𝐓𝐇𝐄 𝐖𝐄𝐈𝐆𝐇𝐓 𝐎𝐅 𝐆𝐔𝐈𝐋𝐓.

𝟎𝟐 - O PESO DO TEMPO.

AVISO DE CONTEÚDO SENSÍVEL.

Este capítulo contém menções a temas delicados, incluindo abuso físico, psicológico e verbal, além de traumas familiares. O texto explora o impacto dessas experiências nos personagens e suas consequências emocionais. Embora o conteúdo seja tratado com seriedade, pode ser perturbador para alguns leitores.

SE VOCÊ TEM SENSIBILIDADE A ESSES TEMAS, RECOMENDO CAUTELA AO PROSSEGUIR.

TENHA UMA ÓTIMA LEITURA!

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1996, 20 de julho.
Piece Brothers Westwood Village Memorial Park — Venice Beach, LA.

O funeral aconteceu em um dia frio e cinzento, um contraste marcante com o habitual clima ensolarado de Los Angeles. A cidade, normalmente vibrante, parecia silenciada, como se estivesse de luto junto com Caleb e Ethan Donovan. Os dois irmãos estavam lado a lado, mas havia um abismo de silêncio entre eles. Caleb, com 19 anos, mantinha-se firme, o rosto impassível, olhando fixamente para os caixões que desciam à terra. Suas mãos estavam cruzadas, seus gestos contidos. Era como se tivesse assumido para si a responsabilidade de manter a calma, de ser a rocha.

Ethan, com 17 anos, parecia perdido em outro mundo. Sua postura era curvada, seus olhos fixos no chão. Ele ouvia os murmúrios ao redor como ecos distantes, sem realmente captar o significado das palavras. Havia algo surreal em tudo aquilo, como se estivesse preso em um pesadelo do qual não conseguia despertar. Sentia as lágrimas queimando em seus olhos, mas não chorava. Não ali, não naquele momento.

— Coitados, tão jovens... agora são órfãos — murmurou uma mulher atrás deles.

Caleb ouviu, mas não reagiu. Aquilo não importava. O que importava era o que vinha a seguir: o que ele e Ethan teriam de enfrentar sozinhos. Sentiu o peso da mão de um parente em seu ombro, palavras de conforto sendo ditas, mas ele apenas assentiu mecanicamente. Sua mente estava em outro lugar, perdida no emaranhado de sentimentos conflitantes que o consumiam.

Enquanto os caixões eram baixados, Caleb soltou um suspiro pesado. Ele olhou para o irmão ao seu lado, e sem dizer nada, pousou a mão sobre o ombro de Ethan, apertando-o levemente. Ethan retribuiu o gesto com um olhar vago, quase como se não o tivesse sentido. Caleb sabia que as palavras seriam inúteis. O que quer que dissessem, o que quer que fizessem, nada mudaria o fato de que, a partir daquele momento, os dois estariam sozinhos.

O cortejo fúnebre se dispersou, mas Caleb e Ethan ficaram para trás, observando os últimos momentos da cerimônia. Ethan tremia, os braços cruzados contra o corpo, o olhar perdido no horizonte. Caleb não o pressionou. Sabia que não havia mais nada a ser dito. A vida que conheciam tinha acabado.

1998, 23 de março.
Hillcrest Estates — Venice Beach, LA.

Dois anos se passaram desde o funeral. A grande casa dos Donovan em Los Angeles, com suas amplas janelas e longos corredores, continuava inalterada, exceto pela atmosfera que havia mudado drasticamente. O silêncio era pesado, denso, como se a casa em si tivesse absorvido o trauma do que aconteceu. O dinheiro deixado pelos pais sustentava uma vida de conforto e luxo, mas nem mesmo a fortuna era capaz de preencher o vazio que pairava sobre os irmãos.

Caleb, agora com 21 anos, se adaptara mais facilmente à nova realidade. Com o tempo, ele aprendeu a se envolver com os aspectos mais práticos da herança, a administrar a fortuna e a aproveitar a liberdade que ela proporcionava. Seu círculo social cresceu, e as festas em sua casa eram frequentes, preenchendo temporariamente o vazio com música alta e risadas. Para quem olhasse de fora, ele parecia ter encontrado uma maneira de seguir em frente, mas as sombras de seu passado nunca o deixavam completamente.