Capítulo 1 - Pequeno JJ.

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HAZEL MCCARTNEY

15:34

Eu estava afundada na cadeira de balanço, JJ encolhido nos meus braços, brincando de puxar o meu cabelo como se fosse algum brinquedo de morder. Ele só tinha dois anos, então tudo pra ele parecia ser brinquedo.

— Ei, garotão, vai arrancar outro pedaço? — murmurei, fazendo uma careta, mas não conseguindo evitar o riso. — Já não chega que tá caindo sozinho, né?

Ele soltou uma risadinha, sem entender nada, obviamente. Só achava graça porque eu fazia barulho estranho e então, ele puxou meu cabelo de novo, dessa vez com mais força.

— JJ, se você arrancar esse aqui, não vai ter mais pra Dina puxar quando ficar brava comigo. — Suspirei, fingindo drama. — E, ó, vou te contar uma coisa... não seria legal me deixar careca, tá?

JJ respondeu do jeito dele, balbuciando umas palavras que não faziam sentido e rindo de novo.

Dina saiu cedo pra pegar umas cestas com a galera da padaria nova que abriram na comunidade. Padaria! Quem diria, né?

O apocalipse rolando lá fora e a gente aqui comprando pãozinho fresco. Vai entender.

Então, enquanto ela tava fora, eu fiquei com o pequeno. Não que eu tivesse muita escolha, mas até que ele era boa companhia. Melhor que muito adulto que conheço, pelo menos ele não me enche o saco com conversa fiada.

Eu olhava pra rua enquanto o sol subia devagar, iluminando as casinhas e as pessoas que iam e vinham, tipo formiguinhas ocupadas. Jackson parecia um lugar normal, quase dava pra esquecer o mundo destruído lá fora. Quase.

Todo mundo por aqui meio que se acostumou com isso, como se fosse parte do nosso "novo normal". É bizarro.

JJ, claro, tava alheio a qualquer pensamento profundo. Ele só queria continuar puxando meu cabelo.

— Se você continuar assim, vai acabar sem jantar! — Apontei, segurando a mãozinha dele. — Tá, isso foi mentira, eu nunca ia fazer isso com você, mas só entre nós, beleza? — Dei uma risadinha, e ele respondeu com um gritinho animado.

Acho que, no fundo, eu tava curtindo essa bagunça toda. Quem diria, né? Hazel McCartney, babá de criança... e até que eu era boa nisso.

Enquanto eu estava alheia a situação, nem percebi que Dina se aproximava, só fui notar quando ela já estava parada ao meu lado, com uma cestinha de palha nas mãos, coberta por um pano azul.

— Olha só quem chegou —  balancei o pequeno, apontando para a morena — a mamãe tá na área!

Dina apenas riu, negando com a cabeça, enquanto se aproximava e se sentava ao meu lado, na outra cadeira de balanço.

— Como tá meu pequeno bagunceiro? — ela sorriu, segurando a mãozinha de JJ, que apenas dava risadinhas e fazia barulhos com a boca, quase babando.

— Ah, ele tá bem. A gente tava tendo um papo legal. — comentei, olhando para Dina com um sorriso

— Demorei mais que o normal, o pessoal ficou animado com as coisas lá. — ela comentou, agora me observando.

E antes que eu pudesse responder, ela se inclinou, me dando um selinho.

— E como você tá? — ela continuou, mas eu não consegui responder de primeira, fui totalmente pega desprevenida.

— Eu... tô legal. — sorri, meio envergonhada.

Dina se ajeitou na cadeira ao meu lado, enquanto JJ esticava a mãozinha na direção dela, balbuciando um som que parecia algo como "mamamama". Não vou mentir, era fofo pra caralho.

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