus hormônios estavam me fazendo mudar, virando a garotinha de antes, e me transformando em uma mulher.
Diversas vezes, fui assediada e não pude contar para ninguém, porquê para quem eu contaria? Eu estava aguentando tudo calada, até aquele dia que quase... Aqueles três já tinham passagem na polícia, então não aconteceu nada comigo, já que tinha sido em legítima defesa.
Mas minha mãe, envergonhada comigo, mudou nós duas para uma cidade afastada. Talvez seja melhor assim, recomeçar as coisas, deixar o passado para trás... Talvez tenha uma pequena esperança em tudo isso.
Observei pelo vidro escuro do carro, quando chegamos na cidade que iríamos viver de agora em diante. Não era tão ruim, tinha áreas verdes, cheia de parques e lugares de lazer. Sorveterias, lojas, shopping, livrarias... Não vai ser tão ruim assim.
Após tanto percorrer a cidade, minha mãe parou o carro na frente de uma casa antiga, e por ainda estar amanhecendo, continha neblina.
-Anda logo, me ajuda a tirar as coisas do carro- minha mãe saiu do carro, e fui obrigada a sair também-
Observei o lado de fora da casa, vendo o ar estranho e misterioso que emanava ao nosso redor. Não era apenas pela neblina, tinha algo alí.Atravessei com as malas pelo portão de ferro antigo, enquanto observava tudo ao redor. Ao adentrar pela porta, parei imediatamente alí, parando em seu batente. Eu sei, nunca devemos ficar parados na porta de uma casa sinistra, mas eu sinto algo, um arrepio me percorreu, e por um momento, senti uma sensação estranha.
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As Vozes Da Minha Mente
EspiritualDesde pequena, Arielly viu, sentiu, e ouviu coisas que nem todos conseguem perceber. Viveu uma vida cercada de decepções e da maldade do mundo, onde foi exposta a falsidade e frieza que o ser humano é capaz de ter. Se não bastasse apenas os vivos...