1996, 17 de julho.
Pacific Division Police Station— Venice Beach, LA.Ethan está sentado à mesa, as mãos entrelaçadas, olhando fixamente para o chão. A sala de interrogatório é pequena e opressiva, com as paredes brancas que refletem a luz fria das lâmpadas fluorescentes. O investigador, que observou o comportamento de Caleb, agora se volta para Ethan, que parece mais jovem e vulnerável, com os cabelos desarrumados e um olhar que oscila entre a determinação e a fragilidade.
— Ethan, vamos começar de novo. Me fale sobre aquela noite. — A voz do investigador é calma, mas há um tom de urgência que indica que ele não se contentará com respostas vagas.
Ethan levanta os olhos, fixando-os no investigador, tentando mostrar uma confiança que não sente. Ele sabe que precisa ser forte, mas a dor de perder os pais ainda é fresca, e a realidade do que aconteceu pesa sobre ele como uma sombra.
— Eu... — ele hesita, lembrando-se de cada detalhe. — Nós estávamos no cinema, assistindo a um filme. Era só isso. — Ele fala de forma monótona, tentando não deixar transparecer o turbilhão de emoções dentro dele.
O investigador observa, analisando o jovem. Ethan tem um ar mais sensível; seus olhos castanhos são grandes e expressivos, e sua pele clara contrasta com a intensidade da situação. O investigador nota como a postura de Ethan é defensiva; ele se encurva um pouco, como se estivesse tentando se proteger de algo invisível. Há um pingo de maldade na situação, mas o investigador sente que há algo mais profundo por trás daquela fachada.
— O filme acabou por volta das onze e meia, certo? Como vocês estavam se sentindo quando voltaram para casa? — A pergunta é propositada, como um golpe para ver se Ethan se quebra.
Ethan engole em seco. — Estávamos... apenas cansados, eu acho. — Ele desvia o olhar, olhando para o chão. A visão dos pais ainda assombra sua mente, mas ele não pode deixar isso transparecer. Ele não quer parecer fraco, não na frente do investigador.
— E quando chegaram em casa? O que aconteceu? — O investigador continua, sua voz firme.
— A porta estava entreaberta. — A resposta sai baixa, quase inaudível. — Eu pensei que... que eles esqueceram de trancar. Entramos e... — Ele hesita, e sua voz falha. — Eles estavam lá.
O investigador nota a dificuldade de Ethan em expressar seus sentimentos. Ele se lembra da cena em que encontrou os pais. Um momento que deveria ser sagrado se transformou em um pesadelo. E, no entanto, ele mantém uma fachada. A forma como o jovem se esforça para não chorar, mesmo que as lágrimas pareçam prestes a brotar, indica que ele está lutando contra a dor.
— E você se lembra do que fez em seguida? — O investigador pergunta, a tensão no ar quase palpável.
— Eu... não sei... O Caleb ligou para a polícia. — A resposta vem rápida, mas Ethan percebe que a frase não é suficiente. O investigador está esperando mais, mas ele não quer revelar detalhes que possam incriminá-los. — Não tinha o que fazer. Eu só... queria que tudo voltasse ao normal.
A sinceridade nas palavras de Ethan ressoa na sala. O investigador analisa o jovem mais uma vez, percebendo a complexidade de sua mente. A fragilidade é palpável, mas por trás disso, há uma centelha de algo que não consegue identificar.
— O que você sentiu ao ver seus pais mortos? Como isso o afetou? — A pergunta é direta, quase impiedosa.
— Eu não sei... — Ethan balança a cabeça, como se tentasse afastar a dor. — Foi horrível. Eu não consigo acreditar que aconteceu. — Ele faz uma pausa, seu olhar se perdendo em algum lugar distante. — O que eu queria era que eles estivessem bem, mas... não estavam. Eu só queria que... tudo fosse diferente.
O investigador continua a observá-lo. Ele percebe que Ethan é um garoto que carrega o peso do mundo nos ombros. O olhar vazio, a fragilidade disfarçada e a necessidade de proteção em suas palavras revelam um garoto que foi moldado por experiências traumáticas, mas que também tem um profundo desejo de ser amado e aceito.
— E quanto ao seu irmão? Como você se sente em relação ao que aconteceu? — O investigador faz a pergunta com intenção, querendo entender o laço que une os dois irmãos.
Ethan hesita novamente. — Ele sempre cuidou de mim. — A devoção é clara em suas palavras, mas a tristeza também. Ele não quer admitir que isso os marcou para sempre, que a culpa está entrelaçada com seu amor.
O investigador anota rapidamente, percebendo que há mais em Ethan do que aparenta. Ele está lidando com uma complexidade emocional que nem ele mesmo consegue entender completamente. A batalha entre a culpa e a proteção fraternal é evidente, e o investigador se pergunta como esses irmãos conseguiram sobreviver a uma tempestade tão feroz.
Ethan, agora perdido em seus pensamentos, sente que o que realmente precisa é de liberdade. Ele não quer que suas ações definam quem ele é, mas a verdade está presa dentro dele, um peso que ele não pode se permitir carregar por muito mais tempo.
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𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐎𝐅 𝐆𝐔𝐈𝐋𝐓.
Mystery / Thriller𝆹𝅥 ⸺ 𝐈𝐑𝐌𝐀̃𝐎𝐒 𝐃𝐎𝐍𝐎𝐕𝐀𝐍. Em meio ao glamour e à superficialidade de um condomínio de luxo em Los Angeles, Ethan e Caleb Donovan, dois irmãos de uma família rica, vivem sob o peso de um passado sombrio. Desde a infância, eles enfrentaram as...